terça-feira, 27 de julho de 2010

“Casamento gay”, na Argentina

Card. Odilo P. Scherer*
Entrevista

Mesmo com toda pressão contrária da Igreja Católica, o Congresso da Argentina aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dessa forma, a Argentina passa a ser o 10º país a aprovar o casamento homossexual. Pergunto:

1) Isso não é mais uma ameaça à família tradicional (pai, mãe e filhos)?
R. Antes de tudo, não se deveria falar de “casamento”; este conceito é consagrado na linguagem e na cultura para indicar a união e o compromisso estável de duas pessoas de sexos diferentes; além disso, “casamento” também tem inquestionável conotação religiosa na linguagem corrente. No caso de pessoas do mesmo sexo, não temos nenhum “casamento”. Trata-se de outro tipo de união, acordo ou contrato. Dever-se-ia falar, de maneira mais apropriada, de “uniões civis”, ou de “reconhecimento legal” de uniões de pessoas do mesmo sexo. Essas uniões não podem ser equiparadas ao casamento entre pessoas de sexos diferentes, do qual decorre uma verdadeira família e também nascem filhos; o casamento tem uma função antropológica e social muito diversa da união de pessoas do mesmo sexo. A maneira como a questão vem sendo tratada na legislação e nas atitudes culturais que daí decorrem, certamente são uma ameaça ao casamento e à família, que deveriam merecer tratamento diferenciado por parte da sociedade e do Estado. A família, no sentido tradicional, precisa ser protegida, promovida e favorecida, pois cumpre uma função social e antropológica inquestionável e insubstituível. Sem falar da função religiosa.

2) E os filhos, como ficam nessa união, sem a figura do pai ou da mãe?
R. A questão dos filhos é muito delicada no caso das uniões de pessoas do mesmo sexo. Que o digam os psicólogos, os educadores, os antropólogos. A educação sadia e equilibrada requer a presença e participação efetiva do pai e da mãe. Os filhos têm direitos que não devem ser desconsiderados, nem submetidos aos interesses dos adultos. Um dia eles vão cobrar isso e terão direito a fazê-lo. E quem lhes restituirá o que lhes foi negado na infância?

3) Como o Sr. avalia essa questão
R. Penso que as coisas estão avançando de maneira muito rápida, criando situações irreversíveis, sem conhecer adequadamente as conseqüências daquilo que se está decidindo. As decisões estão sendo tomadas em base à pressão de grupos, de ideologias do momento e na confusão de uma antropologia equivocada, na qual a diferenciação sexual é considerada subjetiva, e não como um dado de natureza. Na base disso tudo está um pensamento filosófico que coloca a vontade subjetiva do indivíduo como referência absoluta, até mesmo para a identidade daquilo que cada um é ou quer ser... É o absurdo do subjetivismo extremo! No entanto, a natureza é sábia e sábio é quem a respeita. A diferenciação sexual e sua natural distinção não existem por acaso. Elas têm um sentido. Negar isso ou contradizer os dados da natureza significa aprovar a desordem natural, a confusão, o caos... Em risco estão a instituição familiar, o casamento, a educação equilibrada dos filhos, os conceitos morais e a sadia convivência social. Creio que estamos diante de conseqüências de uma cultura enferma e anêmica de princípios e valores.
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*Cardeal de Arquidiocese de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 19.07.2010
Reportagem de Elvira Freitas

2 comentários:

  1. Nao aguento mais essa história de família de pai e mae. Eu tenho muitos amigos que foram criados pela avó e tias sem nunca terem conhecido o pai e estao muito saudáveis, obrigada.
    O Importante sao o caráter das pessoas e a maturidade para criar filhos e nao se sao homens ou mulheres. Caráter e responsabilidade nao tem a ver com o gênero ou se a pessoa se apaixona por homens ou mulheres.

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