quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Amplidão da consciência

Luiz Alca*
 

Ao ser perguntado “Quem é o homem?”, o filósofo grego Aristóteles respondeu simplesmente “o ser que decide o que ele é”. Ou seja, aquele que toma consciência de sua condição de ser e não apenas de existir no mundo, e luta para sobreviver.

Isto acaba se sobrepujando ao magnífico mistério do autoentendimento, entre posições morais, posturas científicas, metáforas grandiosas, frases de efeito e princípios determinados pelo sistema. Eis porque há tantas existências sem sujeito...como se navegassem no aturdimento que vai acabar por consumi-las quando seus autores julgarem que isso é tudo.

Eis o vaticínio do pensador francês Edgar Morin “mais do que nunca precisamos de nós neste momento, e mais do que nunca abandonamos de vez o estranho que nos habita e que nos amplia a consciência, em nome da luta por sobreviver na concretude deste século 21 tão distante da grandeza que se anunciava”.

Consciência – Ninguém melhor do que o neurocientista português Antonio Damásio em sua magnífica obra, tem definido a consciência com a simplicidade e a grandeza que ela pede. Consciência é o sentimento do que acontece, um fenômeno do ser para que possa tomar conhecimento da vida, do simples automatismo aos meandros mais profundos da razão de ser. É o sentido que se tem do efeito das circunstâncias, dos fatos, das situações que ocorrem à frente de nós mesmos, a percepção do quanto são individuais e de que forma nos afetam. Através dela, reescalonamos valores, damos um novo significado aos eventos que surgem cruzando o caminho. É a consciência que permite reconhecer um impulso para continuar vivo e para despertar e manter interesse pelo “self” (eu.) Nada tem a ver com juízo de valor.

Central e Ampliada – Para Damásio, ela pode ser vista como Central e Ampliada. Pela primeira, compartilhada com todos, abre-se para a imagem objetiva de si mesmo em interação com o mundo, quando sentimos o processado num primeiro estágio, quase automático como uma auto-regulação do organismo mental. Já a Ampliada possibilita a formação de imagens mais elaboradas e é responsável pelo drama do homem. Não resolve as questões imediatas e colocadas diante da pessoa, mergulha nos questionamentos do devir e do evoluir. O que fazemos por nós, internamente. Não está ligada à cultura e ao conhecimento, necessariamente.

Sete pontos – Em seu livro “Como a mente funciona”, Steve Pinker estabelece sete pontos como ajuda ao ampliar: 1 – Interesse pelo amplo e não apenas pelo imediato necessário. 2 – Não ter medo do vazio existencial apoiando-se em fórmulas prontas e gerais para abafar a falta de conteúdo vital (mecanismos retroalimentadores). 3 – Dosar a sutileza do simples com o reconhecimento da complexidade, o que clareia o desejo e diminui o medo de assumi-lo. 4 – Deixar que a Lei do Retorno se cumpra sem forçar lembranças ou reeditar tradições. 5 – Não ter tanto medo da passagem do tempo e não referenciar-se pela idade para o bem e para o mal. 6 – Não temer que a amplidão afaste do mundo conhecido, o que dolorosa e naturalmente, fecha os quadros mentais. 7 – A Auto-Transcendência cuidadosamente sentida não como válvula de escape, mas como reforço do Vertical que nos compõe, entre erros e acertos, dúvidas e certezas.

Amplidão – A angústia, que Heidegger afirmava ser “o preço da liberdade de pensamento”, o sentido do vazio é um dos gritos da ampliação. O preço é alto, sem dúvida, mas as recompensas valem, já que diminuem quase a zero a possibilidade de autoengano e torna menos insuportável o enfrentamento do verdadeiro que a subjetividade ajuda a distinguir do real, na clareza da evitação temporária.

Também é um apoio nas horas de depressividade, que nada mais é do que o rompimento brusco do falso amparo externo quando o psiquismo cessa sua função ilusionista e deixa claro o vazio. A consciência está diretamente ligada à liberdade interior. Uma não existe sem a outra. Liberdade de descobrir-se, de criar alternativas, de entender que temos que estar à altura do nosso destino, mas que para isso é preciso captá-lo. Disse bem Dostoiewsky “temo somente uma coisa: não ser digno dos meus tormentos, assim como dos meus sonhos”.
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* Jornalista. Trabalha na área de Dinâmica de Grupo e Filosofia do Comportamento desde 1973. Escreve no Jornal A Tribuna
Fonte: http://hotsites.atribuna.com.br/atribuna/blogdoluizalca/?idCategoria=8
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