domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sedentos de paz

Plínio de Campos Whitaker*
Ao que se sabe, o mundo nunca viveu sem guerra e, ao mesmo tempo, nunca deixou de, ardentemente, desejar a paz, a tranquilidade da ordem, segundo Santo Agostinho (354-430). São nações inteiras que enfrentam agruras bélicas; são comunidades dizimadas por armas de grande poder destrutivo; são famílias que se esfacelam em conflitos entre seus integrantes; são indivíduos — muitos de nós — que necessitam desse dom e o suplicam ao Príncipe da Paz (Is 9, 5).

Aceita a premissa de que a paz sempre tenha sido desejo universal, algumas indagações se impõem: Que fazem os que se julgam senhores das nações para que nelas reine a paz ?; que iniciativas podem se creditar aos líderes de agrupamentos humanos menores, a fim de que a paz seja prerrogativa primeira junto a eles?; e os membros de uma família, como atuam para que a célula primeira da sociedade desenvolva-se em paz?; e nós — eu e você — como procuramos ser promotores da paz nos diversificados ambientes em que vivemos?

Como atuamos em cada circunstância de vida, entretecida de realizações exitosas e de feitos assim não tanto, respondendo aos naturais apelos a que nos comportemos eticamente, na convivência com os mais próximos ou no relacionamento com semelhantes mais distantes: os seres dos reinos animal, vegetal e mineral, até na interação cotidiana com a natureza, casa viva que carinhosamente nos hospeda, prodigalizando-nos os recursos para que nos realizemos?

Houve um momento na história da Roma Antiga, em que o imperador Otaviano, que se arrogou o poder máximo em 31 a.C., proclamou, como singular dádiva a seus súditos, a conhecida “Pax Romana”. Menos de um século após, na Palestina, alguém saudou, mais de uma vez, a seus seguidores: “Dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo...” (Jo 14, 27), “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19b). A “pax” do César impunha-se pelo autoritarismo e pela espada — “Si vis pacem para bellum” — e, garantida basicamente pela força, apenas marcou mais um momento efêmero da história; a paz do Nazareno, não imposta com derramamento de sangue, continua a ser ideal libertador para muitos e, consciente ou inconscientemente, profundo sonho de todos os homens e mulheres.

A ganância humana, ignorando limites impostos até pelo bom senso, tem sido insaciável quando se põe a garimpar fragmentos ou a amontoar toneladas de ouro. Não raro, nós mesmos nos surpreendemos fanáticos participantes dessa insana maratona, cegamente impulsionados pela ilusão de que a riqueza seja fonte da paz sem limites.

O lema da Campanha da Fraternidade deste ano, com palavras eternas, contundentemente, adverte: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 9-16).
_______________________________________
*Plínio de Campos Whitaker é professor aposentado da PUC-Campinas
Fonte: Correio Popular online, 21/02/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário