quarta-feira, 7 de outubro de 2015

TOMAI E COMEI...

Bruno Franguelli*














Dias atrás me perguntaram:Você acha que a Igreja deve dar o direito de receber a Eucaristia aos divorciados em outras uniões conjugais e as outras pessoas em outros tipos de uniões “irregulares”?

Respondi imediatamente: “Não se trata de conceder o direito de receber a Eucaristia a alguém. Ela é um Dom gratuito de Deus e, sendo assim, jamais alguém pode recebê-la por direito ou merecimento, por mais santo que seja!
Introduziu-se estranhamente em nossas comunidades eclesiais - parafraseando ao contrário as palavras do Papa Francisco - a concepção de que a Eucaristia é “um prêmio para os bons” e não “um remédio para os fracos”. O Sacramento da Reconciliação, que nos regenera depois de cometer uma grave ação de infidelidade batismal, passou a ser acreditado por muitos como simples “permissão para comungar”. A Comunhão, ao invés de ser o Pão de todos, passou a ser um pão de alguns, considerados “devidamente preparados” e que se sentem “dignos”, e por isso mesmo, com o direito de recebê-la. Criou-se um falso slogan: “Para que possamos receber Jesus precisamos ter a casa limpa...” E assim, ignoramos as páginas dos Evangelhos que narram os encontros mais intensos e desconcertantes de Jesus ao redor das mesas. As mesas de Jesus foram e continuam sendo escandalosas!

Essas atitudes rígidas e arbitrárias em relação a recepção da Eucaristia são resquícios de um antigo jansenismo individualista. Nossa fé se fez egocêntrica e não comunitária. O fazei isto em minha memória é compromisso de doação.

Lembro-me de um grande amigo, já nos braços do Pai, Pe. João Batista Libanio, grande teólogo, aprendido nas coisas de Deus. Nas suas celebrações eucarísticas, após a invocação do Espírito Santo e a Consagração do Pão e do Vinho, levantava suavemente suas mãos em direção a assembleia e dizia: “Este é o momento mais solene!” E invocava o Espírito Santo sobre cada um de nós para que fôssemos também transformados no Corpo dEle, que è a Igreja. E ainda acrescentava: “E que esta se torne uma comunidade de acolhida, comunhão e de muito cuidado de uns para com os outros...”. Assim, ele nos introduzia mistagogicamente no mais profundo mistério da Igreja, e nos protegia de qualquer egoísmo ou vanglória espiritual. Conduzia-nos ao sentido último da Eucaristia: a comunhão de irmãos.

Na Eucaristia todos somos irmãos, uns dos outros. Já não há os maus e os bons, mas uma só Igreja. E deste mistério gratuito ninguém é excluído.

Volto à pergunta do início: Quem merece? Quem é digno? Quem pode? Quem não pode? Meu Deus, quanta mesquinhes! Ninguém merece nada! Tudo é dom dado de graça para pessoas limitadas e pecadoras.

Neste momento, quando nossos pastores e outros membros da Igreja estão em Roma reunidos em Sínodo, lembremos que Jesus, pastor de todos, já decidiu tudo isso na ceia de sua despedida: “Tomai TODOS e comei… Tomai TODOS e bebei...”. 
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*Nasceu em Vigo, Espanha em 01/AGO/1942. Estudou no Colégio Apóstol Santiago/Vigo. Aos 22 anos foi para o Brasil como jesuíta. Estudou: Filosofia e Pedagogia em São Paulo, e Teologia em Roma. É sacerdote desde 1972. Naturalizou-se brasileiro em 1989. Hobbies: Ler e escrever.
Fonte:  http://blogs.periodistadigital.com/terra-boa.php?cat=12870 07/10/2015

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