Juremir Machado da Silva*
Imprensa: números e perdas
Por Hanne por Isabelle
Não passa um mês, não passa uma semana sem o anúncio do fechamento de
um jornal e sem a oficialização de demissões. Desde o início de
setembro, a crise da imprensa europeia parece se acelerar, e as más
notícias estão se acumulando, de Lisboa a Londres.
Este ano, a França perdeu dois jornais diários: France-Soir foi
finalmente liquidado, e, no Tribune, um novo programa de recuperação e
demissões será anunciado, com passagem à periodicidade semanal em
suporte digital. A imprensa está especialmente doente no sul da Europa,
duramente atingida pela crise econômica. Três jornais gregos foram
fechados em dois anos. Portugal, Itália e Espanha anunciaram medidas de
recuperação e programas de demissão voluntária sem precedentes. A onda
chegou até a Alemanha, muito mais preservada até agora nesta área.
Na América do Norte, dez anos à frente da estagnação da imprensa
europeia, os mesmos fatores explicam esta crise estrutural: mudança de
hábitos de leitura, queda das vendas e das receitas de publicidade,
concorrência com a quantidade de informação gratuita na Internet … mau
presságio para a imprensa européia: nos Estados Unidos, onde, após um
pico em 2008, com 13.000 demissões de jornalistas, a crise não tem fim.
Newsweek, que perdeu metade dos seus leitores em 20 anos, abandonará a
edição impressa até o fim deste ano. Uma medida drástica que deve ser
acompanhada de cortes em sua força de trabalho. O New York Times
recentemente anunciou mais um programa voluntário de demissões, que
poderá ser acompanhado por demissões diretas se as economias não forem
suficientes.
Mas dos Estados Unidos ainda vem uma boa notícia. Editores de
jornais europeus examinam com grande interesse os resultados da
implementação de “paywalls” em sites de notícias norte-americanos. The
New York Times explora há vários meses esta fórmula: o leitor pode ter
acesso a uma quinzena de artigos. Para além disso, ele deve se tornar
assinante. Uma oferta que permite ao leitor descobrir conteúdo gratuito
com um alto valor agregado. Como 300 outros sites nos Estados Unidos, o
Washington Post vai adotar um Paywall em 2013 e abandonar o seu
tudo-grátis. O diário suíço Le Temps também usa essa fórmula – adotada
antes mesmo de o New York Times.
Até agora, salvo o jornal Les Echos, que acaba de optar pelo
Paywall, os jornais franceses oferecem um “freemium”, uma parte
gratuita do site e outra, de mais alto valor, mediante pagamento. Eles
poderão mudar em breve de modelo. Se o Paywall não compensa as perdas
comerciais, ele teve algum sucesso: as versões digitais de The New York
Times e Financial Times já têm mais assinantes do que suas versões de
papel.
68 demissões na Grã-Bretanha
O Grupo Guardian News & Media Group, proprietário do The Guardian
e The Observer, anunciou na semana passada seu programa de 68
demissões (sobre 650 postos). A direção espera economizar £ 7.000.000
(8,7 milhões de euros). Trinta funcionários saíram num programa de
demissões aberto em julho. The Guardian optou desde o verão de 2011 por
uma estratégia “digital first”: alimenta principalmente o site,
completamente gratuito. Mas se ele atinge um grande público, o jornal
não consegue rentabilizar esse público e perde dinheiro: menos € 56,4
milhões em 2011.
Queda de 3,4% na circulação
Entre 2010 e 2011, a circulação de jornais Europeia caiu 3,4%, de
acordo com uma pesquisa, de 2012, da Associação Mundial de Jornais e
Editores de Notícias Mídia (WAN-IFRA). No mesmo período, caiu 4,3% na
América do Norte e aumentou 3,5% na Ásia e 4,8% no Oriente Médio e Norte
da África.
Dez milhões de economia no grupo belga Rossel
Rossel anunciou, no final de novembro, um programa de reestruturação
para economizar 10 milhões de euros com seus títulos belgas (Le Soir e
Soir Magazine). Esse programa deve resultar em um mínimo de 30
demissões sobre 340 funcionários no total. O efetivo foi reduzido em 20%
em menos de quatro anos no jornal Le Soir. Segundo o grupo, que
pretende migrar para a internet paga, será preciso economizar pelo
menos 3 milhões de euros em 2013 para compensar uma queda de 5% na
receita de publicidade.
Na Suíça, o jornal Le Temps também está demitindo. De uma equipe de
144 pessoas, 18 foram cortadas no final de novembro. O diário em
francês, considerado uma referência da mídia suíça, disse em um
comunicado que “não foi possível superar a queda significativa no volume
de negócios em 2012 sem atingir os trabalhadores.” O programa de
reestruturação foi negociado com a equipe, que tem ajudado a reduzir o
número de demissões forçadas. Le Temps já havia cortado alguns postos
em 2006 e em 2009. “Nós ganhamos mais dinheiro com a Internet do que
antes, mas esses ganhos não compensam as perdas das vendas em papel”,
disse Valerie Boagno, diretor do jornal em uma entrevista para a
Tribune de Genève.
