CECÍLIO ELIAS NETTO*
Intriga-me haja, ainda, pessoas acreditando aconteça, hoje, o fim do
mundo. Ora, o mundo já acabou faz tempo. E, pelo menos de minha parte,
eu vi o mundo acabar pelo menos umas cinco vezes. Mundos acabam a cada
geração. Logo, quanto mais se vive, mais se acompanham os fins de
mundos. O de minha geração acabou, no mínimo, há uns 20 anos. E esse —
que aí está — vai, também, se acabando, com a diferença de chegar ao fim
com mais celeridade.
Cada mundo chega ao fim para que, em seu lugar, surja outro. Dos destroços e ruínas de um, surge algo novo que, necessariamente, não precisa ser nem melhor nem pior. Cada novo mundo é, apenas, uma expectativa, com esperanças e ilusões que — no mais profundo de si mesmas — se repetem com outras pessoas, outras culturas, outros momentos.
Veja, você, que continuamos — nestas vésperas de Natal e fim de ano — desejando-nos, uns aos outros, votos de tudo o que seja bom, de paz, de harmonia, de amor. A isso, dá-se, ainda, o paradoxal nome de “espírito de Natal”. Desejamos um Natal feliz a conhecidos e desconhecidos, a familiares e a amigos, mas, na verdade, nem mais sabemos o que seja, verdadeiramente, o Natal, o que se comemora. O “espírito de Natal” nos toca e sensibiliza. E se assim acontece é porque ainda sobra algo de espiritualidade na alma humana neste fim de mundo que deixou destroços de tsunami cultural. Mas onde ficou escondido?
Curiosamente, o Ocidente insiste em autodenominar-se “civilização ocidental e cristã”. Isso deveria significar que nossos princípios e valores estejam consolidados numa visão cristã de vida e sociedade. Mas quais são eles, onde estão? Não seria mais honesto admitir que usamos mais rótulos do que convicções? Natal de que Jesus estamos falando? Cristãos de que Cristo? Afinal de contas, lembremo-nos: Jesus Cristo nunca foi cristão. O Natal é a rememoração de um menino judeu que veio trazer uma nova mensagem, uma boa nova, propostas de um mundo pacífico que se resume, no fim de tudo, em poucas palavras: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. São palavras de um jovem judeu, crucificado aos 33 anos. Os que o seguiram é que se disseram cristãos. Mas Jesus nunca foi cristão.
Estamos, cada vez mais, odiando-nos uns aos outros. Aquele Jesus Cristo judeu jamais aceitaria esse cristianismo multifacetado que — em nome dele — comete tantas atrocidades, injustiças, horrores no mundo. Como pode haver o espírito do menino e do jovem Jesus Cristo num mundo que idolatra o mercado, o lucro, o egoísmo, o hedonismo? E as bombas e fuzis que a “civilização ocidental cristã” lança sobre nações e povos inteiros, em nome da defesa de si mesma? Aquele Jesus Cristo judeu não está nesse cristianismo farisaico em que se apoia o Ocidente. Pelo contrário, a fúria santa do jovem judeu se deu exatamente quando ele viu os mercadores invadindo o templo, fazendo negócios com o sagrado. De chibata nas mãos e gritando exasperado, aquele Jesus Cristo expulsou os mercadores do templo dando-lhes as qualificações verdadeiras: “Fariseus, sepulcros caiados, raça de víboras”.
Acredite-se ou não no Cristo histórico ou no Cristo como Verbo Encarnado, a realidade é que Jesus Cristo — aquele jovem judeu, não os muitos outros criados pela imaginação ou conveniência de muitos — se tornou a síntese perfeita de todos os símbolos fundamentais do universo. Assim, o menino — que nunca foi cristão, mas que propôs uma humanidade nova — simboliza o céu e a terra, por suas duas naturezas, a divina e a humana. E, também, o ar e o fogo, por sua ascensão e descida aos infernos. Ele é o túmulo e também a ressurreição. Ele é a Cruz, o Livro, o Cordeiro do Sacrifício, o eixo e o centro do mundo, a Escada em sua subida ao Gólgota. E, enfim, todos os símbolos da verticalidade, da luz, do centro do eixo.
Quando o moço judeu fala — com certeza quase arrogante — “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, ele se apresenta como o mediador entre os termos a serem unidos. Seus seguidores acreditaram nisso, propagaram a mensagem, acabaram criando seitas e igrejas em nome dele, uma civilização que, no entanto, continuam longe de assumir, encarnada e espiritualmente, a mensagem-síntese que poderia construir o mundo proposto pelo jovem judeu: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Duvido do mais fundo do coração que o menino — em nome do qual festejamos Natal — aceitaria ser cristão conforme os cristianismos que se mancharam de sangue e se enlamearam do poder. Jesus Cristo não seria cristão, hoje. Se fosse, estaria negando-se a si mesmo. A palhaçada é nossa. Em nome de Jesus, celebramos Dioniso.
Cada mundo chega ao fim para que, em seu lugar, surja outro. Dos destroços e ruínas de um, surge algo novo que, necessariamente, não precisa ser nem melhor nem pior. Cada novo mundo é, apenas, uma expectativa, com esperanças e ilusões que — no mais profundo de si mesmas — se repetem com outras pessoas, outras culturas, outros momentos.
Veja, você, que continuamos — nestas vésperas de Natal e fim de ano — desejando-nos, uns aos outros, votos de tudo o que seja bom, de paz, de harmonia, de amor. A isso, dá-se, ainda, o paradoxal nome de “espírito de Natal”. Desejamos um Natal feliz a conhecidos e desconhecidos, a familiares e a amigos, mas, na verdade, nem mais sabemos o que seja, verdadeiramente, o Natal, o que se comemora. O “espírito de Natal” nos toca e sensibiliza. E se assim acontece é porque ainda sobra algo de espiritualidade na alma humana neste fim de mundo que deixou destroços de tsunami cultural. Mas onde ficou escondido?
Curiosamente, o Ocidente insiste em autodenominar-se “civilização ocidental e cristã”. Isso deveria significar que nossos princípios e valores estejam consolidados numa visão cristã de vida e sociedade. Mas quais são eles, onde estão? Não seria mais honesto admitir que usamos mais rótulos do que convicções? Natal de que Jesus estamos falando? Cristãos de que Cristo? Afinal de contas, lembremo-nos: Jesus Cristo nunca foi cristão. O Natal é a rememoração de um menino judeu que veio trazer uma nova mensagem, uma boa nova, propostas de um mundo pacífico que se resume, no fim de tudo, em poucas palavras: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. São palavras de um jovem judeu, crucificado aos 33 anos. Os que o seguiram é que se disseram cristãos. Mas Jesus nunca foi cristão.
Estamos, cada vez mais, odiando-nos uns aos outros. Aquele Jesus Cristo judeu jamais aceitaria esse cristianismo multifacetado que — em nome dele — comete tantas atrocidades, injustiças, horrores no mundo. Como pode haver o espírito do menino e do jovem Jesus Cristo num mundo que idolatra o mercado, o lucro, o egoísmo, o hedonismo? E as bombas e fuzis que a “civilização ocidental cristã” lança sobre nações e povos inteiros, em nome da defesa de si mesma? Aquele Jesus Cristo judeu não está nesse cristianismo farisaico em que se apoia o Ocidente. Pelo contrário, a fúria santa do jovem judeu se deu exatamente quando ele viu os mercadores invadindo o templo, fazendo negócios com o sagrado. De chibata nas mãos e gritando exasperado, aquele Jesus Cristo expulsou os mercadores do templo dando-lhes as qualificações verdadeiras: “Fariseus, sepulcros caiados, raça de víboras”.
Acredite-se ou não no Cristo histórico ou no Cristo como Verbo Encarnado, a realidade é que Jesus Cristo — aquele jovem judeu, não os muitos outros criados pela imaginação ou conveniência de muitos — se tornou a síntese perfeita de todos os símbolos fundamentais do universo. Assim, o menino — que nunca foi cristão, mas que propôs uma humanidade nova — simboliza o céu e a terra, por suas duas naturezas, a divina e a humana. E, também, o ar e o fogo, por sua ascensão e descida aos infernos. Ele é o túmulo e também a ressurreição. Ele é a Cruz, o Livro, o Cordeiro do Sacrifício, o eixo e o centro do mundo, a Escada em sua subida ao Gólgota. E, enfim, todos os símbolos da verticalidade, da luz, do centro do eixo.
Quando o moço judeu fala — com certeza quase arrogante — “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, ele se apresenta como o mediador entre os termos a serem unidos. Seus seguidores acreditaram nisso, propagaram a mensagem, acabaram criando seitas e igrejas em nome dele, uma civilização que, no entanto, continuam longe de assumir, encarnada e espiritualmente, a mensagem-síntese que poderia construir o mundo proposto pelo jovem judeu: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
Duvido do mais fundo do coração que o menino — em nome do qual festejamos Natal — aceitaria ser cristão conforme os cristianismos que se mancharam de sangue e se enlamearam do poder. Jesus Cristo não seria cristão, hoje. Se fosse, estaria negando-se a si mesmo. A palhaçada é nossa. Em nome de Jesus, celebramos Dioniso.
-------------------
* Colunista do Correio Popular
Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2012/12/colunistas/cecilio/arquivos/18665---e-jesus-nao-era-cristao.html
Imagem da Internet: Presépio no Santuário de Fátima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário