Na sua primeira edição do ano, a revista Nature convidou 18 especialistas para responder à pergunta:
"Como estará seu campo de pesquisa em 2020?" Cientistas de áreas tão diferentes como a demografia, as pesquisas energéticas e a biologia sintética formularam previsões, sem omitir possíveis obstáculos para os avanços.
Entre os pontos comuns estão, por exemplo, a necessidade de financiamento, principalmente em um mundo pós-crise econômica, e o foco em pesquisas que envolvam tecnologias sustentáveis. Ao apontar as previsões, aparecem desde questionamentos hoje já colocados - "Quantos planetas semelhantes à Terra existem?" - até projetos futuristas. Nesses está a previsão de Peter Norvig, da Google, de que a próxima década deverá aposentar o teclado como principal dispositivo para as buscas na internet: perguntas faladas substituirão as frases digitadas. E ocorrerão as primeiras experiências de buscas coordenadas pela leitura de sinais do cérebro.
Até hoje, boa parte das terapias para doenças mentais apenas diminui os sintomas observados. Com os avanços dos próximos dez anos, o psiquiatra americano Daniel Weinberger prevê que será possível propor terapias e diagnósticos baseados nas complexas causas biológicas das doenças, e não só nos sintomas. "Estaremos prestes a realizar o sonho de Freud de uma psicologia biológica", diz o cientista.
Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria da USP, concorda. "Estamos ingressando na era da medicina personalizada: os tratamentos serão específicos", aponta. Para David Goldstein, da Universidade Duke, responsável pela seção Medicina Personalizada no artigo da Nature, "milhões de pessoas poderão ter seus genomas sequenciados".
Os debates éticos também deverão se acirrar. Hoje, discute-se o aborto nos casos de anomalias consideradas incompatíveis com a vida. No futuro, será possível identificar, ainda no útero, quando um embrião tem grandes chances de desenvolver um certo tipo de tumor ou uma doença psiquiátrica grave. Goldstein aposta que o debate será mais complexo.
Os cientistas apontam ainda para um mundo mais verde. Daniel Kammen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, acredita que 80% da matriz energética poderá vir de fontes limpas, como vento, luz do Sol ou energia nuclear. Segundo o cientista do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares José Augusto Perrotta, o sonho pode se tornar realidade, mas depende do comprometimento dos países que mais consomem carvão e óleo para produzir energia: China, Rússia, Índia e Estados Unidos.
O futuro também ajudará a elucidar o passado. Leslie Aiello, da Fundação Wenner-Gren, aposta em um maior investimento na procura de fósseis de antepassados humanos na Ásia. Até agora, África e Europa concentram as descobertas.
Os tradicionais chips eletrônicos poderão ser substituídos por circuitos biológicos.
Lasers mais precisos permitirão discos com armazenamento na ordem dos petabytes - dez mil vezes a capacidade de um computador de mesa hoje.
A reportagem é de Alexandre Gonçalves e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-01-2010.
Postado por IHU/Unisinos online, 06/01/2010
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