Alan Levinovitz - Autor do livro “A Mentira do Glúten”
Milhões
de pessoas em todo o mundo estão abrindo mão do glúten. Mas, por que
mesmo? Foi a partir desse questionamento que o professor de religião e
filosofia Alan Levinovitz, da Universidade James Madison, nos Estados
Unidos, realizou uma pesquisa sobre os hábitos alimentares da sociedade
contemporânea, buscando compreender a origem de modismos e dietas
radicais. Os resultados, contemplados no livro A Mentira do Glúten – E
Outros Mitos Sobre o que Você Come, lançado recentemente no Brasil,
apontam para uma tendência cada vez maior de introduzir as narrativas
religiosas na cultura alimentar ocidental.
Em passagem por Porto Alegre, Levinovitz conversou com o caderno Vida.
Você é um estudioso de filosofia e de religião. Como chegou ao universo do comportamento alimentar?
Dentro do que estudo, identifiquei muitos padrões de comportamento semelhantes ao que vemos hoje nas dietas da moda. Existem livros de 2 mil anos atrás falando que, se você deixasse de comer grãos, arroz e outros alimentos que existiam naquele período, você viveria para sempre e evitaria doenças. Também há obras da mesma época que alegavam que o problema não eram os grãos, mas as carnes. Isso parece muito com as ideias modernas sobre dietas, nas quais pessoas competem para ter autoridade sobre o assunto e fazem promessas milagrosas.
A relação das pessoas com a comida pode ser explicada por padrões religiosos de pensamento?
Hoje vemos muita religião relacionada à comida, e isso começa no próprio uso da linguagem. Pessoas falam de prazer, culpa e pecado para se referir à comida. Além disso, na alimentação, estamos sempre buscando quem são os novos “demônios”, sejam eles o açúcar, o ovo ou o carboidrato. Não nos damos conta de que são poucos os verdadeiros demônios, como o cigarro, por exemplo. Ao entendermos esse nosso desejo de enxergar as coisas assim, de forma simplista, compreendemos um pouco mais sobre os problemas que enfrentamos hoje. Viver com esse medo de ser impuro gera estresse e doenças.
No livro, você analisa o radicalismo em relação à comida principalmente nos Estados Unidos. Como você vê os hábitos alimentares no Brasil?
Nos Estados Unidos, há muito mais paranoia. Lá, é muito difícil, por exemplo, fazer um jantar para amigos. Quase todo mundo tem alguma restrição. Praticamente todos os menus oferecem opções sem glúten. Especialistas já chegaram a concordar que há um exagero nisso, afirmando que as preferências alimentares estão se tornando tão idiossincráticas que o hábito milenar e cultural da comida, de reunir as pessoas, está ficando comprometido.
Você compara muito as celebridades atuais com os santos religiosos. Como enxerga essa relação?
Sempre buscamos nos espelhar em autoridades, exemplos. Antigamente, buscávamos ser tão bons quanto os santos e, para isso, tínhamos de fazer o bem. Hoje, todo mundo quer se parecer com a Gisele Bündchen, não é? Então, as pessoas vão seguir as coisas que ela faz e diz, na esperança de ficar como ela. Quando uma celebridade diz que parou de comer glúten, muitas pessoas vão parar de comer. Se não fizer isso, você está cometendo um pecado contra si. Não podemos deixar as narrativas religiosas sobre o bem e o mal nos guiarem nesse aspecto. Temos de nos dar conta de que estamos sujeitos a uma indústria alimentícia, que vai querer nos vender ideias e vai usar a imagem de celebridades para isso. Até mesmo os orgânicos são uma indústria, e têm interesses por trás.
Qual é o caminho para uma vida saudável?
Meu objetivo com esse livro é libertar as pessoas do pensamento de que, se elas não comprarem as coisas certas no supermercado, estarão matando seus filhos e se matando. Meu conselho é pensar em se alimentar na quarta dimensão. Hoje, existem três dimensões da comida: quantidade, com todos aqueles critérios de excessos; qualidade, com pessoas nos dizendo o que é bom e o que é ruim; e composição, que é a proteína, o carboidrato, a gordura e tudo aquilo que está nos rótulos. Mas existe uma quarta dimensão, que é o tempo. Se as pessoas querem dar um passo em direção a um estilo de vida saudável, elas têm de esquecer um pouco essas três primeiras dimensões e se focar mais no momento em que estão comendo, se estão aproveitando, se estão separando espaços do dia para preparar e desfrutar de sua comida. Dessa forma, acredito que irão não só comer menos, mas também aproveitar mais a comida. Meu recado é para as pessoas relaxarem. Se existe um consenso, é de que o estresse pode matar.
