Bruno Franguelli*
Dias atrás me perguntaram: “Você
acha que a Igreja deve dar o direito de receber a Eucaristia aos
divorciados em outras uniões conjugais e as outras pessoas em outros
tipos de uniões “irregulares”?”
Respondi imediatamente: “Não se trata de conceder o direito de
receber a Eucaristia a alguém. Ela é um Dom gratuito de Deus e, sendo
assim, jamais alguém pode recebê-la por direito ou merecimento, por mais
santo que seja!”
Introduziu-se estranhamente em nossas comunidades eclesiais - parafraseando ao contrário as palavras do Papa Francisco - a concepção de que a Eucaristia é “um prêmio para os bons” e não “um remédio para os fracos”.
O Sacramento da Reconciliação, que nos regenera depois de cometer uma
grave ação de infidelidade batismal, passou a ser acreditado por muitos
como simples “permissão para comungar”. A Comunhão, ao invés de ser o Pão de todos, passou a ser um pão de alguns,
considerados “devidamente preparados” e que se sentem “dignos”, e por
isso mesmo, com o direito de recebê-la. Criou-se um falso slogan: “Para que possamos receber Jesus precisamos ter a casa limpa...”
E assim, ignoramos as páginas dos Evangelhos que narram os encontros
mais intensos e desconcertantes de Jesus ao redor das mesas. As mesas de Jesus foram e continuam sendo escandalosas!
Essas atitudes rígidas e arbitrárias em relação a recepção da
Eucaristia são resquícios de um antigo jansenismo individualista. Nossa
fé se fez egocêntrica e não comunitária. O fazei isto em minha memória é
compromisso de doação.
Lembro-me de um grande amigo, já nos braços do Pai, Pe. João Batista
Libanio, grande teólogo, aprendido nas coisas de Deus. Nas suas
celebrações eucarísticas, após a invocação do Espírito Santo e a
Consagração do Pão e do Vinho, levantava suavemente suas mãos em direção
a assembleia e dizia: “Este é o momento mais solene!” E invocava o
Espírito Santo sobre cada um de nós para que fôssemos também
transformados no Corpo dEle, que è a Igreja. E ainda acrescentava: “E que esta se torne uma comunidade de acolhida, comunhão e de muito cuidado de uns para com os outros...”.
Assim, ele nos introduzia mistagogicamente no mais profundo mistério da
Igreja, e nos protegia de qualquer egoísmo ou vanglória espiritual.
Conduzia-nos ao sentido último da Eucaristia: a comunhão de irmãos.
Na Eucaristia todos somos irmãos, uns dos outros. Já não há os maus e os bons, mas uma só Igreja. E deste mistério gratuito ninguém é excluído.
Volto à pergunta do início: Quem merece? Quem é digno? Quem pode? Quem não pode? Meu Deus, quanta mesquinhes! Ninguém merece nada! Tudo é dom dado de graça para pessoas limitadas e pecadoras.
Neste momento, quando nossos pastores e outros membros da Igreja
estão em Roma reunidos em Sínodo, lembremos que Jesus, pastor de todos,
já decidiu tudo isso na ceia de sua despedida: “Tomai TODOS e comei… Tomai TODOS e bebei...”.
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*Nasceu em Vigo, Espanha em 01/AGO/1942. Estudou no Colégio Apóstol
Santiago/Vigo. Aos 22 anos foi para o Brasil como jesuíta. Estudou:
Filosofia e Pedagogia em São Paulo, e Teologia em Roma. É sacerdote
desde 1972. Naturalizou-se brasileiro em 1989. Hobbies: Ler e escrever.
Fonte: http://blogs.periodistadigital.com/terra-boa.php?cat=12870 07/10/2015
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