Leonardo Boff*
A ética da sociedade dominante no mundo é utilitarista e
antropocêntrica. Quer dizer: falsamente considera que o conjunto dos
seres da natureza somente possui razão de existir na medida em que serve
ao ser humano e que pode dispor deles a seu bel-prazer.
Continua acreditando que o ser humano, homem e mulher é o centro do universo e rei e rainha da criação.
Mal sabe que, nós humanos, fomos um dos últimos seres a entrar no
teatro da criação. Quando 99,98% de tudo já estava pronto, surgimos nós.
O universo, a Terra e os ecossistemas não precisaram de nós para se
organizarem e ordenarem sua majestática elegância e beleza.
Cada ser possui valor intrínseco, independente do uso que fazemos
dele. Ele representa uma emergência daquela Energia de fundo, como falam
os cosmólogos, ou daquele Abismo gerador de todos os seres. Tem algo a
revelar que só ele o pode fazer. E nós a escutar e a celebrar o que nos
disser.
Nós entramos no processo da evolução quando esta alcançou um patamar
altíssimo de complexidade. Então irrompeu a vida e como subcapítulo da
vida, a vida humana, consciente e livre. Por nós o universo chegou à
consciência de si mesmo. E isso ocorreu numa minúscula parte do universo
que é a Terra. Por isso nós somos aquela porção da Terra que sente,
ama, pensa, cuida e venera. Somos Terra que anda, como diz o poeta e
cantador indígena argentino Atauhalpa Yupanqui.
A nossa missão específica, nosso lugar no conjunto dos seres, é o de
sermos aqueles que podem ver a grandeur do universo, escutar as
mensagens que cada ser enuncia e celebrar a diversidade dos seres e da
vida.
E porque somos portadores de sensibilidade e de inteligência temos
uma missão ética: de cuidar da criação e sermos os guardiães dela para
que continue com vitalidade e integridade e com as condições de ainda
evoluir já que está evoluindo há 4,4 bilhões de anos.
Cumpre, portanto, reconhecer e respeitar a história de cada ser da
criação, vivo ou inerte. Existiram antes de nós e por milhões e milhões
de anos sem nós. Por esta razão devem ser respeitados como respeitamos
as pessoas mais idosas e as tratamos com respeito e amor. Eles também
tem direito ao presente e ao futuro junto conosco.
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* Teólogo. Escritor. Ecologista.
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/12/28/nosso-lugar-no-conjunto-dos-seres/
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