Quem é maluco beleza, mas não é o Raul Seixas? Aos 58 anos, o cantor Silvio Brito lança o seu 31° trabalho, o CD Chega. Em suas novas músicas, Brito protesta contra políticos, comenta o aquecimento global e até o comportamento da mídia. Em entrevista exclusiva ao JT, o compositor de sucessos como Tá Todo Mundo Louco, Espelho Mágico e Pare o Mundo Que Eu Quero Descer, fala que a grande mídia está “desconectada” do gosto popular, da tristeza que seria ouvir a sua música no palanque de qualquer candidato político e da sua relação com o Raul Seixas. Confira:
Por que um disco de protesto? Esse tipo de projeto não é algo que artistas brasileiros têm feito com muita frequência…
Os artistas sempre fizeram discos assim. O problema é que a mídia fica alheia. São as minhas músicas mais contundentes que fazem sucesso com o público em geral. Agora, a rádio não toca. Não está na televisão…
E por quê?
Experimenta ligar para uma rádio e pedir uma música. Você não pode escolher a música que você realmente quer. Você tem de escolher entre aquelas três canções que estão na programação da rádio. As coisas são impostas de baixo pra cima. Ora, isso é a mercantilização da arte!
Artistas como você se ressentem dessa falta de espaço na mídia?
Eu, não. Mas falo pelos mais jovens. Eu, felizmente, não paro de fazer shows, mesmo sem tocar na televisão ou no rádio. O Benito de Paula é outro que vive bem sem a mídia. Acho que, na verdade, é a grande mídia quem está desconectada do o gosto popular. A audiência dos programas musicais de televisão despencaram dos anos 1980 para cá.
Voltando à música de protesto… Em ano de eleição, ela tem um apelo maior?
Acho que tem um clima propício. As pessoas estão mais ligadas nos assuntos, mais indignadas. A música ‘Chega’ fala tudo aquilo que as pessoas gostariam de falar.
Você não corre o risco de ouvir sua música sendo usada por um candidato qualquer?
Eu não posso impedir ninguém de tocá-la. Mas isso seria muito frustrante e limitante para a música. Minha militância nunca foi política e partidária. Não queria ouvir minhas músicas servindo a nenhum candidato.
Você já pensou em se candidatar a algum cargo público?
Essa tentação já passou pela minha cabeça. Mas, felizmente, estou livre disso. Sou muito mais útil como artista.
Muita gente, principalmente os mais jovens, comparam o seu trabalho ao do Raul Seixas. Isso faz sentido?
Eu e o Raul dividíamos a cena nos anos 1970. Nós tínhamos um diálogo musical, uma provocação em canções como Tá Todo Mundo Louco e Ouro de Tolo. Eu falava dele, ele falava de mim. Era uma coisa meio Emilinha e Marlene (cantoras de rádio que tinham fã-clubes rivais).
Quais eram as principais diferenças entre vocês?
Eu sempre fui mais clean. O Raul tinha essa coisa mais down, existencial. Eu sempre fui mais otimista, sempre vi uma saída. Eu tinha um público mais amplo, com crianças e jovens.
Essa comparação com o Raul Seixas é ruim?
É que tem uma coisa que é a história contada por quem viveu e a história contada por quem ouviu falar. Eu acho chato falar, mas houve um período, na década de 70, que eu vendi mais do que o Raul. E era mais popular.
Muitas das suas músicas falam de malucos, loucos, como seu maior sucesso: ‘Tá Todo Mundo Louco’. Esse é um tema importante na sua obra?
É que naquela época, nos anos 60 e 70, eu achava que estava todo mundo louco mesmo. Eu tinha certeza disso. Depois, uma coisa foi puxando a outra. Eu cheguei a fazer shows em manicômios e via aquela realidade. Aí, escrevia outras canções sobre o tema.
Você entrou de cabeça nesta loucura, na coisa do sexo, drogas e rock and roll?
Felizmente, não. Nunca fui fanático por nada. Sempre procurei o equilíbrio. Perdi muitos amigos que embarcaram nessa onda. Eu, nem sei por quê, mas sempre tive uma proteção. Escapei disso.
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Reportagem de GILBERTO AMENDOLA
Fonte: Jornal da tarde online, 28/07/2010
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