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jaqueline.sordi@zerohora.com.br
Em passagem por Porto Alegre, Levinovitz conversou com o caderno Vida.
Você é um estudioso de filosofia e de religião. Como chegou ao universo do comportamento alimentar?
Dentro do que estudo, identifiquei muitos padrões de comportamento semelhantes ao que vemos hoje nas dietas da moda. Existem livros de 2 mil anos atrás falando que, se você deixasse de comer grãos, arroz e outros alimentos que existiam naquele período, você viveria para sempre e evitaria doenças. Também há obras da mesma época que alegavam que o problema não eram os grãos, mas as carnes. Isso parece muito com as ideias modernas sobre dietas, nas quais pessoas competem para ter autoridade sobre o assunto e fazem promessas milagrosas.
A relação das pessoas com a comida pode ser explicada por padrões religiosos de pensamento?
Hoje vemos muita religião relacionada à comida, e isso começa no próprio uso da linguagem. Pessoas falam de prazer, culpa e pecado para se referir à comida. Além disso, na alimentação, estamos sempre buscando quem são os novos “demônios”, sejam eles o açúcar, o ovo ou o carboidrato. Não nos damos conta de que são poucos os verdadeiros demônios, como o cigarro, por exemplo. Ao entendermos esse nosso desejo de enxergar as coisas assim, de forma simplista, compreendemos um pouco mais sobre os problemas que enfrentamos hoje. Viver com esse medo de ser impuro gera estresse e doenças.
No livro, você analisa o radicalismo em relação à comida principalmente nos Estados Unidos. Como você vê os hábitos alimentares no Brasil?
Nos Estados Unidos, há muito mais paranoia. Lá, é muito difícil, por exemplo, fazer um jantar para amigos. Quase todo mundo tem alguma restrição. Praticamente todos os menus oferecem opções sem glúten. Especialistas já chegaram a concordar que há um exagero nisso, afirmando que as preferências alimentares estão se tornando tão idiossincráticas que o hábito milenar e cultural da comida, de reunir as pessoas, está ficando comprometido.
Você compara muito as celebridades atuais com os santos religiosos. Como enxerga essa relação?
Sempre buscamos nos espelhar em autoridades, exemplos. Antigamente, buscávamos ser tão bons quanto os santos e, para isso, tínhamos de fazer o bem. Hoje, todo mundo quer se parecer com a Gisele Bündchen, não é? Então, as pessoas vão seguir as coisas que ela faz e diz, na esperança de ficar como ela. Quando uma celebridade diz que parou de comer glúten, muitas pessoas vão parar de comer. Se não fizer isso, você está cometendo um pecado contra si. Não podemos deixar as narrativas religiosas sobre o bem e o mal nos guiarem nesse aspecto. Temos de nos dar conta de que estamos sujeitos a uma indústria alimentícia, que vai querer nos vender ideias e vai usar a imagem de celebridades para isso. Até mesmo os orgânicos são uma indústria, e têm interesses por trás.
Qual é o caminho para uma vida saudável?
Meu objetivo com esse livro é libertar as pessoas do pensamento de que, se elas não comprarem as coisas certas no supermercado, estarão matando seus filhos e se matando. Meu conselho é pensar em se alimentar na quarta dimensão. Hoje, existem três dimensões da comida: quantidade, com todos aqueles critérios de excessos; qualidade, com pessoas nos dizendo o que é bom e o que é ruim; e composição, que é a proteína, o carboidrato, a gordura e tudo aquilo que está nos rótulos. Mas existe uma quarta dimensão, que é o tempo. Se as pessoas querem dar um passo em direção a um estilo de vida saudável, elas têm de esquecer um pouco essas três primeiras dimensões e se focar mais no momento em que estão comendo, se estão aproveitando, se estão separando espaços do dia para preparar e desfrutar de sua comida. Dessa forma, acredito que irão não só comer menos, mas também aproveitar mais a comida. Meu recado é para as pessoas relaxarem. Se existe um consenso, é de que o estresse pode matar.
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jaqueline.sordi@zerohora.com.br
JAQUELINE SORDI
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4890686.xml&template=3898.dwt&edition=27758§ion=1028 31/10/215
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