Leonardo Boff*
Como homem, Jesus é como todos os homens: um trabalhador,
carpinteiro como seu pai, José e um camponês mediterrâneo. Nem
super-herói nem um especialmente piedoso que chamasse a atenção.
Era um homem de vila, tão pequena, Nazaré, que nunca é citada em todo
o Antigo Testamento, talvez com uns 15 casas, não mais. Participou do
destino humilhante de seu povo, subjugado pelas forças de ocupação
militar romana. Nenhum documento da época falou dele, fora dos
evangelhos. Não era conhecido nas rodas nem de Jerusalém e muito menos
de Roma.
Como diz ironicamente o poeta Fernando Pessoa, Jesus não tinha
biblioteca e não consta que entendesse de contabilidade. Ele é um
anônimo no meio da massa do povo de Israel.
O fato de ter sido a encarnação do Filho de Deus não mudou em nada
essa humilde situação. Deus quis se revelar nesse tipo de obscuridade e
não apesar dela. E precisamos respeitar e aceitar esse caminho escolhido
pelo Altíssimo.
A lição a se tirar é cristalina: qualquer situação, por humílima que
seja, é suficientemente boa para encontrar Deus e para acolhermos a sua
vinda nos labores cotidianos.
Jesus, disse São Paulo, não se envergonhou de ser nosso irmão. E
efetivamente é nosso irmão, não só porque quis se revestir de nossa
humanidade, mas é nosso irmão, principalmente por ter participado de
nossa vida cotidiana, tediosa, sem brilho e renome, a vida dos anônimos.
Disso tudo tiramos essa singela lição: a vida vale a pena ser vivida
assim como é – diuturna, monótona como o trabalho do dia-a-dia – e
exigente na paciência de conviver com os outros, ouvi-los,
compreendê-los, perdoá-los e amá-los assim como são.
Ele ainda é nosso irmão maior, enquanto dentro desta vida de luz e
de sombra, viveu tão radicalmente sua humanidade a ponto de trazer Deus
para dentro dela, um Deus próximo, companheiro de caminhada, energia
escondida que não nos deixa desesperar face aos absurdos do mundo.
Por isso, precisamos, a despeito de tantos pensadores desesperados e
céticos reafirmar: o Cristianismo não anuncia a morte de Deus. E, sim, a
humanidade, a benevolência, a jovialidade e o amor incondicional de
Deus. Um Deus vivo, criança que chora e ri e que nos revela a eterna
juventude da vida humana perpassada pela divina.
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* Teólogo. Escritor.
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/12/26/um-deus-anonimo/
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