Flávio Tavares*
Nunca foi tão fácil ser feliz no fim de ano quanto agora. O prêmio da
Mega Sena está aí, ao alcance da mão, tornando hipermilionários em
poucos minutos alguns milhões de brasileiros. Sim, pois nada acende
tanta certeza no futuro quanto a oferta fácil de milhões em dinheiro
vivo, que irá ao nosso bolso sem suor ou neurônios gastos, apenas com
seis marquinhas num cartão. Na espera da fila do sorteio da “virada”, a
esperança vira certeza de fé. Cada qual é um milionário por antecipação e
planeja o que fazer com tanto dinheiro. Entre o momento da aposta e o
instante do sorteio, nos sentimos ganhadores e usufruímos da fortuna, no
paroxismo da felicidade, como se os milhões já estivessem no bolso.
Diz-se que o prêmio de agora superará os R$ 200 milhões, menos do que os subornos do mensalão para alugar partidos, mas bela soma, enfim. Quem não saiba o que seja agarrar tanto dinheiro assim, pergunte à Rosemary Noronha. A protegida do ex-presidente Lula da Silva intermediou negócios por cifras 10 ou 20 vezes maiores quando chefiou o gabinete da Presidência da República em São Paulo. Estas coisas se perguntam a quem sabe. Nunca, por exemplo, a uma professora no Rio Grande do Sul, que (com R$ 900 ao mês) não conseguiria sequer 0,1% disto se vivesse pela eternidade absoluta dos séculos, desde o Big Bang da Criação até o fim do mundo.
Até porque destruímos a natureza de forma tão abrupta, que os descendentes dos maias, no México e na Guatemala, já recalculam (para valer) que a data do fim do mundo vai se abreviar.
Fim de ano é tempo de pensar. Todo pensamento é uma indagação, ou dúvida, e só indagando e duvidando chegamos à verdade. Nietzsche advertia que “devemos idolatrar a dúvida” e assim é! Só um sistema de contrapesos, que vá do “sim” ao “não”, nos leva à realidade. Se nos contentamos com as aparências, fugimos do real e optamos por algo postiço. Pela ilusão! Nosso Lupicínio Rodrigues já perguntava numa canção dos idos 1950: “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar?”.
O que fizemos ou desfizemos no ano? O que nos negamos a fazer? Fomos solidários? Onde ficou a bondade, esta coisa que a competição da sociedade de consumo tornou “fora de moda”, cafona e piegas? Até onde fomos cúmplices do crime e, na prática, optamos por ele, fingindo que pedíamos justiça sem nada fazer pelo justo? Até onde nos deixamos subornar ou subornamos? Ou mentimos em nome da verdade, inventando situações ou cifras? Até onde?
Talvez os brasileiros festejem 2012 como “o ano do fim da impunidade” e as condenações do processo do “mensalão” levam, até, a pensar assim. Mas não será ilusão? Bastou o Supremo concluir o julgamento, ditar as penas e declarar cassados os mandatos dos três deputados condenados naquele vendaval de corrupção, para que o presidente da Câmara Federal, Marco Maia, protestasse, defendendo os colegas em nome “da dignidade do Parlamento”. O que é indigno? O envolvimento na corrupção ou a condenação dos corruptos?
Como se manejasse o esmeril ou o torno elétrico dos tempos de metalúrgico em Canoas, Marco Maia lembrou que os ministros do Supremo “têm o nome aprovado” pelo Parlamento, que até pode julgá-los por seus atos. Essa linguagem ameaçadora significará que os parlamentares estão acima da Justiça? Os réus tiveram ampla defesa, tudo foi público, nada iníquo ou em surdina. Por que, então, a reação do presidente da Câmara dos Deputados em defesa dos três condenados, comprovadamente envolvidos na trama corrupta?
Por tudo isto, o herói do ano, no fim, é o povo, que aguenta tudo, vive ilusões e festeja a fortuna da Mega Sena.
Diz-se que o prêmio de agora superará os R$ 200 milhões, menos do que os subornos do mensalão para alugar partidos, mas bela soma, enfim. Quem não saiba o que seja agarrar tanto dinheiro assim, pergunte à Rosemary Noronha. A protegida do ex-presidente Lula da Silva intermediou negócios por cifras 10 ou 20 vezes maiores quando chefiou o gabinete da Presidência da República em São Paulo. Estas coisas se perguntam a quem sabe. Nunca, por exemplo, a uma professora no Rio Grande do Sul, que (com R$ 900 ao mês) não conseguiria sequer 0,1% disto se vivesse pela eternidade absoluta dos séculos, desde o Big Bang da Criação até o fim do mundo.
Até porque destruímos a natureza de forma tão abrupta, que os descendentes dos maias, no México e na Guatemala, já recalculam (para valer) que a data do fim do mundo vai se abreviar.
Fim de ano é tempo de pensar. Todo pensamento é uma indagação, ou dúvida, e só indagando e duvidando chegamos à verdade. Nietzsche advertia que “devemos idolatrar a dúvida” e assim é! Só um sistema de contrapesos, que vá do “sim” ao “não”, nos leva à realidade. Se nos contentamos com as aparências, fugimos do real e optamos por algo postiço. Pela ilusão! Nosso Lupicínio Rodrigues já perguntava numa canção dos idos 1950: “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar?”.
O que fizemos ou desfizemos no ano? O que nos negamos a fazer? Fomos solidários? Onde ficou a bondade, esta coisa que a competição da sociedade de consumo tornou “fora de moda”, cafona e piegas? Até onde fomos cúmplices do crime e, na prática, optamos por ele, fingindo que pedíamos justiça sem nada fazer pelo justo? Até onde nos deixamos subornar ou subornamos? Ou mentimos em nome da verdade, inventando situações ou cifras? Até onde?
Talvez os brasileiros festejem 2012 como “o ano do fim da impunidade” e as condenações do processo do “mensalão” levam, até, a pensar assim. Mas não será ilusão? Bastou o Supremo concluir o julgamento, ditar as penas e declarar cassados os mandatos dos três deputados condenados naquele vendaval de corrupção, para que o presidente da Câmara Federal, Marco Maia, protestasse, defendendo os colegas em nome “da dignidade do Parlamento”. O que é indigno? O envolvimento na corrupção ou a condenação dos corruptos?
Como se manejasse o esmeril ou o torno elétrico dos tempos de metalúrgico em Canoas, Marco Maia lembrou que os ministros do Supremo “têm o nome aprovado” pelo Parlamento, que até pode julgá-los por seus atos. Essa linguagem ameaçadora significará que os parlamentares estão acima da Justiça? Os réus tiveram ampla defesa, tudo foi público, nada iníquo ou em surdina. Por que, então, a reação do presidente da Câmara dos Deputados em defesa dos três condenados, comprovadamente envolvidos na trama corrupta?
Por tudo isto, o herói do ano, no fim, é o povo, que aguenta tudo, vive ilusões e festeja a fortuna da Mega Sena.
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*Jornalista e escritor
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3996180.xml&template=3898.dwt&edition=21096§ion=1012
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