sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"O terrorista que atua sozinho é a nova ameaça"



Lorenzo Vidino, professor especializado em terrorismo e islamismo político na Universidade Harvard (EUA), visitou recentemente Madri para participar de um seminário sobre terrorismo organizado pela Fundação Ortega y Gasset e a Embaixada dos EUA, e aceitou dar esta entrevista por telefone, sobre as perguntas levantadas pelo atentado frustrado na sexta-feira no voo de Detroit.

El País: Que lição as agências de inteligência podem tirar dessa última tentativa terrorista?
Lorenzo Vidino: A estratégia dos jihadistas evoluiu para um novo tipo de terrorismo muito mais fácil de perseguir e interceptar, como demonstra não só esse último caso, mas também o do soldado da base militar norte-americana de Fort Hood, que matou 13 companheiros, e soube-se que havia tido relação com um imame radical. Também houve outros precedentes na Itália ou nos EUA. É o que se denominou ataque de um lobo solitário. Os membros das células são muito mais independentes hoje. Em alguns casos são preparados no manejo de explosivos pela internet, eles mesmos escolhem os alvos e atuam de modo individual. É mais difícil detectar em um aeroporto um único terrorista do que um grupo de 20. Essa nova estratégia foi a reação dos terroristas aos melhores controles de inteligência, e questionam se a estrutura clássica da Al Qaeda ficou obsoleta.

El País: O que os serviços de inteligência podem fazer contra um lobo solitário?
Vidino: É muito mais complexo. É mais difícil descobrir seus propósitos, porque deixa menos rastros. O FBI recorre à estratégia do agente provocador. Uma vez localizado um simpatizante do jihadismo nos bate-papos ou fóruns da internet, um agente se faz passar por um membro da Al Qaeda e o empurra a atuar. Nos últimos meses foram presos dessa forma dois indivíduos que pretendiam atentar contra edifícios federais em Illinois e no Texas. É um método muito polêmico e de legalidade duvidosa na Europa. Além disso, é uma questão de até onde estamos dispostos a reduzir a liberdade de expressão.

El País: O terrorista de Detroit não tinha o perfil de excluído social. Há quem acredite agora que o esforço de integração não serve para conter o jihadismo.
Vidino: Não é verdade. É algo mais complexo. A integração das comunidades muçulmanas é uma peça do quebra-cabeça, mas não uma solução milagrosa. É menos provável que pessoas melhor integradas economicamente e que se sentem parte da sociedade aceitem as mensagens dos radicais.

El País: O Iêmen é o cenário da nova guerra de Obama?
Vidino: Não teria sentido lançar uma nova invasão. Essas redes têm a seu alcance outros santuários alternativos, como a Somália ou o Magreb. Em curto prazo, o mais realista a que podemos aspirar é fortalecer a autoridade desses governos para que realizem operações policiais com êxito.

Reportagem por Fernando Peinado de Madrid

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
FONTE: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2009/12/31/ult581u3736.jhtm

Nenhum comentário:

Postar um comentário