Para Hannah Payne, sua geração capta informações e perde o interesse com igual velocidade
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Max Whittaker / The New York Times
Os novos jovens
Verdadeiros nativos da era digital, os nascidos na virada para o novo milênio começam a ingressar no mercado de trabalho
Escuto a expressão “geração do milênio” e imagens me vêm à mente.
Vejo Mark Zuckerberg, do Facebook, ganhando o primeiro bilhão aos 23
anos. Vejo Miley Cyrus exibindo, orgulhosa, a pele nua. Vejo Lena
Dunham, rainha de quem se expõe demais na TV, mergulhando em monólogos
umbilicais que parecem ter sido escritos para o divã do terapeuta.
Eles são metidos a besta, narcisistas, acham que têm direito a tudo. Ou pelo menos é o que diz o clichê. Mas e a “geração Z”? Nascida após a geração do milênio, apresenta-se como o próximo grande sucesso para pesquisadores de mercado, observadores culturais e aqueles que preveem tendências.
Como
os membros mais velhos dessa turma mal e mal saíram do Ensino Médio,
esses pré-adolescentes e adolescentes de hoje estão preparados para se
tornar os principais influenciadores da juventude do amanhã. Com os
bolsos cheios de bilhões para gastar, eles prometem tesouros incontáveis
para quem tiver a chave mestra de sua psique.
Não é por nada que a corrida para definir e anunciar para esse rolo
compressor demográfico já começou. Eles são a “próxima grande inovação
do varejo”, segundo a publicação Women’s Wear Daily. Eles têm “a força
de salvar o mundo e corrigir nossos erros passados em seus pequenos
ombros”, segundo artigo de Jeremy Finch, consultor de inovação,
publicado no site Co.Exist. Lucie Greene, diretora mundial do Grupo de
Inovação da J. Walter Thompson, chama-os de “geração do milênio com
esteroides”.
Embora seja fácil zombar da tentativa dos publicitários de enfiar
dezenas de milhões de adolescentes em um arquétipo geracional, ao estilo
dos baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964), também está claro que
uma pessoa de 14 anos em 2015 habita um mundo substancialmente diferente
do que o de 2005.
– Se a Hannah Horvath (personagem do seriado
Girls) é um exemplo típico da geração do milênio, egoísta, dependente,
descontrolada financeiramente no mundo real quando suas expectativas de
emprego e vida dos sonhos colidem com a realidade, então Alex Dunphy (da série
Modern Family) representa o antídoto da geração Z. Alex é a verdadeira
integrante da geração Z: escrupulosa, trabalha com afinco, é meio
ansiosa e pensa no futuro – disse Lucie.Emily Citarella, 16 anos, estudante de Atlanta, no estado americano da Geórgia, definiu:
– Quando penso na geração Z, tecnologia é a primeira coisa que me vem à mente. Conheço gente cujas relações mais íntimas se dão via Instagram e Facebook.
A geração do milênio era digital: sua adolescência foi definida por iPods e pelo MySpace. Já a geração Z é a primeira a ser criada na era dos smartphones. Muitos não se lembram como era antes das mídias sociais.
– Nós somos os primeiros nativos digitais de verdade. Posso quase que simultaneamente criar um documento, editar, publicar uma foto no Instagram e falar ao telefone, tudo usando a interface amigável do meu iPhone – disse Hannah Payne, estudante da Universidade da Califórnia e blogueira de estilo de vida.
– A geração Z capta a informação instantaneamente e perde o interesse com igual velocidade – garantiu ela.
Essa visão não passou despercebida pelos publicitários, em uma era de emojis e vídeos de seis segundos no Vine.
– Dizemos aos anunciantes que, se não se comunicarem em cinco palavras e com uma imagem grande, eles não falarão com essa geração – afirmou Dan Schawbel, sócio-diretor da Millennial Branding, consultoria de Nova York.
Retorno ao tempo de avós e bisavós
Até agora, eles se parecem muito com a geração do milênio, mas quem estuda tendências juvenis começa a notar grandes diferenças na forma como as duas gerações enxergam as personalidades online, a começar pela privacidade.
Embora a geração do milênio tenha vergonhosamente sido a pioneira ao publicar fotos no Facebook tomando cerveja de funil, muitos da geração Z passaram a adotar plataformas anônimas da mídia social, como Secret ou Snapchat, no qual qualquer imagem incriminadora some quase de imediato, de acordo com Dan Gould, consultor de tendências da Sparks & Honey, agência de publicidade de Nova York.
Os pais dos adolescentes da geração Z desempenham um papel fundamental na formação de sua mentalidade coletiva. Os jovens do milênio, geralmente vistos – às vezes injustamente – como fedelhos narcisistas que esperam que o chefe lhes traga café, foram em grande medida criados por baby boomers, que, segundo muitos, compõem o grupo mais iconoclasta, egocêntrico e grandioso de todos os tempos.
Em comparação, a geração Z costuma ser fruto da geração X, um grupo enfastiado, que chegou à maturidade depois do escândalo de Watergate, do pânico do Vietnã na década de 1970, quando os horizontes pareciam limitados. A geração X tentou dar aos filhos a infância segura que não teve.
– Quando vemos as mães blogueiras da geração X, a segurança é uma grande preocupação: copos de aço inoxidável para bebês, sem bisfenol, carrinhos com proteção lateral, comida infantil caseira – exemplificou Neil Howe, da consultoria de tendências Saeculum Research.
Parte dessa obsessão com segurança deve vir das dificuldades que os membros da geração Z e seus pais vivenciaram na formação.
– Crescer num momento complicado, com conflito global e problemas econômicos, afetou o meu futuro – disse Seimi Park, 17 anos, aluna do último ano do Ensino Médio que sempre sonhou com uma carreira na moda, mas optou recentemente por Direito por parecer mais seguro. – Nosso otimismo foi substituído há muito tempo pelo pragmatismo.
A geração Z começa a parecer menos com os arrogantes do milênio e mais com seus avós (ou até bisavós). As crianças do final da década de 1920 até o começo da de 40, chamadas de geração silenciosa, foram modeladas pela guerra e pela depressão, crescendo para se tornarem os carreiristas diligentes do “não questione para se dar bem” das décadas de 1950 e 60.
– Os paralelos com a geração silenciosa são óbvios. Houve uma recessão, empregos estão difíceis, não se pode correr riscos. É preciso ter cuidado com o que se publica no Facebook – afirmou Howe. – Eles eram os homens de terno de flanela cinza. Casaram-se cedo, tiveram filhos cedo. A primeira pergunta nas entrevistas de emprego era sobre planos de previdência – completou.
Essa analogia só funciona até determinado ponto no caso de uma geração disposta a publicar vídeos no Vine virando cambalhotas sobre gatos. Quanto aos ternos de flanela cinza, os pais talvez ainda não queiram mandar os adolescentes ao alfaiate. O relatório da Sparks & Honey argumenta que o “empreendedorismo está em seu DNA”.
– A garotada observa empresas novatas dando certo instantaneamente via mídia social. Nós não queremos trabalhar na lanchonete local durante o verão. Queremos abrir nosso próprio negócio, porque vemos os sortudos que ganharam milhões – disse Andrew Schoonover, 15 anos, de Olathe, no Kansas.
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