quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eleições: Igreja dá critérios e fala à consciência das pessoas

Dom Damasceno
Entrevista com o arcebispo de Aparecida e presidente do CELAM

 
Qual a contribuição da Igreja para conscientização política da sociedade?
Dom Damasceno: A Igreja não tem uma posição político partidária, evidentemente. A Igreja fala à consciência das pessoas, dá critérios éticos, morais, para ajudar o eleitor a exercer este seu direito, que é um direito através do qual ele pode contribuir para o bem de todo o nosso país: o direito de escolher seus representantes.
Nós desejamos, com a orientação que a Igreja dá, que os nossos fiéis exerçam esse seu direito com muita liberdade, muita responsabilidade, com muita consciência perante Deus, perante a sociedade, pensando não só nos seus interesses pessoais ou de grupos, mas pensando no bem de todo o país.
É necessário que o eleitor não se deixe influenciar somente pelo resultado das pesquisas, não se deixe levar apenas pela emoção, o sentimento, mas que ele tenha realmente um discernimento, um espírito crítico para examinar o candidato, a sua pessoa, o seu passado, a sua competência, sua experiência, suas propostas, para ver se elas são viáveis, para que ele possa realmente, ao exercer esse direito, contribuir para o bem de todo o nosso país.

Há de se fazer o acompanhamento após as eleições também, não?
Dom Damasceno: Sim. Que após as eleições o cidadão também acompanhe aqueles candidatos que foram eleitos, para ver se de fato eles estão sendo fiéis, estão cumprindo os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral. Portanto, não basta votar, é necessário acompanhar os eleitos. E lembrar sempre que não devemos vender o nosso voto, não devemos anular o nosso voto, porque anulando nosso voto, às vezes como uma forma de protesto, muitas vezes nós estamos contribuindo para aquele que é menos melhor seja eleito. Então nosso voto positivo é uma maneira de nós buscarmos eleger aqueles que nós julgamos mais aptos, mais competentes, mas capazes para dirigir o nosso país, seja no âmbito legislativo, seja também no âmbito executivo.

Por esse caminho então a Igreja se aproxima da política.
Dom Damasceno: A Igreja não pode estar alheia à luta pela justiça. Ela não pode estar alheia aos problemas humanos, tudo aquilo que é humano é de interesse da Igreja. Ela não pode ficar alheia num momento tão importante para a vida de um país. Vem daí o dever de dar elementos e critérios para ajudar os fiéis a fazer esse discernimento e exercer seu direito com responsabilidade. Mas isso sem assumir posições político-partidárias.

A Igreja tem insistido na importância de se conhecer o candidato.
Dom Damasceno: É necessário que a pessoa acompanhe o candidato, conheça o seu passado. Pois muitas vezes a pessoa se apresenta como capaz de resolver uma série de problemas, mas nunca demonstrou isso com sua vida, seu passado, com seu trabalho, de modo que nós temos de ter um discernimento neste momento para escolher aquele que nós, diante da nossa consciência, diante de Deus e da sociedade, julgamos o mais adequado para exercer determinado cargo. Este é o voto consciente.

Como o senhor tem visto a qualidade dos candidatos?
Dom Damasceno: Não podemos fazer generalizações. Há candidatos bons, há candidatos que têm um passado, que demonstram o seu trabalho a serviço do país, mas há também, nós vemos pela lista dos candidatos, muitos que se lançam como aventureiros nesse processo eleitoral, e muitas vezes se lançam apenas para poder angariar votos para a legenda e assim contribuir para a eleição de um ou de outro candidato, mas sem aquela expectativa de que vai realmente vencer nas eleições. Mas muitas vezes são usados e instrumentalizados para poder eleger outros candidatos na sua legenda. O eleitor tem de ter muito cuidado com isso.

Qual avaliação o senhor faz do recente debate promovido pelas TVs católicas com os candidatos à presidência?
Dom Damasceno: O debate foi bom. As perguntas foram muito contundentes, muito oportunas. Permitiu que os candidatos se pronunciassem sobre questões fundamentais para nós, como a educação, a segurança, a saúde, a questão da vida, a família, o ensino religioso. Claro que teríamos outras questões para serem colocadas aos presidenciáveis, mas o tempo não permite que se alongue tanto o debate. Creio que o evento contribuiu para o melhor conhecimento tanto dos candidatos como de suas propostas. Pelas informações que temos, sabemos que o debate foi acompanhado por um grande número de pessoas em todo o Brasil, sobretudo por nossos fiéis católicos, cristãos, e que certamente tiveram ou terão ainda outras oportunidades de decidir melhor, com muita consciência, muita responsabilidade, o seu voto.
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Fonte: APARECIDA, terça-feira, 31 de agosto de 2010 (ZENIT.org) – O arcebispo de Aparecida e presidente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano), Dom Raymundo Damasceno Assis, recebeu a imprensa na sexta-feira passada para falar sobre as eleições de 3 de outubro no Brasil. Ele respondeu a perguntas de ZENIT e de outros veículos de informação presentes na coletiva. Este é um resumo de suas respostas.

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