Marinella Perroni, professora de Novo
Testamento no Pontifício Ateneu de Santo Anselmo, foi por anos
presidente da Coordenação das Teólogas Italianas, não consegue esconder o
seu espanto com a saída do armário do padre polaco, teólogo, Charamsa, que atuava na Congregação para a Doutrina da Fé, desde 2003, então sob a direção do cardeal Joseph Ratzinger.
Precisamente ela que é conhecida por ter assumido posições corajosas,
inteligentes, provocativas sobre a necessidade de mudanças na Igreja na
esteira do Vaticano II, desta vez pede tempo. "É preciso entender o que se esconde detrás deste gesto tão inaudito".
A entrevista é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 04-10-2015. A tradução é de IHU On-Line.
Eis a entrevista.
Há algo que não a convence no gesto de Charamasa?
Pessoalmente me deixou perplexa a modalidade de todo o evento. A
modalidade escolhida não me é clara. Foi feita uma saída do armário na
presença da imprensa, antes de de fazê-lo na Santa Sé. E este monsenhor
trabalhou tantos anos numa instituição, celebrou a missa todas as
manhãs, diz que ama o Papa. Talvez tivesse sido mais correto e leal
anunciá-lo aos seus superiores. Uma questão de metodologia.
Ele lhe pareceu sincero?
Eu não o conheço pessoalmente. Vi a entrevista dele gravada e me
pareceu uma pessoa convencida do seu gesto, uma pessoa motivada,
sincera. Mas...
Algo lhe incomoda?
Sim, um aspecto relativo à modalidade. Estamos na vigília de um Sínodo sobre a Família muito importante, um momento em que se debaterá com grande franqueza, como o quer Francisco.
Os refletores e as atenções estão voltadas para este evento. Decidir
sair do armário precisamente por ocasião da abertura do Sínodo é
francamente algo singular. Enfim, eu me pergunto: por que ele fez isto
agora e não antes?
Talvez haja outros motivos...
Sim, talvez. Mas quem poderá dizê-lo agora? Será preciso esperar para entender melhor. Para dar uma opinião mais balizada é preciso conhecer mais profundamente a intencionalidade das pessoas, as finalidades. Somente assim podem ser avaliadas os passos dados. Somente assim poderemos ver se se trata de um homem que decidiu empreender um caminho real de libertação. Em todo caso, trata-se de um momento inédito.
Sim, talvez. Mas quem poderá dizê-lo agora? Será preciso esperar para entender melhor. Para dar uma opinião mais balizada é preciso conhecer mais profundamente a intencionalidade das pessoas, as finalidades. Somente assim podem ser avaliadas os passos dados. Somente assim poderemos ver se se trata de um homem que decidiu empreender um caminho real de libertação. Em todo caso, trata-se de um momento inédito.
Uma mudança radical?
Em certo sentiddo, sim. Este padre não é um padre qualquer, qualquer homossexual. É um prelado que trabalha na Congregação da Doutrina da Fé,
um membro da Cúria romana, um colaborador do Papa. Portanto, se trata,
do ponto de vista simbólico, de um salto notável. Impressiona. É como se
a questão dos gays na Igreja tivesse dado um salto de qualidade de um
ponto de vista pastoral para um ponto de vista subjetivo.
A senhora pode explicar melhor?
A questão posta na mesa é subjetividade dos homossexuais e não tanto a
atitude teórica e prática das atitudes para com os homossexuais.
Mas a Igreja, efetivamente, é um tanto quanto homofóbica...
Disto não há dúvida. Mas deste mal sofre toda a sociedade, a escola, a
pequena burguesia. Enfim, se vamos por estas categorias, não
terminaremos nunca de achar uma saída. Mas agora a Igreja faz as contas
com uma sexualidade dificilmente compreendida, uma homossexualidade
reprimida, tornada clandestina. Com esta saída do armário, no entanto,
há o desafio de um reconhecimento pleno.
Segundo a senhora, deste episódio a figura do Papa Francisco sai mais fraca ou reforçada?
Não sei. Seguramente Francisco já atingiu o seu
grande objetivo com uma Igreja sinodal e não colegial. Ele abriu um
verdadeiro debate e depois das décadas que vivemos na Igreja, isto é uma
grande novidade. Este mérito é de Francisco. Pensemos
nas outras questões que ele pos na mesa como o perdão para o aborto e a
nulidade dos casamentos. São sinais de uma Igreja mais dialogante.
Que efeito terá, segundo a senhora, esta saída do armário deste padre. Haverá uma cadeia de outras saídas do armário?
Há uma emotividade por detrás de cada gesto. Todos sabemos que há
religiosos que levam uma vida dupla clandestina. Sair do armário não é
fácil, sobretudo quando é necessário ter um paraquedas econômico. Nem
todos se podem permitir tal saída.
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Fonte: http://ihu.unisinos.br/noticias/547609-qnao-e-um-padre-qualquer-perplexidade-pelo-momento-e-a-modalidade-do-gestoq
Imagem da internet
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