terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O segredo dos olhos do Zenit

Claudia Belfort*

Pode o preconceito se sobrepor à paixão? Essa foi a primeira questão que me veio quando li sobre o pedido da torcida organizada do Zenit, atual campeão do futebol russo para que a equipe tenha apenas jogadores brancos e heterossexuais. Apenas para lembrar lá joga o brasileiro Hulk.


Lembro bem de uma cena do filme O Segredo dos seus olhos, quando o personagem Sandoval pergunta ao detetive Benjamim “Qual a única coisa que não muda em uma pessoa? Não se muda de paixão”, ele mesmo responde. E assim Benjamin desvenda o paradeiro do assassino, sabendo que ele era fanático pelo Racing, o detetive vai a uma partida do time contra o Huracán, em Buenos Aires, lá se depara com o autor do terrível crime, que seguiu sua paixão, mesmo sob a ameaça de ser encontrado.

Nesse caso a paixão se sobrepôs até a liberdade. Difícil entender por que esse sentimento que cega os apaixonados pode ser lesionado por diferenças.  A torcida até tentou  se explicar, como se houvesse explicação, mas só piorou. Disse em nota que o pedido nada tem a ver com racismo ”Para nós, a ausência de jogadores negros no Zenit é só uma tradição importante, que realça a identidade do time e nada mais.

Ôpa, achei uma pista da coisa: identidade. Sou eu que estou lá, aquele negro artilheiro também sou eu, aquele lateral gay também sou eu. Vivo por eles, morro por eles, canto por eles, beijamos o mesmo brasão. No fundo no fundo eu me identifico com eles, na paixão, no time, no desempenho, na alegria, na tristeza. Então negros e gays saiam da minha minha frente que não quero que ninguém saiba que fazemos parte da mesma paixão, não quero que ninguém perceba que sou igual a você e que morro de medo disso.

Para terminar,  uma dúvida que me atormenta:  como a torcida do Zenit vai verificar se um jogador é hetero ou não?
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* Claudia Belfort é jornalista, pernambucana, editora-chefe de conteúdos digitais do Estadão. É autora de Aqueronte, o rio dos infortúnios e inferniza a vida dos vizinhos diariamente tentando tocar sax.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/sinapses/o-segredo-dos-olhos-do-zenit/

Um comentário:

  1. Poderia ser dos meus pais essa educação: É muito superficial e não vejo de forma alguma a cor da pele, não vejos os trejeitos externos. Hoje ocorre-me: eu vejos os meus amigos, colegas de trabalhos, os familiares, do jeito que eles são, não vou mesmo modificar uma unica virgula da forma que eles são, quero estar do lados deles, haja o que houver mesmo discordando/brigando/dialogando/dando o maior apoio/amando/chorando juntos, vou estar dos lados deles.

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