“Twitter é uma faca de dois gumes”
Professor da pós-graduação em Comunicação e Informação da UFRGS, Alex Primo é considerado um dos maiores especialistas brasileiros em redes sociais. Convencido de que esta será a eleição do Twitter no Brasil, Primo alerta que uma estratégia digital focada apenas em ganhar a eleição pode se voltar contra o candidato. A seguir, a síntese:
Zero Hora – O uso das redes sociais é um modismo da internet?
Alex Primo – Certamente, não é modismo. O que há é uma tendência de abandono do e-mail para certos usos. Muitos internautas, quando têm assuntos urgentes para resolver, mandam mensagens pelo Twitter.
ZH – O fenômeno Obama deve se reproduzir nas eleições brasileiras de outubro?
Primo – Esta vai ser a eleição do Twitter no Brasil, especialmente pelo histórico do Obama, que teve um bom uso do microblog ainda antes de se lançar candidato a presidente. Em 2006, podemos dizer que foi a eleição dos blogs, por conta da influência dos americanos. Ainda que o Obama tenha inovado com o Twitter, hoje, a maioria dos políticos já conhece muito bem essa rede. Portanto, os candidatos terão de encontrar maneiras de se diferenciarem na multidão.
ZH – Qual é o potencial dessas redes sociais?
Primo – O Twitter ainda tem sido mal aproveitado no Brasil. Quando os políticos usam o microblog apenas para divulgação de agenda, costuma não ter força. Foi a mesma coisa com os blogs nas eleições passadas: todos tinham seu diário na internet, mas eram muito sisudos ou institucionalizados. O potencial do Twitter é justamente o de ir além daquela imagem que os políticos acabam tendo, de alguém que só quer o teu voto.
ZH – É possível se criar uma rede social apenas para funcionar durante o período de campanha eleitoral?
Primo – É possível usar métodos artificiais para ampliar a rede de seguidores. Entretanto, essa estratégia é conhecida por todos os candidatos. Todos os candidatos irão ter sucesso no Twitter? Evidentemente, não. Hoje, o eleitor é diferente, ele acompanha, segue, conhece as estratégias. Ainda que alguns caiam no conto do vigário, outros são mais críticos. Tem de ficar bem claro para os candidatos que o Twitter é uma faca de dois gumes.
ZH – O que faz a diferença para alguém se tornar um sucesso nas redes sociais?
Primo – Conteúdo. Se o candidato tem uma boa plataforma, se realmente está dizendo o que o eleitor quer ouvir, aquilo vai ter sucesso. No entanto, quando se percebe facilmente que a estratégia é apenas para ganhar uma eleição, pode se voltar contra o candidato.
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Fonte: ZH online, 21/02/2010
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