quarta-feira, 21 de julho de 2010

Só as mães podem salvar o mundo

 Pediatra destaca o cuidado com os bebês tem a incrível possibilidade de moldar o futuro.

 No currículo do pediatra e neonatologista argentino Jorge César Martínez (foto), mais do que seus títulos ou cargos, chama a atenção a frase: “Amo minha profissão e tenho o privilégio de estar com minha família e meus pacientes exatamente nesse momento onde a vida começa e, então, crescer todos juntos”. Para Martínez, que se confessa um sonhador, o cuidado com os bebês tem um impacto enorme no futuro. “É uma terrível responsabilidade, mas uma incrível oportunidade. O mundo não muda por regras, partidos políticos nem religiões. Acredito nas mães. Elas podem trabalhar os filhos desde recém-nascidos para aprenderem a lidar com as situações sem violência.” Martínez afirma que muitos médicos se acham deuses e se colocam numa posição distanciada dos pacientes. “A Medicina tem muito disso, de incomunicação, e ensinamos aos alunos que somos deuses. Em vez de colocar distância, devemos ver como ajudar os pais por sabermos que tudo o que dissermos será tão importante.” Para o público leigo, escreveu El increíble universo del recién nacido e el bebé prematuro y sus padres. Inclusive oferece cursos para pais no Centro de Investigação e Educação Perinatal, entidade sem fins lucrativos que dirige, e na Universidade del Salvador (Buenos Aires), onde leciona. Também é membro do grupo de especialistas em Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde. Um dos conferencistas do 2.º Simpósio Internacional de Neonatologia de Porto Alegre, promovido pelo Serviço de Neonatologia do Hospital São Lucas, falou à revista PUCRS Informação.

O senhor dá cursos para pais de recém--nascidos. No que deve m prestar atenção no cuidado dos se us filhos?
O ideal é que os pais tenham uma consulta com o pediatra que acompanhará a criança nos primeiros anos de sua vida antes que ela nasça. É muito importante que ele conheça a história desses pais, que problemas irão enfrentar, que ideias têm sobre as doenças, como o bebê chega ao mundo. O pediatra deve saber muito bem do que necessitam. Não pode generalizar. Alguns precisam muito mais de informações sobre cuidados básicos, outros de saber que o bebê é uma pessoa com capacidade de se comunicar. Mas fica nesse estado mental 10% do dia. Se falar com ele em outro momento, não responde. O estado de alerta repousante é como o de atenção consciente do adulto, quando estamos com todos os sentidos prestando atenção. Essa consulta pré-natal é fundamental para ver se a visão dos pais se conjuga com a do pediatra. Curamos muito pouco, lamentavelmente, apesar de todos os grandes avanços. E as curas dependem dos recursos de cada lugar. O que sempre podemos fazer é compreendermos a pessoa em função do que ela necessita. Isso não custa dinheiro, se faz em qualquer parte do mundo e com diferentes níveis de educação. É preciso compromisso e paixão pelo que se faz.

Os próprios bebês informam da sua maneira como quere m ser tratados, pela expresão, pelo choro.
O choro nem sempre significa que ele passa mal. É uma forma de iniciar uma comunicação. Um choro que começa lentamente e vai aumentando pode significar: tenho fome. O de dor, de cólicas, é violento. Outro é de insegurança, um dos piores sentimentos. Ele viveu num ambiente intrauterino, sem frio, sem calor, sem fome, nada o incomoda, sua mãe tinha emoções positivas sobre ele. Desapareceu tudo isso. Com o agravante de que nós, adultos, sabemos. Com sua mente, não sabe onde está. Muitos dizem: é melhor não pegar o bebê para não deixá-lo malcriado. Ele está pedindo “por favor”. As mães sabem identificar o seu filho. Leem um famoso best seller, escutam um monte de coisas, mas devem sentir o que será útil para elas e os bebês. Assim não se equivocam. Eu, como pediatra, posso saber de bebês em geral. A amiga íntima sabe do filho dela. Uma pessoa segura trata muito bem ao outro.

Avançam as pesquisas sobre o desenvolvimento cerebral relacionado ao cuidado na infância. Que impacto esse conhecimento tem?
Nós nos damos conta da enorme responsabilidade. Temos em nossas mãos o futuro de uma pessoa. O que fazemos ou deixamos de fazer vai favorecer que esse ser humano cresça sadio física e mentalmente. Os filhos dependem grande parte de nós. É uma incrível oportunidade. Que outra parte do corpo podemos com nossas ações modificar? Nenhuma. Com meu comportamento eu vou fazer que essa pessoa seja saudável mentalmente. Que esse indivíduo não use sua inteligência para produzir bombas, atentados. O mundo não muda por regras, partidos políticos nem religiões. Acredito nas mães. Elas podem trabalhar os filhos desde recém-nascidos, que têm a chance de aprenderem a lidar com as situações sem violência. Que as mães não trabalhem por três anos. Estão criando o futuro brasileiro, argentino, canadense. Sou um sonhador. A cada três, cinco, 200 gerações, poderemos mudar. Falamos inglês, português, espanhol. A mãe fala o idioma do coração.
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Por ana paula acauan

Fonte: PUCRS INFORMAÇÃO Nº 150 • jul ho/agosto 2010 - pg.16

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