Vendas de produtos de luxo cresceram mesmo durante o ano passado e
número de clientes também aumentou
Uma geladeira que custa R$ 39,9 mil, um jogo de lençol a R$ 5 mil ou uma garrafa de vinho a R$ 2 mil são luxos para pouquíssimos. Mas tem muita gente que compra. E esses clientes estão aumentando.
Dispostos a pagar o preço alto, eles exigem mais qualidade e procuram tentar parcelar o pagamento.
Adriana Degreas vende biquínis para mulheres "com nome e sobrenome", como ela mesma explica. O duas-peças pode chegar a R$ 400. A estilista começou a produzir há quatro anos e, no ano passado, notou uma mudança discreta em seu público, que se ampliou. "O meu segmento não sentiu a crise batendo, mas a forma de pagamento se modificou, por exemplo. De qualquer forma, a minha clientela antiga continuou pagando à vista."
Diante da crise, baixar o preço não foi uma opção, justamente para que o produto não acabasse popularizado. Em vez de participar de grandes desfiles de moda ou lançamentos, Adriana opta por desfiles nas casas das próprias clientes. "Uma das grandes vantagens do mercado elitizado é que não tem inadimplência", diz ela.
No início de 2008, a KitchenAid - marca de eletrodomésticos sofisticados - chegou ao Brasil. Assim, acabou enfrentando um mercado "assustado" no primeiro semestre de 2009. Suas geladeiras podem custar R$ 39,9 mil, a mais cara, ou R$ 15,9 mil, a mais em conta. Se somar o fogão especial, ou melhor, o cooktop, são mais R$ 3,9 mil. Antonio Henriques, gerente de marketing da marca, não revela quantas unidades foram vendidas no Brasil, mas diz que, desde o fim de 2009, está tudo muito bem. Este ano, levando em conta que ainda tem uma base baixa, eles esperam crescer em 70% as vendas.
Vendedora de outro grande sonho de consumo, a joalheria H.Stern também não revela muitos dos seus dados de venda, mas informa que cresceu 15% em 2009, principalmente por causa do desempenho do último trimestre. Para este ano, a expectativa é também boa.
"O cliente está mais conhecedor do produto. No ato da venda, não se trata mais de um leigo, ele está disposto a gastar, mas quer saber a qualidade", comenta Angélica Marchi, gerente-geral da Enoteca Fasano no Rio de Janeiro.
O proprietário da loja de cama, mesa e banho Trousseau, Romeu Trussardi Neto, concorda com essa visão. Segundo ele, houve uma mudança "incrível" no perfil dos seus clientes, que hoje chegam a 85 mil. "Tenho certeza que alguns deles só agora estão conhecendo produtos diferenciados. A classe A ainda não recebeu todos os novos integrantes. Essa vinda vai gerar novos consumidores, sempre com responsabilidade, conscientes dos preços, pois eles sabem o quanto custou para chegar lá", comenta Romeu.
Para atender a esse público, a Trousseau fornece produtos importados de todo o mundo. Em 2009, como os demais segmentos, enfrentaram problemas no início do ano, mas acabaram crescendo 10% no balanço geral. Este ano, esperam manter este ritmo.
Integrante da classe A de longa data, Gisela Mac Laren, dona do estaleiro Mac Laren, esnoba boa parte desses sonhos de consumo. "Meu maior luxo neste momento é ter tempo. É poder ficar deitada na minha casa, vendo os pássaros pela janela", comenta a empresária. Gisela diz trabalhar "24 horas por dia". Com 15 anos, começou a frequentar o estaleiro com o pai e fez faculdade de economia nos Estados Unidos. Tem carro blindado e, nos fins de semana, vai para Angra de helicóptero - alugado. A família já teve avião, mas vendeu também.
"Se você tem dinheiro, alugue. Comprar só dá trabalho", sugere ela. Apesar das roupas sofisticadas e de gostar de joias, não dispensa programas mais populares, como uma cerveja no bar. Gisela diz que detesta shopping e, quando encontra uma roupa de que goste, compra várias iguais. A empresária não revela quanto gasta com nenhum desses itens de consumo, mas deixa claro que o fato de estar acostumada com eles fizeram dela menos consumista. Por ano, vai algumas vezes ao exterior, a passeio e a trabalho.
Sobre os últimos tempos, diz que "não tem nem comparação com os anos anteriores". Para melhor.
Atenta à expansão das classes A e B, a Multiplan anunciou, no início do ano, o lançamento do Village Mall, um shopping na Barra da Tijuca dedicado exclusivamente a esse segmento. Segundo o vice-presidente do grupo, Armando d"Almeida Neto, a percepção foi de que, assim como existe demanda para centros comerciais para a classe C, também há nichos no mercado mais sofisticado. O investimento será de R$ 350 milhões.
_____________________________
Reportagem Débora Thomé, RIO
Fonte: Estadão online, 21/02/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário