Luis Fernando Veríssimo*
Piada antiga. Na saída do teatro onde Abraham Lincoln acaba de ser
assassinado, um repórter pergunta à sua mulher: “Fora isso, senhora
Lincoln, o que achou da peça?”.
O “fora isso”, ou uma atenção indevida ao detalhe irrelevante, pode ser adaptado.
Benito Mussolini foi o primeiro líder fascista a assumir o poder, na Europa. Seu governo despótico perseguiu opositores e minorias, instituiu a censura à imprensa e prisões arbitrárias, foi responsável pela humilhação da Itália na II Guerra e por milhares de mortes no conflito. Fora isso, foi o primeiro governante a conseguir que os trens da Itália andassem no horário.
Adolf Hitler instalou um regime de ferro na Alemanha e quis levá-lo para o resto do mundo, autorizou o extermínio de milhões de judeus e outras minorias “impuras”, lançou-se numa conquista de “espaço vital” para seu país que custou milhões de vidas e terminou com o país arrasado. Fora isso, controlou a hiperinflação alemã.
Josef Stalin lançou um plano de coletivização forçada na União Soviética que é considerado o maior exemplo de engenharia social equivocada da História, com a consequente morte, pela fome ou pela repressão, de milhões de camponeses. Fora isso, gostava de balé e era uma figura interessante.
Harry Truman desprezou a recomendação de que as bombas atômicas fossem lançadas em lugar desabitado para intimidar os japoneses e aceitou o argumento militar de que lançá-las sobre populações civis teria mais efeito. O resultado foi milhares de morte na hora, em Hiroshima e Nagasaki, e outras milhares por radiação. Fora isso, era um bom sujeito.
O “fora isso” também funciona ao contrário, quando o detalhe é o principal.
Winston Churchill era um aristocrata reacionário que incorporava, com seu corpo volumoso, o pior da sociedade de classes estanques da Inglaterra. Fora isso, como primeiro-ministro durante a II Guerra, inspirou a resistência dos ingleses com sua liderança e sua oratória.
Martin Luther King era vaidoso, mulherengo, péssimo pai e marido. Fora isso, liderou a luta pelos direitos civis dos negros americanos e arrebatou o país com sua coragem e sua autoridade moral.
Qual será o “fora isso” quando se contar a história do PT no poder, no Brasil? Dependendo de quem conta, será um desastre completo redimido apenas pelo idealismo frustrado dos que acreditaram nele ou deverá incluir a inclusão social que o partido patrocinou, o seu relativo sucesso na interiorização de médicos e outros programas assistenciais e – a estatística que deveria ser o principal parâmetro para qualquer regime, em qualquer tempo e qualquer lugar – a queda nos índices de mortalidade infantil que alcançou. Fora isso, claro, houve a corrupção.
PERTO
Li que no velório do Luiz Eduardo Dutra foram distribuídos panfletos com a frase “Petista bom é petista morto”. Me pergunto – e não me respondo porque não falo com qualquer um – se não estamos chegando perto da nossa “kristallnacht”.
O “fora isso”, ou uma atenção indevida ao detalhe irrelevante, pode ser adaptado.
Benito Mussolini foi o primeiro líder fascista a assumir o poder, na Europa. Seu governo despótico perseguiu opositores e minorias, instituiu a censura à imprensa e prisões arbitrárias, foi responsável pela humilhação da Itália na II Guerra e por milhares de mortes no conflito. Fora isso, foi o primeiro governante a conseguir que os trens da Itália andassem no horário.
Adolf Hitler instalou um regime de ferro na Alemanha e quis levá-lo para o resto do mundo, autorizou o extermínio de milhões de judeus e outras minorias “impuras”, lançou-se numa conquista de “espaço vital” para seu país que custou milhões de vidas e terminou com o país arrasado. Fora isso, controlou a hiperinflação alemã.
Josef Stalin lançou um plano de coletivização forçada na União Soviética que é considerado o maior exemplo de engenharia social equivocada da História, com a consequente morte, pela fome ou pela repressão, de milhões de camponeses. Fora isso, gostava de balé e era uma figura interessante.
Harry Truman desprezou a recomendação de que as bombas atômicas fossem lançadas em lugar desabitado para intimidar os japoneses e aceitou o argumento militar de que lançá-las sobre populações civis teria mais efeito. O resultado foi milhares de morte na hora, em Hiroshima e Nagasaki, e outras milhares por radiação. Fora isso, era um bom sujeito.
O “fora isso” também funciona ao contrário, quando o detalhe é o principal.
Winston Churchill era um aristocrata reacionário que incorporava, com seu corpo volumoso, o pior da sociedade de classes estanques da Inglaterra. Fora isso, como primeiro-ministro durante a II Guerra, inspirou a resistência dos ingleses com sua liderança e sua oratória.
Martin Luther King era vaidoso, mulherengo, péssimo pai e marido. Fora isso, liderou a luta pelos direitos civis dos negros americanos e arrebatou o país com sua coragem e sua autoridade moral.
Qual será o “fora isso” quando se contar a história do PT no poder, no Brasil? Dependendo de quem conta, será um desastre completo redimido apenas pelo idealismo frustrado dos que acreditaram nele ou deverá incluir a inclusão social que o partido patrocinou, o seu relativo sucesso na interiorização de médicos e outros programas assistenciais e – a estatística que deveria ser o principal parâmetro para qualquer regime, em qualquer tempo e qualquer lugar – a queda nos índices de mortalidade infantil que alcançou. Fora isso, claro, houve a corrupção.
PERTO
Li que no velório do Luiz Eduardo Dutra foram distribuídos panfletos com a frase “Petista bom é petista morto”. Me pergunto – e não me respondo porque não falo com qualquer um – se não estamos chegando perto da nossa “kristallnacht”.
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* Jornalista. Escritor. Cronista da ZH.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4878316.xml&template=3916.dwt&edition=27655§ion=70
Imagem da Internet: http://inglesnoteclado.com.br/2015/08/fora-isso-em-ingles-como-dizer-fora-isso-em-ingles.html
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