Espanhol foi o convidado da penúltima palestra do ciclo, no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre
O filósofo espanhol Fernando Savater abriu sua
palestra na noite desta segunda-feira, dia 22, com um tema que ele mesmo
admitiu ser pouco original, mas nem por isso menos necessário. No
evento realizado no Salão de Atos da UFRGS, Savater discorreu sobre a
educação como a ferramenta para se criar cidadãos em uma sociedade
democrática.
— Educar não é simplesmente formar empregados e trabalhadores
qualificados em tal ou qual matéria, embora isso também seja desejável.
Mas a educação tem um projeto mais ambicioso: formar pessoas completas,
capazes de utilizar sua cidadania para reformar a própria vida
democrática — comentou.
Savater fez uma conferência breve e falou por pouco mais de meia hora
— tempo compensado pela sessão de perguntas conduzida depois sob a
mediação do reitor da PUCRS, Joaquim Clotet, espanhol e com formação na
área de filosofia, exatamente como Savater.
Savater localizou as origens da educação como ferramenta de mudança
social na Antiguidade, e lembrou que os gregos já eram preocupados com a
qualidade daquilo que era ensinado a seus cidadãos. Diferentemente do
Império Persa, que representava uma espécie de espelho da sociedade
grega e no qual as estratificações sociais eram mais rígidas, na Grécia
democrática nenhum cidadão tinha um lugar já predeterminado no esquema
social. E era esse o motivo pelo qual a educação já naquela época era
uma ferramenta fundamental
— Para os persas, não havia uma pedagogia geral. Fora da nobreza, o
bom soldado, o bom ferreiro, aprendiam o que era necessário para aquela
função que já exerciam. Quando não se tem uma sociedade tão
esquematizada, numa democracia, os lugares não são fixos, precisamos
encontrar nosso lugar na sociedade, então temos de ter uma educação mais
aberta para que elas sejam preparadas a vida. É a educação que permite
que o cidadão busque este lugar aberto na sociedade — disse.
Como também já fez em muitos de seus livros, os mais recentes
voltados a discutir problemas éticos e filosóficos em uma linguagem
voltada para jovens leitores, Savater discutiu também as mazelas da
sociedade — com especial ênfase na corrupção. A corrupção é, para ele,
um problema que traz em si duas dimensões, uma ética e outra política. A
corrupção por si não é o grande problema, para Savater, porque onde são
estabelecidas liberdades civis, é inevitável que alguns abusem delas. O
grande mal da corrupção em uma sociedade, contudo, é quando ela é
praticada em um ambiente em que a impunidade parece certa.
Durante a rodada de perguntas, Savater respondeu, com raciocínio
rápido e bom humor, perguntas sobre temas variados, como suas
características como professor ("creio que sou um bom professor porque
sou um ignorante, e os ignorantes dão melhores professores porque
compreendem a ignorância alheia e não se impacientam") ou a iniciativa
do "homeschooling", popular em alguns países, em que a educação se dá
fora do ambiente escolar e a criança é ensinada em casa. Ele não acha a
melhor ideia:
—Um dos primeiros objetivos da educação é preservar os filhos de seus
pais. — disse, arrancando risadas — não me parece bom, portanto,
submeter permanentemente os filhos aos pais. A escola ensina muito mais
do que os conteúdos aplicados nela, e sim a conviver com pessoas que não
temos razões para gostar, e que às vezes até não gostamos, mas que
precisamos respeitar.
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Foto: Foto:
Adriana Franciosi / Agencia RBS
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