Diretor do Instituto da paz e dos
conflitos da Universidade de Granada, espanhol, criador do conceito de “paz
neutra”, esteve no Rio para colóquio na Uerj
“Nasci em Molvízar,
Granada, e tenho formação variada, de gestão ambiental, filosofia/ letras e
professorado, a um doutorado em humanidades e especialidade em direito do
urbanismo. Minha pesquisa tem se centrado nos temas: ‘conflito cultural:
juventude, racismo e migração’, ‘teoria e e história da antropologia’ e
‘estudos de paz’"
Conte algo que
não sei.
Em geral, estamos
acostumados a ver a violência direta, estrutural, sem fazer sequer o esforço de
analisar a violência cultural e simbólica. É essa violência que se tenta
neutralizar através do conceito que criei, o de “paz neutra”, que age nos
padrões específicos de cada sociedade, de modo a reorganizar as relações entre
os indivíduos, a família e os grupos, dentro de seu conjunto.
Qual a
especificidade da violência no Brasil?
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É a violência
silenciosa, que atinge sobretudo a população pobre, mais sujeita a ela, que não
tem recursos para se proteger. As autoridades pactuam com isso, por ser uma
forma indireta de eliminar essa população. É uma espécie de homicídio, ou
suicído, social: não é visível e há um silêncio cúmplice da sociedade, que
pouco informa sobre esse estado de coisas.
Você lançará um
livro sobre prostituição. O que nos conta?
A maioria das
relações interpessoais e familiares são hoje muito frágeis, o que obriga as
pessoas a pagarem por serviços sexuais. Na Espanha, 50% dos homens que recorrem
a prostitutas são casados. O turismo só funciona por causa dos puteiros, do
álcool e da droga. A maioria não viaja para ver catedrais e monumentos, mas
para conhecer outras pessoas ou buscar uma sexualidade pornográfica idealizada
através de filmes, e ausente do entorno imediato.
Por que
mulheres ainda se prostituem?
É um tipo de mulher
que se atrai por um modo de ganhar dinheiro rápido. Acaba entrando numa adição
por dinheiro, e o vício renova o ciclo, só interrompido quando seu corpo perde
o valor de produto e deixa de ser competitivo.
O que acha da
alternativa de legalização?
Eu defendo. A
prostituição foi a profissão que permitiu à mulher, pela primeira vez na
história, libertar-se. Mas nunca virou uma profissão de fato. Uma vez que há
mulheres que ainda recorrem a ela, a legalização faz com que não haja tantos
abusos e permite um controle mínimo de higiene, pensões, trabalho e impostos.
Se isso se faz na Alemanha, na Holanda, porque não fazê-lo em outras partes do
mundo?
O assunto do
momento envolve outro tipo de contingente excluído: os imigrantes sírios. O que
diz a respeito?
A Europa, ao lado dos
Estados Unidos, criou o conflito na Síria para tentar derrubar o presidente
Assad, que não permitia a passagem de um gaseoduto. Depois apareceu o Estado
Islâmico, pressionado a alvejar Assad, mas a situação saiu do controle. Da
minha parte, incentivo os sírios a irem todos para Alemanha.
Por quê?
É a voz pensante e
pagadora da fatura europeia. Foi o cérebro disso, e deve ser responsabilizada.
Além do que, falta população à Alemanha. Acho que é interessante repopular a
Europa com sírios. A maioria é de mulheres e crianças, o que poderia ser útil
num processo de alteração da demografia.
Você imagina
um mundo com cinco ou seis potências regionais e só uma moeda?
Claro, isso seria o
ideal. Blocos culturais e econômicos a jogarem com as mesmas regras. Por que é
que os chineses são mais competitivos? Porque desvalorizam a sua moeda e
escravizam boa parte da sua população. Se as regras de jogo fossem as mesmas,
os níveis de justiça decerto subiriam.
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Reportagem por Sara Sanz
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