Teólogo brasileiro
Carlos Alberto Libânio Christo -
conhecido por Frei Betto
Religioso dominicano, escritor e teólogo brasileiro
Religioso dominicano, escritor e teólogo brasileiro
“Francisco é hoje o mais
importante estadista mundial”
Entrevista com Frei
Betto
A visita de Francisco a Cuba é a
terceira de um papa ao país e ganha mais importância pela aproximação entre
Havana e Washington, na qual o pontífice teve papel fundamental.
"Francisco é, sem dúvida, o mais
importante estadista mundial da atualidade. Ele se empenha na busca de
entendimento e paz entre as nações e não poderia deixar de priorizar as
relações EUA-Cuba", afirma frei Betto,
escritor e teólogo brasileiro. Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele
ressaltou a "sintonia" da relação do papa com a Teologia da
Libertação e avaliou que a atuação política de Francisco difere da exercida
por Bento XVI e João Paulo II. A seguir, os principais trechos da
entrevista.
Qual é o principal objetivo da
diplomacia papal hoje? Difere da época do papa Bento XVI?
Frei Betto: Muito diferente. João Paulo II, em
matéria de diplomacia, esteve preocupado em derrubar o Muro de Berlim, e nisso
foi exitoso. Bento XVI não gostava de viajar e muito menos se envolver em
questões diplomáticas. Já Francisco se empenha decididamente em construir
pontes entre as nações, o que justifica seu título de "pontífice",
aquele que faz pontes.
Qual a importância de um papa
latino-americano ter mediado a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e
Estados Unidos?
Frei Betto: Francisco é, sem dúvida, o mais
importante estadista mundial da atualidade. Como americano, demonstra mais
sensibilidade aos problemas de nosso continente do que os antecessores. Ele se
empenha na busca de entendimento e paz entre as nações e não poderia deixar de
priorizar as relações EUA-Cuba, suspensas há mais de 50 anos e retomadas graças
à mediação dele.
Como o sr. vê a relação de Francisco
com a Teologia da Libertação?
Frei Betto: Há plena sintonia entre o pensamento,
as palavras e os gestos de Francisco e os princípios e objetivos da Teologia da
Libertação. Como essa corrente teológica, Francisco prioriza a "opção
pelos pobres", como demonstrou na viagem ao Equador, à Bolívia e ao
Paraguai, e não aponta apenas os efeitos do capitalismo que degrada o meio
ambiente, mas também as causas, como fez na encíclica "Louvado Sejas -
sobre o cuidado de nossa casa comum".
Livro de Frei Betto contendo suas
conversas
com o líder cubano Fidel Castro. Publicado em 1985, em Cuba |
Muitas pessoas passaram a prestar mais
atenção ao papa após os discursos de Francisco. O sr. já conversou com ele?
Qual a impressão que teve?
Frei Betto: O papa me recebeu no dia 9 de abril de
2014, durante a audiência pública das quartas-feiras, no setor de convidados
especiais. Agradeci a ele o apoio dado às Comunidades Eclesiais de Base do
Brasil, em carta que ele enviara ao encontro nacional das CEBs; pedi que
valorizasse o papel das mulheres na Igreja (ainda consideradas fiéis de segunda
classe, pois são impedidas de acesso ao sacerdócio); lembrei que a Ordem
Dominicana faz 800 anos em 2016, e solicitei a reabilitação de dois confrades
meus condenados pelo Vaticano, Giordano Bruno e Mestre Eckhart.
Ele me disse "reze por isso", como quem dá a entender que está de
acordo, mas sabe que não será um processo fácil; e me despedi dizendo Santo
Padre, extra pauperis nulla salus - fora dos pobres não há salvação. Ele
reagiu enfático: "Estou de acordo, estou de acordo".
É possível comparar a atuação de
Francisco na retomada das relações Cuba-EUA com a de João XXIII ao não cortar
relações com o governo de Fidel Castro?
Frei Betto: Francisco comemorará, no fim de semana
que estará em Cuba, 80 anos da relação diplomática entre a Ilha socialista e a
Santa Sé. Jamais se cogitou a ruptura de relações entre os dois Estados, mesmo
nos períodos de conflito entre a Revolução e o episcopado cubano. Fidel sempre
manteve boas relações com os núncios, como sublinha na entrevista que me
concedeu em 1985 e editada sob o título "Fidel e a religião".
George W. Bush é que tentou evitar que João Paulo II visitasse Cuba em 1998,
mas fracassou. O papa não só fez a visita, como também elogiou as conquistas da
Revolução nas áreas de saúde e educação.
O sr. acredita que o fato de o Vaticano
ter reconhecido o Estado da Palestina pode mudar o rumo do conflito entre
Israel e os palestinos?
Frei Betto: Acredito que foi um importante passo
para a defesa dos direitos e a soberania dos palestinos, e para enfatizar o
equívoco da atual política do Estado de Israel em relação ao Estado Palestino.
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Fonte: O Estado de S. Paulo – Internacional– Domingo, 20 de setembro de 2015 –
Pgs. A12-A13. Edição impressa.
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