sábado, 31 de julho de 2010

A inquisição sem fogueira, à bico de pena...

Teólogo homossexual é demitido de universidade romana


Expulsão com debate teológico. Ou talvez com pequena espionagem nos bares gays de Colônia, na Alemanha. David Berger (foto) é um jovem teólogo conservador alemão. Um emergente, muito estimado. Tem 42 anos. Como primeira atividade, ensina no Villa-Gymnasium de Erftstadt, escreve, até pouco tempo atrás dirigiu uma revista e, atividade de grande prestígio, desde setembro de 2003, é professor da Pontifícia Academia São Tomás de Aquino em Roma. Perdão, era.

A reportagem é de Danilo Taino, publicada no jornal Corriere della Sera, 29-07-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O presidente da Academia, Mons. Lluis Clavell, afiliado da Opus Dei, nos últimos dias, exonerou-o do magistério. Foi licenciado porque é homossexual declarado. O que torna tudo mais interessante é o fato de que, nestas horas, na Alemanha, abriu-se uma discussão: Berger é homossexual só como orientação, e por isso não licenciável, ou também nos comportamentos concretos, e por isso pecador?

No clima criado pelos abusos sexuais descobertos nos últimos meses na Alemanha, Berger decidiu, em abril, escrever um artigo para o jornal Frankfurter Rundschau. "Não podia mais me calar", explicou, ouvindo alguns prelados relacionando as violências com a homossexualidade de quem as havia cometido. Depois de ter assistido a um debate televisivo particularmente áspero, decidiu agir. Renunciou a seu cargo de diretor da revista conservadora Theologisches e, em um artigo, disse abertamente que era gay. Acrescentou que as posições da Igreja Católica sobre a homossexualidade eram "hipócritas e beatas" e que, "no catolicismo, há um aumento das tendências homofóbicas".


O ponto levantado por Berger poderia abrir
um debate teórico interessante,
diferenciando entre sentimento e prática.
Neste momento, porém,
a discussão está menos refinada.

 
Três meses depois, Mons. Clavell lhe informou que não poderá mais ensinar na Academia São Tomás. O prelado disse ter sabido da admissão de Berger com "profunda dor e horror", e que a sua posição "em um ponto do magistério da Igreja" não lhe permite permanecer na Academia. O jovem teólogo defende, pelo contrário, que o Catecismo de 1992 veta estritamente todo ato de homossexualidade, mas acrescenta que as pessoas homossexuais devem "ser aceitas com respeito, compaixão e sensibilidade" e não devem ser tratadas injustamente. Porém, ninguém – conclui – lhe perguntou se ele praticava a sua sexualidade.

O ponto levantado por Berger poderia abrir um debate teórico interessante, diferenciando entre sentimento e prática. Neste momento, porém, a discussão está menos refinada. O site de direita Kreuz.net entrou em campo com o objetivo de demonstrar "a vida dupla como homossexual" de Berger. O site pergunta se o jovem teólogo preferia que Clavell "contratasse um investigador privado". Acrescenta que "Berger vive com um homem em um apartamento de Colônia", que tem muitos amigos homossexuais no Facebook e que ele "está se afundando em um ambiente gay".

Final mais político: o Kreuz.net pergunta ao arcebispo de Colônia, cardeal Joachim Meisner, como ele pode continuar suportando na sua diocese um professor de religião homossexual. Subentendido: se um teólogo católico é gay, não pode trabalhar.
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Fonte: IHU online, 30/07/2010

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