Martha Medeiros*
O mundo não vai acabar, mas certamente está diminuindo de tamanho.
Antes, cada país preservava sua cultura e seus costumes. Hoje, todos possuem vários McDonald’s, Starbucks, Outback, Subway – nenhum viajante se sente longe de casa, o fast food da esquina impede a sensação de estrangeirismo. O mundo encolheu.
Antes, levávamos dias para chegar a um local, semanas para atravessar um país. Hoje, para estar em qualquer lugar basta uma teclada, uma câmera virtual, e assim economizamos tempo, dinheiro e romantismo. Eliminou-se o trajeto. O mundo encolheu.
Antes, cada lar era sagrado, a intimidade era assunto de poucos, havia uma sacralidade que, mesmo informal, preservava os pecados internos. Hoje, o que nosso pai diz está no Twitter, nossa mãe tem perfil no Face, nossa casa não tem mais paredes. O mundo encolheu.
Antes, o que se escrevia era de autoria particular, indevassável. Hoje, há vários autores caçando palavras alheias, várias fontes a quem é atribuído o mesmo texto, não há mais o dono da ideia, tudo o que se diz e escreve é de quem viu primeiro, basta adotar como seu. O mundo encolheu.
Antes, os amores eram secretos, as dores eram particulares, chorava-se em silêncio e em privacidade, ninguém sabia o que você sentia, a não ser que você fosse poeta. Hoje a dor de amor é produto externo bruto, fatura-se com o coração ferido. O mundo encolheu.
Antes, a amizade era confeccionada com o tempo, era preciso meses para confiar, anos para decretar que o vínculo seria eterno, havia uma trajetória a cumprir antes do abraço indissolúvel, os padrinhos de casamento eram escolhidos entre os irmãos. Hoje, o melhor amigo é aquele de segunda-feira, que te deu uma carona. O mundo encolheu.
Antes, o conteúdo dignificava, estabelecia uma triagem natural entre quem era consistente e quem não tinha substância para fazer diferença. Sabedoria e conhecimento tinham valor. Hoje, se o sujeito concorda contigo, basta para ser teu ídolo. O mundo encolheu.
Antes, a polidez não era um fricote, e sim uma atitude honrada. Ser respeitoso não merecia escárnio, e sim retribuição equivalente: bons tratos eram recorrentes entre cavalheiros e damas. Ampliava-se a civilidade. Hoje, respeitar está fora de moda, moderno é ser cruel. O mundo encolheu.
Antes, o prazer não tinha valor diante do desprazer do outro, nada valia ser feliz à custa das infelicidades alheias, havia uma corrente silenciosa e íntegra que avisava: ou todos, ou nenhum. Hoje, restritos em nossas individualidades, é comum passarmos por cima até dos nossos afetos. O mundo encolheu.
Estamos promiscuamente embolados, sem espaço para ampliar nossa existência. O mundo encolheu e alguns vão sobrar. Já estou com meio corpo pra fora.
Antes, cada país preservava sua cultura e seus costumes. Hoje, todos possuem vários McDonald’s, Starbucks, Outback, Subway – nenhum viajante se sente longe de casa, o fast food da esquina impede a sensação de estrangeirismo. O mundo encolheu.
Antes, levávamos dias para chegar a um local, semanas para atravessar um país. Hoje, para estar em qualquer lugar basta uma teclada, uma câmera virtual, e assim economizamos tempo, dinheiro e romantismo. Eliminou-se o trajeto. O mundo encolheu.
Antes, cada lar era sagrado, a intimidade era assunto de poucos, havia uma sacralidade que, mesmo informal, preservava os pecados internos. Hoje, o que nosso pai diz está no Twitter, nossa mãe tem perfil no Face, nossa casa não tem mais paredes. O mundo encolheu.
Antes, o que se escrevia era de autoria particular, indevassável. Hoje, há vários autores caçando palavras alheias, várias fontes a quem é atribuído o mesmo texto, não há mais o dono da ideia, tudo o que se diz e escreve é de quem viu primeiro, basta adotar como seu. O mundo encolheu.
Antes, os amores eram secretos, as dores eram particulares, chorava-se em silêncio e em privacidade, ninguém sabia o que você sentia, a não ser que você fosse poeta. Hoje a dor de amor é produto externo bruto, fatura-se com o coração ferido. O mundo encolheu.
Antes, a amizade era confeccionada com o tempo, era preciso meses para confiar, anos para decretar que o vínculo seria eterno, havia uma trajetória a cumprir antes do abraço indissolúvel, os padrinhos de casamento eram escolhidos entre os irmãos. Hoje, o melhor amigo é aquele de segunda-feira, que te deu uma carona. O mundo encolheu.
Antes, o conteúdo dignificava, estabelecia uma triagem natural entre quem era consistente e quem não tinha substância para fazer diferença. Sabedoria e conhecimento tinham valor. Hoje, se o sujeito concorda contigo, basta para ser teu ídolo. O mundo encolheu.
Antes, a polidez não era um fricote, e sim uma atitude honrada. Ser respeitoso não merecia escárnio, e sim retribuição equivalente: bons tratos eram recorrentes entre cavalheiros e damas. Ampliava-se a civilidade. Hoje, respeitar está fora de moda, moderno é ser cruel. O mundo encolheu.
Antes, o prazer não tinha valor diante do desprazer do outro, nada valia ser feliz à custa das infelicidades alheias, havia uma corrente silenciosa e íntegra que avisava: ou todos, ou nenhum. Hoje, restritos em nossas individualidades, é comum passarmos por cima até dos nossos afetos. O mundo encolheu.
Estamos promiscuamente embolados, sem espaço para ampliar nossa existência. O mundo encolheu e alguns vão sobrar. Já estou com meio corpo pra fora.
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* Escritora. Colunista da ZH
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/19/12/2012
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