segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mel Gibson não é só um narcisista raivoso

CHRISTOPHER HITCHENS*

Toda vez que Mel Gibson se alivia com uma tirada contra judeus, prostitutas ou mulheres não cooperativas, há comentaristas à mão para criar mistério onde não há nenhum. Quando ele produziu A paixão de Cristo, que reviveu em detalhes o mito sanguinário de que todos os judeus são histórica e coletivamente responsáveis pelo assassinato de Jesus, argumentou-se entre os cristãos que o zelo de Gibson pela fé podia ser um pouco grotesco, mas que o filme em si era principalmente devoto.

Quando ele foi preso na autoestrada de Malibu e gritou ofensas como a de que os judeus eram os responsáveis por todas as guerras do mundo, comentaristas se uniram para especular se Gibson bebera demais naquela noite. Não muito tempo atrás, eu o vi ficar com os olhos completamente esbugalhados na TV quando um entrevistador judeu perguntou sobre aquele incidente. “Você tem uma posição nessa briga, não tem?”, sussurrou.

E agora, numa catarata de ofensas cloacais dirigidas à mãe de sua filha mais nova, na qual ele não poupou nada em termos de racismo paranoico sexualizado, houve quem diagnosticasse Gibson apenas como incapaz de conter sua raiva.

Isso é extraordinário. Vivemos numa cultura em que as palavras fascista e racista são usadas com frequência e facilidade até excessivas. Mas eis um homem de quem cada palavra e ato tornam-se facilmente explicáveis uma vez que se saiba a única coisa essencial sobre ele: é membro de um grupo dissidente fascista que acredita ser a salvação da Igreja Católica.

Essa seita cismática maluca é liderada pelo pai de Mel Gibson, Hutton Gibson, um autodidata doido que tem a negação do Holocausto como hobby. Durante a polêmica sobre A paixão de Cristo, Gibson Júnior disse que nunca tinha ouvido nada além da verdade de seu pai. Tenho alguns livros do velho, inclusive seus clássicos – publicados por ele mesmo – O papa é católico e O inimigo ainda está aí! , que basicamente acusam o atual papado de fazer a obra do Anticristo. Minha amostra favorita de seu estilo de prosa é a seguinte: “Nossa ‘civilização’ tolera a sodomia descarada e autoriza o assassinato dos não nascidos, mas se encolhe de horror diante de queimar heréticos incorrigíveis – essencialmente um ato caridoso”. Ele ataca o falecido papa João Paulo II por ter dito, em uma de suas “aproximações” ao povo judeu, que “vocês são nossos irmãos prediletos e, em certo sentido, nossos irmãos mais velhos”. O comentário de Hutton Gibson? “Abel também tinha um irmão mais velho.” Não acho que haja ambiguidade aqui, há? Os Gibsons nunca perdoaram o Vaticano por ter suspendido a acusação de deicídio contra os judeus em 1964.

Nas recentes ofensas a sua mulher, Gibson liberou a crueldade e a intolerância.
 Quando vão marginalizá-lo?

Seria altamente surpreendente se uma pessoa marinada nessa ideologia não mostrasse sintomas de que é também sexualmente perturbada. O racismo muito frequentemente se mistura à repulsa sexual, e os xingamentos de Gibson são temperados com esses elementos. Sua aversão obsessiva à homossexualidade é notória. Menos lembrada, talvez, é a entrevista em que ele anuncia que sua mulher de muitos anos e mãe de seus filhos não estaria, que pena, apta a se juntar a ele no paraíso. Não era uma questão sobre seu caráter moral. Era simplesmente porque ela não quis entrar para a tal única igreja verdadeira. Gibson trocou essa dama sofredora – rompendo sem esperanças seus laços matrimoniais sagrados – por outra, mais nova, que, para falar delicadamente, certamente não foi escolhida por suas virtudes católicas salientes. Ao fazer isso, ele deve ter tido consciência, ainda que leve, de ter comprometido sua alma imortal.

Vi outro dia uma reportagem sobre um site de fãs de Gibson no qual se perguntava: “O que há com ele?”. Por que essa relutância em chamar uma coisa pelo seu próprio nome? Não é como se Gibson estivesse gritando por socorro. Ao contrário. o que ele está liberando é a violência, a crueldade, a intolerância e a hipocrisia sexual. Quando Hollywood e a sociedade em geral vão finalmente marginalizá-lo e desprezá-lo tanto pelo que ele é quanto pelo que representa?
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*é escritor, colunista da revista Vanity Fair, autor e colaborador regular do New York Times e The New York Review of Books. Escreve quinzenalmente em ÉPOCA Fonte: Revista Época online, 23/07/2010

2 comentários:

  1. Li seu artigo e achei nojento. Bem se vêque não entende nada, nem um pouquinho de pscicologia. O sr,. Gibson é uma pessoa em sofrimento e conflito interno devido a educação que teve de um pai fanático. De um lado está o amor paterno e de outro a sua realidade profissional e pessoal que vão copntra tudo o que lhe foi incultido na infância e adolescencia. Não sabe que todo alcoólatra tem grandes traumas e sofrimentos emocionais?
    Quanto ao filme A Paixão de Cristo, o sr. Gibson foi extremamente fiel a Bíblia e também procurou a opinião do Papa João Paulo II que, por sinal, lhe parabenizou por ter retratado fidedignamente como os fatos aconteciam na época. E isso não faz dele um anti-semita! Jesus disse que o templo de Israel cairia e no mesmo dia ded sua crucificação houve um terremoto que o destruiu. Isso é bem significativo. Sou contra qualquer tipo de violência contra pessoas ou povos, mas sei que há dois mil anos atrás foi sim os Judeus os culpados pela crucificação de Jesus. Isso não significa que os Judeus de hoje pensem da memma forma ou que fariam o mesmo nos dias atuais.
    Quanto a raiva esposta contra a sua ex Oksana, não creio que ele, o sr. Gibson, não tenha lá suas razões. Afinal uma mulher que recebe 10 milhões de dólares do seu companheiro ao dar a luz a um filho dele, não deixou de vendê-lo, ded certa forma, ao próprio pai; o que demontra falta de carater. E gravar premeditadamente as briogas de forma a parecer a vítima da estória é muito fácil. Posso levar uma pessoa ao auge da indignação e gravar o momento certo que desejo que apareça, quando o meu oponene estiver no limite extremo da fúria, que é quando a gente solta o que pensa e o que não pensa, só para ofender e ainda costumamos usar os preconceitos e modos do outro para atingi-lo. Já fiz isso algumas vezes.
    A meu ver essa mulher é perigosa, uma cobra interesseira que deu o golpe da barriga pensando que iria lucrar com isso e quando viu que nada saiu como ela esperava resolveu se vingar.
    Quer saber: Estou ao lado do sr Gibson. Na minha opinião eled é um homem bom e peseguido por inveja.

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  2. Lilian, desconhecendo os fatos com mais detalhes, dificilmente o julgamento que fazes se sustentaria. A vida precisa de uma poesia que a afine, não com imperativos que, por endurecê-la, a quebrem. Como disse Voltaire e agoro para vc: "Não concordo com o que você diz, mas lutarei para que possa dizê-lo livremente".

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