Dois jornais alemães desaparecem
A Alemanha perdeu dois jornais. O Frankfurter Rundschau pediu
concordata em meados de novembro. A empresa de mídia, que também tem uma
gráfica e uma editora, tem cerca de 500 funcionários. Criado em 1945, o
jornal de centro-esquerda imprimia 190.000 exemplares diários ainda em
2001, mas caiu para 118.000. Lançado em 2000, o Financial Times
Deutschland parou de ser publicado na última sexta-feira. A empresa –
Gruner + Jahr editora de revistas (Bertelsmann), cansou de perder
dinheiro. A segunda agência de notícias da Alemanha, DAPD, pediu
concordata e demitiu um terço dos seus funcionários. Até mesmo a grande
revista semanal Der Spiegel fala em austeridade, apesar de seus 900 mil
exemplares vendidos a cada semana. Ela perdeu cerca de 10% da receita de
publicidade este ano.
1250 empregos perdidos em Presstalis
Movimentos grevistas no Presstalis deixam com regularidade as bancas
francesas sem os principais jornais nacionais. A causa é a a
reestruturação drástica da principal distribuidora, que planeja suprimir
1.250 de seus 2.500 postos de trabalho. Como em toda a Europa, a
França sofre uma dupla crise: o colapso de vendas em banca, que caíram
25% entre 2008 e 2011, e menores receitas de publicidade, que caíram
8,1% no primeiro semestre de 2012. Resultado: programas de demissão no
jornal L’Équipe (46 demissões sobre 490), no Sud-Ouest (180
demissões), várias agências locais irão fechar e um espetacular
desmantelamento dos ativos de mídia do Grupo Hersant (GHM), fortemente
endividado. Somente o programa de recuperação do polo Champagne-Ardenne e
Picardia deve levar a 220 demissões.
13 milhões de tablets
Os editores de jornais colocam todas as suas esperanças nos tablets ,
que venderam mais 13 milhões de exemplares só na Europa em 2011. O
tempo gasto lendo artigos de jornais aumentou 75% entre os usuários de
tablets, e 63% dos consumidores preferem informações dos meios
tradicionais, de acordo com uma pesquisa do Sindicato de Revistas da
França. Para aproveitar esse entusiasmo, o diário Le Soir, lançou uma
oferta de assinatura de dois anos com tablet gratuito por um preço
variando de 23 a 41 euros por mês, dependendo do modelo. Lançado em 26
de novembro, já atraiu milhares de assinantes em uma semana. Les Echos
estudam uma oferta equivalente para o início de 2013. Na Grã-Bretanha, o
Times oferece um tablet a preço reduzido por uma assinatura de 18
meses
Seis países contra o Google
A Europa juntou-se numa frente comum por uma “Lex Google”. Alemanha,
França e Itália logo foram seguidas por Bélgica, Suíça e Portugal.
Editores de jornais históricos nesses seis países estão pedindo a seus
governos a adoção de uma legislação que obrigue o Google a pagar
direitos equivalentes ao de autor em troca de indexação de seus
conteúdos online.
Na França, um mediador foi nomeado para facilitar as negociações
entre os editores de jornais e o motor de busca. O governo deixou que as
partes negociem até o final do ano. Se não houver acordo, será a lei.
Redução de 60% das receitas de publicidade do “El País”
O grande diário espanhol El País, o carro-chefe do grupo Prisa,
mostrou uma redução de 60% de sua receita com publicidade entre 2007 e
2012. A direção se baseou nesses dados para estabelecer um programa de
reestruturação com 149 demissões de jornalistas, quase um terço da
força de trabalho. Aqueles que permanecem veem os seus salários
reduzidos em 15%. A crise da imprensa é o mesma em toda a Europa do Sul,
onde a crise se fortaleceu. Em dois anos, três jornais gregos,
Apogevmatini, Vima e Eleftherotypia, fecharam as portas. Em meados de
novembro, fontes sindicais indicaram que o primeiro grupo editorial
italiano, RCS Media Group, enfrenta uma dívida recorde e vai anunciar um
plano de reestruturação e de redução drástica de 10% de sua força de
trabalho, mais de 5.100 funcionários, incluindo cem demissões no
principal jornal italiano, Corriere della Sera … Portugal não está
melhor: O Público, diário de referência, demitiu 48 funcionários (sobre
250). Cortes no orçamento de mais de 30% estão previstos para a agência
de notícias Lusa em função das novas medidas de austeridade para 2013,
que devem levar a mais demissões.
Publicado no Libération em 11 de dezembro de 2012
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* Sociólogo.
Fonte: correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=3617
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