terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

William Kennedy, escritor americano - Entrevista

 Autor alinha política com jogo

Escritor, que fez nome no país nos anos 80, na esteira do Pulitzer e de "Ironweed", fala do próximo romance e da influência de Faulkner
O americano William Kennedy, Pulitzer de 1983 por "Ironweed", que virou filme, em sua casa nos arredores de Albany em 2007

Jogadores, políticos, gânsgsters e jornalistas, quase todos de origem irlandesa, se misturam e às vezes se confundem na obra do escritor americano William Kennedy. Todos estão em "O Grande Jogo de Billy Phelan", que a Cosac Naify acaba de relançar no Brasil. E, de alguma forma, todos estão em Kennedy, jornalista de ascendência irlandesa que já cobriu os métodos de gângster dos políticos.

"O Grande Jogo", o segundo livro do chamado ciclo de Albany -série de sete romances ambientados na cidade americana onde o autor nasceu e vive-, mas o primeiro a sair pela Cosac, será seguido de "Ironweed", pelo qual Kennedy ganhou o Prêmio Pulitzer em 1983 e que quatro anos depois se tornaria filme em Hollywood, e "Velhos Esqueletos". Kennedy, 82 anos, falou à Folha por telefone de sua casa nos arredores de Albany.

FOLHA - Por que o jogo é tão importante no livro? Como o jogo molda as relações humanas?
WILLIAM KENNEDY - Estamos jogando todo o tempo. Na epígrafe do livro eu cito [o historiador holandês Johan] Huizinga: "As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde o início, inteiramente marcadas pelo jogo". Escrevi esse livro para falar da máquina política em Albany, e a política, é claro, é um dos grandes jogos que existem, é outra forma de apostar, de se colocar em disputa com o resto do mundo, para ganhar dinheiro e poder.

FOLHA - O sr. poderia falar sobre o livro que está escrevendo? Será a oitava parte do ciclo de Albany?
KENNEDY - Será. O livro se passa em dois lugares, primeiro em 1957 em Cuba, o personagem principal é Daniel Quinn, que tem dez anos em "Billy Phelan". O outro cenário é Albany em 1968, em meio outro tipo de revolução, a dos direitos civis, e Quinn está de novo envolvido.

FOLHA - O sr. já escreveu que recriou Albany baseado na Yoknapatawpha de Faulkner. Como comparar a sua obra com a dele?
KENNEDY - Não dá para comparar. O que eu disse que aprendi com Faulkner foi a forma como os livros são conectados. Seus livros são sobre famílias e se passam numa região cujo nome ele inventou a partir de uma língua indígena. A ideia de criar uma família e pensar numa cidade, em Albany, como um local onde tudo acontece era muito mais evoluído do que eu achava que eu poderia fazer.

FOLHA - Como o sr. virou amigo de Saul Bellow e Hunter Thompson?
KENNEDY - Hunter buscou emprego no jornal no qual eu era editor ["San Juan Star", de Porto Rico]. Escreveu uma carta arrogante, e eu lhe respondi com uma negativa arrogante. Ele então escreveu uma carta com ameaças. Depois viramos amigos até ele morrer [em 2005]. Saul Bellow era professor da Universidade de Porto Rico, dava oficinas literárias e me aceitou como estudante. Foi o começo de uma grande amizade, que também durou até sua morte [em 2005].
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Reportagem de FABIO VICTOR DA REPORTAGEM LOCAL
Fonte: Folha online, 16/02/2010
Leia a íntegra da entrevista em: www.folha.com.br/1004310  

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