Fábio Toledo*
Recentemente, tivemos a notícia de que o presidente Lula e a Associação dos Campeões Mundiais do Brasil estariam negociando a aposentadoria e indenização para os atletas da seleção que ganharam Copas do Mundo. Comentando o tema, Tostão, ex-jogador de futebol, comentarista esportivo, escritor e médico, dentre outras considerações, disse:
“Na semana passada, ao chegar de férias, soube, sem ainda saber detalhes, que o governo federal vai premiar, com um pouco mais de R$ 400 mil, cada um dos campeões do mundo, pelo Brasil, em todas as Copas. Não há razão para isso. Podem tirar meu nome da lista, mesmo sabendo que preciso trabalhar durante anos para ganhar essa quantia. O governo não pode distribuir dinheiro público. Se fosse assim, os campeões de outros esportes teriam o mesmo direito. E os atletas que não foram campeões do mundo, mas que lutaram da mesma forma?”.
Não pretendemos fazer comentários sobre o aspecto ético ou legal da medida. Talvez o façamos em outra oportunidade. Mas essa última frase dita pelo Tostão merece ser meditada por todos, em especial pelos educadores. De fato, somente os campeões, os melhores, os que se destacam, os que vencem devem ser reconhecidos e premiados?
É comum que os pais elogiem os filhos quando veem que tiram notas boas na escola ou quando se destacam num esporte, especialmente se for na modalidade de preferência do pai. É bom reconhecer o êxito e o sucesso dos filhos e dos alunos. Eles necessitam se sentirem aprovados pelos pais e pelos professores. Porém, mais importante que valorizar os êxitos e as vitórias, que ademais todos o fazem, o bom educador deve saber reconhecer o esforço. Nesse sentido, pode acontecer que a nota seis de um filho em língua portuguesa mereça mais elogio que o oito do outro em matemática.
Essa postura não pode ser tida como um estímulo à mediocridade. Afinal, bem ou mal, o mundo exige resultados e temos de saber lidar com isso. Mas os pais e professores devem saber e, mais que isso, ser coerentes em suas atividades educativas, que cada filho, cada aluno, é único, com seus defeitos e suas limitações. Cabe ao educador estimular para que se supere, vença os defeitos e, se possível, que dilate os seus limites. Mas sempre teremos limitações.
É preciso saber ressaltar as qualidades. Antes de qualquer crítica, ou mesmo de uma exigência em um ponto qualquer, convém que se reconheça o que o filho ou aluno possui de bom. Depois de se elogiar é que se pode exigir que sejam melhores ainda naquilo que já fazem bem e em outros aspectos em que ainda não o fazem.
Essa tarefa não é fácil. Querendo empregar bem essa técnica, certa vez chamei pelo meu filho e disse-lhe que precisava melhorar em um aspecto, de que agora não me lembro, e então comecei pelos dois elogios. Como ele já me conhece bastante, ao esboçar o primeiro elogio, ele já disse: “Tá bom, pai, pode pular essa parte. O que você quer que eu faça agora?”. Talvez uma solução para isso seja não fazer sempre elogios “interesseiros”. Ou seja, elogiar sempre que há um esforço por fazer algo bom, independentemente de, na sequência, vir com uma nova exigência. E, quando essa for necessária, conseguiremos dele ou dela a atenção necessária.
A educação consiste em formar de maneira completa a personalidade. Isso implica reconhecer as limitações exatamente para superá-las e saber conviver com elas. O grande desafio do educador é reconhecer não apenas o êxito obtido em padrões de avaliação pré-estabelecidos, mas, sobretudo, o esforço daquele a quem se educa em dar o máximo de si em tudo o que faz.
________________________________________________*Fábio Henrique Prado de Toledo é juiz de Direito em Campinas.
Fonte: Correio Popular online, 22/02/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário