Sérgio da Costa Franco*
Anuncia-se uma Campanha da Fraternidade, lançada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil, a qual pouco tem de fraternal. Em nome de velhos preconceitos contra o capital e o progresso econômico, e de superadas utopias socialistas, algumas confissões cristãs, inclusive a católica romana, propõem-se a agredir o espírito de lucro e o agronegócio, como se estes fossem males infernais.
Diz-se que também combaterão o capital especulativo, o sistema financeiro internacional e os excessos do consumo, o que talvez fosse louvável. Mas incluir no rol de seus alvos o saudável e indispensável ânimo de lucrar, que é o motor básico da iniciativa capitalista, é tolice carente de qualquer fundamento. Aí está a China comunista descobrindo, em tempo, que o segredo da prosperidade coletiva é a empresa estimulada pelo lucro. E quanto ao agronegócio – um rótulo abrangente de toda a atividade agrícola voltada para o mercado –, ele tem sido no Brasil o instrumento maior do progresso rural e das transformações sociais do interior do país.
O que pretendem esses clérigos retrógrados? A volta à agricultura de subsistência, o retorno aos tempos do Jeca Tatu, sem maquinário agrícola, nem adubação, nem economias de escala? De alguma forma compreende-se esse amor às velhas práticas da pequena agricultura colonial, quando o cura era a grande autoridade das picadas, um afortunado coletor de dízimos em causa própria. Lembro-me de uma comarca em que trabalhei e onde lutei contra a famosa fraude do “trigo-papel”. Ao fazer-se um levantamento das quantidades reais de cereal que cada colono vendera ao Banco (toda a comercialização naquele ano seria com o banco oficial), verificou-se que o maior “produtor” era o vigário da localidade, com nada menos de 600 sacos em seu paiol. Em verdade não plantava nada, mas arrecadava em espécie, como dízimo, muito mais que os seus esforçados paroquianos. Essa talvez fosse a virtude maior da pequena agricultura...
O capital meramente especulativo, que entra e sai à socapa nas bolsas de valores, e que se refugia em ilhas de imunidade fiscal, esse merece ser combatido e controlado. Não o capitalismo produtivo, que investe na agricultura, na indústria, no comércio e nos serviços, que mobiliza e remunera trabalhadores, promovendo-lhes a ascensão social e cultural. Esse capitalismo é mais generoso e fraternal que todas as igrejas. E o país mais padece pela sua ausência ou escassez. Já um velho líder comunista, mais atilado que seus sucessores da atualidade, costumava dizer que o Brasil sofria menos pela exploração capitalista do que pela carência de capital empreendedor.
O desenvolvimento capitalista em nosso país, desde a superação do ciclo inflacionário, tem proporcionado elevação de renda das classes menos favorecidas, aumento numérico das camadas médias, visível incremento do consumo de massa. Não é hora de se pretender, em nome de demagógica “fraternidade”, combater a livre iniciativa e tentar reduzir-nos a uma grande Cuba, subdesenvolvida e pobre.
________________________* Historiador
FONTE: ZH online, 21/02/2010
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