"Há muitos postulados tácitos na crítica literária, um dos quais sendo o de que quanto mais se escreve, maior a tendência de que a obra seja menos notável. Joyce Carol Oates, autora de mais de 50 romances (sem contar os 11 escritos sob os pseudônimos de Rosamond Smith e Lauren Kelly) compreende perfeitamente o pouco caso de críticos para escritores prolíficos. Em um de seus diários, ela escreveu que parecia criar "mais, certamente, do que o mundo literário permite a um escritor 'sério'".
Como acontece na maioria dos postulados que envolvem percepções subjetivas, a ideia de que a produção prolífica é sinônimo de baixa qualidade deve ser tratada com cautela. Na maior parte dos casos, isso parece verdadeiro. Certamente ninguém vai oferecer ao escritor policial John Creasey, autor de 564 romances sob 21 pseudônimos diferentes, o prêmio de destaque literário. Ele e suas criações (a série The Toff, o detetive Roger West, Sexton Blake, etc.) em grande parte foram esquecidos.
O mesmo vale para a romancista britânica Ursula Bloom (mais de 500 obras publicadas, sob vários pseudônimos), Barbara Cartland (mais de 700) e uma série de outros. Pode-se lembrar da frase célebre de Truman Capote sobre Jack Kerouac: "Isso não é escrever, é digitar".
No entanto, alguns autores prolíficos deixaram sua marca na memória do público. Consideremos Agatha Christie, indiscutivelmente a autora mais popular do século XX, cuja obra inteira continua sendo impressa. Ela escreveu 91 livros, 82 com seu próprio nome e nove sob pseudônimo — Mary Westmacott — ou o nome de casada, Agatha Christie Mallowan.
Suas obras podem não ser literárias, mas são bem superiores ao texto trivial de John Creasey, algumas sendo surpreendentemente boas. Christie criou dois personagens — Miss Marple e Hercule Poirot — que conquistaram certa imortalidade. Adicione a isso a unidade estilística e temática dos romances de Christie (o calor aconchegante dos cenários e os estereótipos britânicos, inseridos no âmbito de sua avaliação surpreendentemente fria da natureza humana) e torna-se necessário avaliar esses muitos livros sob uma perspectiva diferente.
O mesmo pode ser dito do escritor prolífico de meados do século XX, John D. MacDonald. Seus livros de Travis McGee agora parecem vergonhosamente envelhecidos, e muitas de suas mais de 40 obras independentes são uma combinação indigesta de Ernest Hemingway e John O'Hara, mas, quando MacDonald deixou seus ídolos literários de lado e escreveu estritamente para si mesmo, ele fez um trabalho impressionante. Seus melhores romances, "The End of the Night" e "O último fica vivo", atingem o nível da transmutação extrema que chamamos de literatura norte-americana.
Ninguém em seu perfeito juízo diria que quantidade garante qualidade, mas sugerir que quantidade nunca produz qualidade soa esnobe, fútil e comprovadamente falso.
Considere a outra extremidade do panorama. Donna Tartt, uma das melhores romancistas norte-americanas a surgir nos últimos 50 anos, publicou apenas três obras desde 1992. Jonathan Franzen, o único autor norte-americano capaz de rivalizar com ela, publicou cinco (seu mais recente, "Purity", será lançado em breve).
É fácil olhar para esses poucos livros, todos de extraordinária qualidade, e concluir que quanto menos, melhor. Talvez: o recentemente aposentado Philip Roth escreveu muito mais do que os dois juntos, e "Our Gang" foi horrível. Por outro lado, "Pastoral americana" me parece um romance muito superior a "O pintassilgo", de Tartt, ou "Liberdade", de Franzen.
Sou um alcoólatra em recuperação, sem beber há quase 27 anos, e hoje em dia a ideia de beber raramente passa por minha cabeça. Contudo, quando penso nos oito romances de Tartt e Franzen — não suficientes para preencher nem um quarto de uma prateleira — lembro-me de um almoço com minha esposa não muito tempo depois de ficar sóbrio.
Havia duas senhoras de idade em uma mesa próxima. Estavam conversando animadamente sobre suas refeições, enquanto seus copos de vinho branco pela metade permaneciam esquecidos na mesa. Senti um forte impulso de levantar da cadeira e falar com elas. Só que era errado. Tive ímpetos de questioná-las. Queria dizer "por que não estão bebendo o vinho? Ele está parado ali, pelo amor de Deus. Alguns de nós não podem beber vinho, não temos esse privilégio, mas vocês podem, então por que diabos não o fazem?"
Os longos intervalos entre livros de autores talentosos me causam o mesmo incômodo. Sei que cada um de nós trabalha em uma velocidade diferente, e com um processo ligeiramente distinto. Entendo que esses escritores são cuidadosos, querendo que cada frase — cada palavra — tenha seu peso (ou, lembrando o título de uma das melhores obras de Jonathan Franzen, tenham tremor). Sei que não é preguiça, mas respeito pelo trabalho, e sei por experiência própria que a pressa é inimiga da perfeição.
Mas também sei que a vida é curta, e que, no fim, nenhum de nós é prolífico. A chama da criatividade esmorece, e a morte a apaga. William Shakespeare, por exemplo, não escreve uma nova peça há 400 anos. Isso, meus amigos, é bastante tempo.
Isso não é uma forma indireta de eu justificar minha própria produção abundante. Sim, já publiquei mais de 55 romances. Sim, usei um pseudônimo (Richard Bachman). Sim, certa vez publiquei quatro livros em um ano (a exemplo de James Patterson, exceto que os meus eram mais longos e sem a ajuda de um colaborador). E sim, uma vez escrevi um romance ("O concorrente") em uma única semana. Mas posso dizer, com total sinceridade, que nunca tive escolha.
Quando jovem, minha cabeça era como um cinema lotado em que alguém gritava "Fogo!", com todo mundo procurando as saídas ao mesmo tempo. Tinha mil ideias, mas apenas dez dedos e uma máquina de escrever. Houve tempos — sem brincadeira ou exagero — nos quais pensei que todas as vozes clamando em minha mente me enlouqueceriam. Naquela época, entre meus 20 e 30 anos, pensei muitas vezes no poema de John Keats que começa com "Se tenho medo de meus dias terminar/Antes de a pena me aliviar o espírito...”
Imagino que foi assim com Frederick Schiller Faust, mais conhecido como Max Brand (e mais conhecido como o criador do Dr. Kildare). Ele escreveu pelo menos 450 romances, uma façanha ainda mais notável por sua saúde precária e morte prematura aos 51 anos. Alexandre Dumas escreveu "O Conde de Monte Cristo" e "Os três mosqueteiros" — e outras 250 obras. E Isaac Asimov, que vendeu seu primeiro conto aos 19 anos, escreveu mais de 500 livros e revolucionou a ficção científica.
Minha tese aqui é simples: a proficuidade às vezes é inevitável e tem o seu lugar. A definição de profícuo — "que se consegue tirar proveito; que alcança o resultado esperado; lucrativo ou frutífero" — tem um tom otimista, pelo menos para meus ouvidos.
Nem todo mundo concorda. Lembro-me de uma festa onde um autoproclamado juiz de gostos literários brincou que Joyce Carol Oates era como a velhinha que morava em um sapato e tinha tantos filhos que não sabia o que fazer com eles. Na verdade, Oates sabe exatamente o que está fazendo e por que está fazendo. "Tenho mais histórias para contar", ela escreveu em seu diário, e "mais romances". Fico contente por isso, porque eu quero lê-los."
*** Acesse o texto original aqui.
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