Há um debate filosófico enorme sobre o que realmente significa “ser
feliz”, mas se você está à procura de respostas concretas, ele pode não
ser o suficiente. Em uma matéria publicada no site Life Hacker, o
redator Patrick Allan foi procurar o que a pesquisa científica diz que a
felicidade é, e – talvez mais importante – o que ela não é.
Todos sabemos o que sentimos quando estamos felizes, mas a verdadeira
fonte de nossa felicidade sempre foi difícil de identificar. Podemos
nos tornar mais felizes? Se sim, como? Como explica um professor de
História da Universidade Estadual da Flórida, Darrin M. McMahon, os
povos antigos, na verdade, enxergavam a felicidade mais como um sinal de
sorte.
"É um fato marcante que em todas as línguas indo-europeias, sem
exceção, chegando até o grego antigo, a palavra para a felicidade é um
cognato com a palavra para a sorte… O que este padrão linguístico
sugere? Para muitos povos antigos – e para muitos outros bem depois
disso – a felicidade não era algo que você poderia controlar”, aponta o
pesquisador.
Esse tipo de pensamento ainda é bastante comum hoje em dia. Um monte
de gente assume que ser feliz significa que você teve sorte ou que a sua
vida foi abençoada. A psicologia positiva, em combinação com outras
áreas científicas, como neurologia, tem feito muito progresso em
descobrir o que constitui a felicidade, e que temos algum controle sobre
ela.
Como medir e estudar a felicidade
Por mais abstrato que o conceito de felicidade possa parecer, ele é
estudado da mesma forma que qualquer outro conceito científico: com uma
grande variedade de experiências. Dacher Keltner, professor de
Psicologia na Universidade de Berkeley, na Califórnia, explica em seu
curso online “A Ciência da Felicidade” que existem quatro tipos
principais de estudos sobre a felicidade:
– Observação e experiência de amostragem: captura de pessoas em um
momento de suas vidas diárias. “O quão feliz você está quando está
lavando a louça? E no trabalho?”
– Estudos transversais / de correlação: estudos de levantamento nos
quais as pessoas respondem a um monte de perguntas sobre como se sentem
em um momento específico.
– Estudos longitudinais: quando a vida das pessoas é estudada ao longo do tempo para encontrar a trajetória de uma vida feliz.
– Estudos experimentais: experiências que permitem a prospecção de relações causais entre felicidade e fontes externas.
Até aí tudo bem, mas como é que realmente se mede a felicidade? A
resposta é extremamente simples (e imperfeita): autorrelato. Geralmente,
esses estudos fazem perguntas como “O quão satisfeito você está com sua
vida?” e “Diariamente, que tipo de emoções positivas e negativas você
sente?”. Não há liberações de energia para medir a felicidade, nem há
como contá-la em sua corrente sanguínea. Eles simplesmente utilizam
questionários para perguntar aos participantes do estudo se eles estão
felizes em um momento específico.
Pode parecer insuficiente, mas é o melhor que temos. A única pessoa
que pode dizer se você está se sentindo feliz ou não é você. Isso
significa que você é a ferramenta mais confiável para medir os seus
próprios níveis de felicidade (pelo menos até agora). Estes autorrelatos
podem ser feitos como apenas um levantamento, durante a experiência de
amostragem (ligando aleatoriamente para participantes e perguntando “O
que você está fazendo?” e “O quão feliz você está se sentindo agora?”),
ou às vezes relatado por outros por meio de indicadores comportamentais
(o que é particularmente bom no estudo de bebês e crianças).
Subdivisões da felicidade
O autorrelato está longe de ser perfeito, no entanto. Afinal,
sentir-se “feliz” pode significar coisas diferentes. É por isso que o
psicólogo vencedor do Prêmio Nobel Daniel Kahneman desenvolveu a análise
dos “quatro níveis de sentir”. Quando se trata de felicidade, ela pode
ser dividida em quatro domínios conceituais para esclarecer que tipo de
felicidade está sendo examinada. Por exemplo:
– Bem-estar: “No geral, minha vida está indo bem”.
– Traços: “Eu sou uma pessoa entusiasta e positiva”.
– Emoções: “Eu sinto gratidão e apreço”.
– Sensações: “É bom sentar nesta banheira de hidromassagem”.
Todas essas quatro coisas são meio que um sinônimo de felicidade, e
permitem que os participantes do estudo identifiquem mais cuidadosamente
que tipo de felicidade estão experimentando (ou sentindo falta).
Geralmente, os pesquisadores usam esses métodos para estudar a
satisfação com a vida e bem-estar em geral de uma pessoa, mas para ter
uma boa visão da felicidade de alguém, todos os domínios conceituais
precisam ser considerados. Por exemplo, saber que alguém com um alto
nível de satisfação com a vida também sente gratidão regularmente e
passa algum tempo em uma banheira de hidromassagem poderia ser útil para
determinar correlações e, talvez mais adiante, a causalidade.
Para tornar a felicidade um pouco mais fácil para os pesquisadores
medirem, Edward F. Diener, professor de psicologia na Universidade de
Illinois em Urbana Champaign, nos Estados Unidos, desenvolveu um índice
chamado de bem-estar subjetivo. Ele permite que psicólogos definam com
mais precisão a felicidade como uma combinação de satisfação com a vida e
a frequência relativa de emoções positivas e negativas com vários
métodos de autorrelato. Há duas partes:
– Escala de Satisfação com a Vida: este é um questionário de
autorrelato de cinco partes que torna possível medir numericamente a sua
satisfação geral com a vida.
– Escala de Afeto Positivo Afeto Negativo: a EAPAP também é um
questionário de autorrelato que pergunta que emoções você está sentindo
naquele momento.
A combinação dos dois é o que compõe o seu bem-estar subjetivo. O seu
“nível de felicidade” em qualquer momento é igual a sua Satisfação com
Vida mais a sua pontuação no EAPAP. Claro, sua felicidade flutua, então
sua pontuação só mede o quão feliz você está se sentindo naquele
momento. Você pode responder os questionários várias vezes para ter uma
pontuação média ao longo de dias ou meses. Com o conhecimento de como a
ciência explora a felicidade, você pode começar entender como a ciência
psicológica a define (e como você pode usar isso para ficar mais feliz).
Apesar disso, têm existido controvérsias no campo de estudos
psicológico ultimamente. Um grande estudo recente conhecido como
Reproducibility Project e publicado na íntegra na revista “Science”
encontrou poucos estudos psicológicos que poderiam ser reproduzidos com
resultados semelhantes. Como o “The New York Times” observa, os
principais focos deste estudo foram estudos realizados sobre a
aprendizagem, memória e cognição, e não estudos sobre a felicidade ou
outros ramos da psicologia positiva. É sempre bom ter em mente que não
importa o que os estudos possam sugerir, os resultados não são sempre
absolutos.
O não é felicidade, segundo a ciência
Talvez a melhor maneira para a ciência de tentar definir a
felicidade, ou qualquer outra coisa, é com o processo de eliminação. Se
você aprender que não é felicidade, você vai, pelo menos, conseguir
restringir o seu conceito do que é felicidade. Emiliana Simon-Thomas,
diretora de ciência no Greater Good Science Center da Universidade de
Califórnia Berkeley, explica que existem algumas regras básicas que os
estudos determinaram ao longo dos anos sobre o que a felicidade não é:
– Ter todas as suas necessidades pessoais atendidas;
– Sentir-se sempre satisfeito com a vida;
– Sentir prazer o tempo todo;
– Nunca sentir emoções negativas.
Surpreso? Se a resposta for sim, a sua definição de felicidade pode
estar um pouco errada. O que o Greater Good Science Center da
Universidade de Berkeley descobriu com suas pesquisas é que a verdadeira
felicidade é mais sobre a paz geral da mente, focando no bem maior. A
felicidade não é sobre querer mais, sempre se sentir “bem”, ou até mesmo
estar satisfeito com cada aspecto de sua vida. Hedonismo, ou a busca do
prazer e auto-indulgência, provou trazer surtos temporários de
felicidade, mas como a pesquisa de Kahneman explica, não é eficaz em
manter sua felicidade geral ao longo do tempo.
Uma parte muito importante da equação da felicidade são os
sentimentos negativos que você pode estar sentindo agora. Por mais
agradável que possa parecer, a felicidade não é a ausência de
sentimentos negativos. Segundo Vanessa Buote, pós-doutoranda em
psicologia social, a verdadeira felicidade está em lidar com o bem e
mal: “Um dos equívocos sobre a felicidade é que a felicidade é estar
alegre, contente e bem disposto o tempo todo; sempre ter um sorriso em
seu rosto”, diz ela.
“Não é – ser feliz e ter uma vida rica é sobre
lidar com o bem e o mal, e aprender a reformular o mal”.
Você pode ter sentimentos negativos e estar feliz em geral com a sua
vida ao mesmo tempo. Na verdade, aprender a fazer isso é essencial para
ser uma pessoa mais feliz.
As limitações de buscar a felicidade
Agora já sabemos como a ciência define a felicidade, mas isso é
apenas a primeira metade da equação. A questão mais importante é: você
pode se tornar mais feliz? A resposta curta é sim, mas exceto por
medicamentos destinados a ajustar os desequilíbrios químicos, não há
nenhuma “pílula mágica” para isso. É preciso algum esforço consciente, e
mesmo assim, existem algumas limitações.
Em primeiro lugar, você provavelmente tem um “padrão” definido
geneticamente determinando a sua felicidade. Isso significa que,
conforme aponta Sonja Lyubomirsky, pesquisadora da Universidade da
Califórnia, Riverside, os seus genes herdados podem ser o que te mantém
em seu estado atual, ou “crônico”, de felicidade. Se você vem de uma
longa linhagem de pessoas melancólicas, você pode simplesmente ser uma
pessoa um pouco melancólica. Os seus genes também podem definir um
limite máximo para o quão feliz você poderá ser. Essencialmente, sua
felicidade é parte de sua personalidade, parte de quem você é. De acordo
com Lyubomirsky, estudos longitudinais têm demonstrado que a felicidade
das pessoas permanece bastante estável ao longo de suas vidas, então
nada vai fazer você ir de miserável para a pessoa mais feliz do mundo.
Em segundo lugar, você pode definir limitações para você mesmo quando
tenta demais ser feliz. Lahnna I. Catalino, da Universidade da
Califórnia em San Francisco, sugere que buscar excessivamente a
felicidade pode se voltar contra você. Ela adverte que você deve evitar
tratar a sua felicidade de maneira extrema. Não estabeleça metas irreais
para si mesmo e não tente apenas sentir emoções positivas o tempo todo:
você com certeza irá falhar, o que vai – ironicamente – levar à
infelicidade.
“O importante não é qual terapia você segue, mas que você fique
fundamentado no senso comum, e seja qual for a terapia ou terapias que
você está seguindo, pergunte-se repetidamente, ‘Já cheguei ao meu
limite?'”, afirma Michael Bennett, psiquiatra e coautor do livro “F*ck
Feelings”. “Assim, você não fica preso no ‘se eu fizesse isso melhor’ ou
‘se eu fizesse mais’ ou ‘se eu encontrasse um terapeuta melhor’. É mais
‘Essa terapia me levou tão longe quanto eu posso ir, então o que eu vou
fazer agora?'”
Lembre-se, você tem um limite que você não pode controlar. Não quebre
a cabeça com isso: você está apenas sendo você mesmo. Em vez de tentar
forçar-se a ser feliz, Catalino aconselha que simplesmente reflitamos
sobre os momentos e atividades que nos dão alegria.
Os fatores comuns das pessoas mais felizes
A verdadeira felicidade e contentamento não é uma única coisa. É o
culminar da genética, sentimentos, emoções, personalidade e outras
variáveis da vida e circunstâncias. O pequeno segredo sobre a
felicidade é que os pesquisadores ainda estão debatendo sobre isso e nós
não ainda sabemos exatamente o que ela é. Mas as pesquisas que já
existem nos dão uma boa ideia. Mesmo que todo mundo tenha suas próprias
limitações, existem coisas que você pode fazer para tentar conseguir o
seu nível máximo pessoal de felicidade.
Especificamente, praticar muito exercício (especialmente com um
objetivo definido em mente), dormir bastante, desenvolver a inteligência
emocional e investir em experiências ao invés de bens materiais são
bons lugares para começar. Se você ainda não tem certeza do que você
deveria estar fazendo, temos mais um método. Este, chamado PERMA, foi
criado por Martin Seligman, fundador da psicologia positiva, e publicado
em seu livro “Flourish”, e representa os cinco elementos principais que
compõem o bem-estar:
– Emoção positiva: paz, gratidão, satisfação, prazer, inspiração, esperança, curiosidade e amor se enquadram nesta categoria.
– Engajamento: nos perdermos em uma tarefa ou projeto que nos
proporciona uma sensação de “tempo desaparecido” por estarmos tão
altamente engajados.
– Relacionamentos: as pessoas que têm relações significativas e
positivas com os outros são mais felizes do que as que não o fazem.
– Significado: o significado advém de servir uma causa maior do que
nós mesmos. Seja uma religião ou uma causa que ajuda a humanidade de
alguma forma, todos nós precisamos de significado em nossas vidas.
– Realização: para sentir satisfação significativa na vida, devemos nos esforçar para melhorar a nós mesmos de alguma forma.
Ainda há muito para aprendermos quando se trata da ciência da
felicidade, mas, até agora, estudos têm provado que é mais do que sorte.
De fato, muitos pesquisadores argumentam que a questão não é nem mesmo
quais são as circunstâncias da sua vida, mas como você encontra uma
maneira de desfrutá-la de qualquer forma. [Life Hacker]
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Fonte:http://hypescience.com/o-que-ciencia-ja-sabe-sobre-felicidade/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+feedburner%2Fxgpv+%28HypeScience%29
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