Para Gene Policinski, no jornalista existe uma suposição de que os profissionais têm ego inflado e se acham muito importantes
- ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
Editor-fundador e diretor de operações do
Instituto Newseum, o museu da imprensa, em Washington, americano veio ao Rio
para dar uma série de palestras
por Marco Grillo
“Tenho 65 anos, nasci
em Indiana, Estados Unidos. Estudei jornalismo e passei por vários veículos de
comunicação. No início dos anos 1980, fui um dos fundadores do ‘USA Today’. Sou
também o editor fundador e atual diretor operacional do Instituto Newseum, o
Museu da Imprensa, em Washington”
Conte algo que
não sei.
Existe uma suposição
de que os jornalistas têm ego inflado e se creem muito importantes. Eu,
honestamente, acho que a maioria deles se vê como um meio de transmitir
notícias. Não é o salário, o poder de moldar fatos ou vaidade. É uma espécie de
prazer: você quer contar a uma pessoa algo que ela não saiba.
Quais as
principais ameaças a esta missão, hoje?
A estrutura econômica
do jornalismo é uma. Estávamos acostumados a um sistema tradicional combinando
publicidade e circulação. Menos jornalistas trabalhando também representa uma
ameaça. Há ainda as ações dos governos, quando sua narrativa oficial é
desafiada.
Como o
jornalismo pode permanecer relevante?
Essa é a pergunta do
século 21 (risos). Acho que a resposta é: tornar -se o lugar no qual as pessoas
podem confiar. Eu e você podemos encontrar milhares de fontes. Mas qual é a
única, ou quais as únicas, que vão me dar os fatos de que preciso para tomar
uma decisão? A chave para os jornalistas no século XXI é a credibilidade. Em um
mundo onde todo mundo pode falar, quem devo ouvir?
Quem?
Quem tem o compromisso
de ser o mais justo e honesto. Conforme a internet vai ficando mais madura, as
pessoas vão fazer o mesmo que fazem quando vão comprar comida: elas olham a
qualidade e a confiança. Empresas inteligentes vão observar este critério.
É mais
importante publicar antes ou publicar melhor?
O ‘instant now’ é só
marketing, não é jornalismo. Num mundo em que todos podem ser imediatos, isso
perde valor. Bons jornalistas fazem os dois. Mas publicar certo é muito mais
importante. Se há outros 50 lugares em que posso ler isso rápido, por que devo
ler você? Porque você está certo, você explica, então eu vou voltar.
Como financiar
o jornal?
Com micropagamentos.
Se eu vou ao jornal e leio uma coluna, talvez eu precise pagar alguns centavos
por isso. Caso eu leia por mais tempo, mais centavos. As pessoas gastam U$ 150
nos EUA para assistir TV a cabo. Por que não pagar para aprender sobre o mundo
a seu redor e tomar decisões?
E no que
investir?
Na equipe. Se está
fazendo um bom trabalho, ela é seu ativo mais importante. A expertise traz
pessoas para a sua publicação. O benefício a longo prazo de ter uma equipe
qualificada e um conteúdo sólido é o que vai nos manter no negócio. É preciso
coragem.
Haverá futuro
no papel?
Não lembro da última
vez em que o jornal me disse o que tinha acabado de acontecer. Mas lembro de
várias ocasiões em que os jornais me contaram por quê. Há uma função para o
papel, vai haver um lugar. Ainda há algo em segurar uma revista e ver aquela
coisa detalhada, colorida. Virar as páginas e se deparar com o que não
procurou. O papel vai encolher mas vamos vê-lo por aí.
Qual é o lugar
da opinião?
Ela é válida, mas
precisa estar claramente identificada. Tem lugar para todo mundo na tenda da
liberdade de expressão. Mas também quero um lugar que vá no meio termo. Se
Obama andar sobre as águas, a Fox vai dizer: “Ele não foi rápido o bastante”.
Já MSNBC vai dizer: “Ele faz isso o tempo todo” (risos). E ninguém vai me dizer
como ele fez, e eu preciso saber!
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Fonte:
http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/gene-policinski-jornalista-chave-do-seculo-xxi-a-credibilidade-17729049
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