L. F. VERISSIMO*
Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela sua idade e diz que não comemora mais aniversário “para não banalizar a data”. Nega, no entanto, que ela e o Ruy Barbosa “ficaram” durante uma festinha. Depois de tantas plásticas, Dorinha está pensando em fazer um teste de DNA para saber se ela ainda é ela, pois desconfia que só o que sobrou de autêntico foi o botox. Dependendo do resultado do teste, se lançará como candidata à presidência da República, com o slogan “O que é que a Dilma não tem que eu também não tenho?” Segundo a Dorinha, se a História do Brasil prova alguma coisa, é que presidente homem não dá certo. “Cromossomo não é neurônio” , é outras das suas frases de campanha. Ela procura o apoio de uma sigla decente, já que as indecentes estão todas comprometidas. Espera formar uma coligação, sendo esta a primeira vez na sua vida em que pede uma aliança sem precisar dizer que está grávida. Sua campanha... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta roxa em papel violeta, cheirando a “Mange Moi”, um perfume condenado pelo Vaticano.
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“Caríssimo: beijíssimos! Sim, minha campanha está nas ruas, seguida, por enquanto, apenas pelos cachorros. Nas pesquisas estou empatada com não sabem ou não quiseram opinar. Mas as pesquisas são falhas: ignoram um grande segmento da população, formado por todos os meus ex-maridos. (No momento, por sinal, estou livre como um táxi, e só aceitando corridas curtas). Contratei um marqueteiro para orientar minha campanha, mas o despedi depois que ele sugeriu que eu me apresentasse com os netos, para ganhar o voto coisa mais fofa. Eu sempre disse que os netos são como as rugas para mostrar a idade, com a diferença que para as rugas têm cremes. Vou cuidar da minha própria imagem na TV, expondo meu ideário político e econômico (por exemplo: sempre achei que não há nada de mal com a concentração de renda se for feita com bom gosto) e os meus seios. Quero ver o Serra fazer o mesmo! Aliás, me ofereci para ser a vice na chapa do Serra, mas recusaram, com a absurda alegação de que eu ofuscaria o candidato nos palanques. Só um poste não ofuscaria o Serra, mas o Marco Maciel não aceitou. Dizem que o Serra falando em comício é tão chato que o público aplaude microfonia! Enfã, estou na luta e espero o seu voto. Da tua Dorinha”.
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*Escritor. Cronista da ZH.
Fonte: ZH online, 03/05/2010
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