Alessandro Martins*
- eu fujo de relacionamentos (leia-se: relacionamentos monogâmicos)
- e que eu precisaria fazer análise por causa disso
A afirmação foi feita por uma psicóloga de modo indireto por conta da
citação de uma amiga muito querida em sua sessão de terapia.
Ora, a psicóloga não poderia estar mais certa em sua primeira
afirmação: claro que eu fujo de relacionamentos monogâmicos. Se eu
descobri que esse não é o relacionamento mais adequado para mim, o que
me deixa mais feliz e aquele vai me aproximar ainda mais do que sinto
que sou e que ainda quero me tornar, é claro que fujo desse tipo de
relacionamento. Embora fugir seja um verbo muito dramático, mais usado
pelos admiradores das comédias românticas. Eu simplesmente evito,
deixando claro às pessoas com quem me envolvo qual a minha natureza,
evitando os enganos e mágoas que costumam acontecer nos relacionamentos
tradicionais em que os pares não têm bem claro aquilo que querem. O que
me preocupa nessa afirmação, no entanto, é que os profissionais tenham
que estudar três ou quatro anos para fazê-la, visto que é óbvia. Ainda
que, sem o complemento do adjetivo monogâmico, a afirmação esteja
incorreta: eu não fujo de relacionamentos, pois tenho vários, de
diferentes qualidades, níveis e intenções, porém todos sinceros e
completos dentro de suas possibilidades, com maior ou menor intensidade.
Na segunda afirmação, porém, fico preocupado. Não entendo por que uma
pessoa que está buscando aquilo que a faz se sentir mais adequada
dentro do mundo precisa, de repente, fazer terapia para se encaixar ao
que o mundo acha adequado.
Estarão nossos psicólogos agindo de forma moralista? Ou aplicando seu
modo individual de ver a realidade, sem levar em conta as necessidades
de seus pacientes?
E mais: por que hierarquizar psicológica e socialmente certos relacionamentos como se os outros fossem menores?
Esses psicólogos andam vendo comédias românticas demais.
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* Cronista.
Fonte: http://alessandromartins.me/17/12/2012
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