Esther Solano Gallego
Quando
a política é conduzida por bufões, vence o senso comum que não tem
coragem para identificar os verdadeiros
problemas do Brasil
Talvez não exista em política nada mais perverso e indecente do que
banalizar as questões fundamentais da vida pública. Instrumentalizar os
dramas sociais para tomar impulso eleitoral. Manipular o sofrimento
alheio para ganhar um punhado de votos.
Nestes últimos meses temos assistido, horrorizados, a debates
escandalosamente simplórios sobre a redução da maioridade penal, com
espaço até para artimanhas inconstitucionais. A política da pior estirpe
em cena. Deputados utilizando o discurso do medo para subir nos degraus
eleitorais. A Casa do Povo, lugar onde o único elemento sagrado não
deveria ser o crucifixo e sim o respeito à coisa publica, transformada
em circo.
Quando a política de segurança pública é conduzida por bufões, por
homens autoritários ou simplesmente por sujeitos que desprezam a
sociedade, vencem a intolerância e o fundamentalismo. Vencem a estupidez
e a canalhice. Vence um perigosíssimo senso comum que não tem coragem
para identificar os verdadeiros problemas de Brasil e seus verdadeiros
algozes. Vence a morte sobre a vida.
Redução da maioridade penal, encarceramento em massa, revogação do
estatuto do desarmamento, endurecimento da política de drogas. Propostas
desastrosas, feitas desde a ausência de debate ou desde debates
ridículos, que infantilizam a sociedade, fomentando seus medos e seus
ódios.
Não podemos tolerar mais um país que mata seus jovens. Que mata seu
presente e seu futuro com a conivência dos “homens de bem” e dos que
ocupam as sombras e os becos poder.
O mínimo exigível aos que nos representam é que tenham a dignidade de
tratar a segurança pública, a vida e a morte, com respeito, com
conhecimento, motivados por algo maior que estratégias personalistas. O
Congresso não pode ser o lugar do ridículo, que faça o brasileiro sentir
vergonha ao escutar certos discursos, ao observar certos
comportamentos. Não pode ser o lugar do retrocesso, votando leis
retrogradas que legitimem e fomentem a desigualdade num país já corroído
por ela. Não pode ser o lugar da violência.
A política do banal, que reduz sem pudor as tragédias sociais a brinquedos, a vida a votos.
A política do espetáculo, grandiloquente, apelativa, mas que só deixa vazios e buracos escuros por trás de toda sua dramaturgia. A política do conservadorismo fundamentalista, que impõe a punição, o Estado penal, a prisão, a polícia como formas absolutas de resolver os conflitos.
A política que pensa a vida das periferias como esmola e não como direito.
Não. Não à política medíocre que trata a segurança pública como mero captador de votos.
Não à violência institucional que começa com debates mesquinhos e leis degradantes e injustas.
Não aos sujeitos tenebrosos que hoje dominam o Congresso.
A vida não é esmola. É direito.
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* Esther Solano Gallego é doutora em Ciências Sociais e professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Fonte: http://ponte.org/a-politica-do-faz-de-conta/ acesso 15/09/2015
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