NILSON SOUZA*
Estava lendo este jornal na última segunda-feira quando deparei com um texto enorme, com cerca de 150 linhas, quase uma página inteira. Pensei: “Se alguém escreveu um texto deste tamanho e alguém resolveu editá-lo, é porque vale a pena ler”. Atirei-me a ele. E me senti recompensado no final. Era, realmente, um bom texto. Falava exatamente sobre a dificuldade que as pessoas têm hoje para ler textos longos. Tratava-se da tradução de um artigo do jornal britânico The Guardian, relatando dois respeitados estudos científicos que sugerem que muitas pessoas não têm mais concentração para ler até o fim artigos médios e grandes.
Por quê? Porque os hábitos online estão danificando as faculdades mentais necessárias para processar e entender informações textuais mais longas. Fiquei assustado com a revelação. Mas achei que fazia um certo sentido. Faz algum tempo que venho percebendo a repulsa dos leitores, especialmente dos jovens, por livros e por textos longos. Nós mesmos, que escrevemos para jornal, procuramos a cada dia abreviar mais e mais os nossos escritos para não espantar os leitores. Todos estamos convencidos de que as pessoas se satisfazem lendo títulos e notas pequenas. No máximo, o chamado lead, que resume a notícia no primeiro parágrafo. Quando leem no computador, pulam de um link para outro, sem se aprofundar em nenhum deles.
Fiquei tão intrigado com o assunto que resolvi fazer um teste com meus colegas de trabalho. Esperei o final do dia, quando todos já deveriam ter lido o nosso próprio jornal, e saí de mesa em mesa na Redação, com o artigo referido, perguntando quem o tinha lido até o final. Passei por seis editorias e por duas dezenas de companheiros de trabalho. Ninguém tinha lido. Até que finalmente encontrei um jornalista que, como eu, havia percorrido o texto da primeira à última linha. Então ele se explicou:
– Li porque fui eu quem editou este texto. E tive que cortar um pedaço, senão ninguém ia ler.
Tive vontade de pedir para alguém parar o planeta para que eu pudesse descer. Passei a vida inteira aprendendo a ler e valorizando a leitura. Agora esta capacidade duramente adquirida parece estar em extinção. Só não me desesperei porque o próprio artigo do The Guardian fala de um movimento mundial chamado Slow Reading (leitura lenta), que apregoa uma reação à superficialidade das leituras online. Sugere que, em pelo menos um dia da semana, a gente deixe de lado as telinhas, as ferramentas de busca e os resumos para mergulhar numa leitura de verdade, misturando as ideias do autor com as nossas – como estou fazendo agora em relação ao artigo que li.
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*Jornalista
Fonte: ZH online, 31/07/2010
Olá,
ResponderExcluirInteressante o seu artigo. Acabei de criar um grupo de leitura lenta, pois ainda restam JOVEM PENSANTES e críticos no mundo de Tiririca e mulher pêra.
Comecaremos neste sábado. Somos 8 pessoas e comecaremos pelo Freud, interpretacao dos sonhos. Se tiver interesse em acompanhar as discusoes.
lendodevagar.blogspot.com