terça-feira, 27 de julho de 2010

Desejos íntimos

MIRIAN GOLDENBERG*

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No território da intimidade, os homens se sentem massacrados
por uma suposta superioridade feminina

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MULHERES reclamam de falta de intimidade. Acreditam que os homens são incapazes de serem mais subjetivos. Queixam-se por eles serem infantis, superficiais, incapazes de expressar seus sofrimentos, vontades e emoções.

Elas afirmam que, para os homens, intimidade se resume a fazer sexo, uma proximidade apenas física. Intimidade, dizem elas, é muito mais do que sexo. É uma maneira especial de estar juntos, conversar, escutar, compartilhar o silêncio, uma profunda comunicação psicológica, uma forma única de entrega amorosa.

Elas se sentem lesadas por investirem muito mais do que eles em um relacionamento.

Uma mulher, que acredita ser "100% heterossexual", conta que está vivendo uma relação extraconjugal com outra mulher. Diz que a amante lhe dá o que falta no casamento: atenção, carinho, delicadeza, diálogo e intimidade física e emocional.

"Meu marido não sabe dar um abraço aconchegante ou escutar verdadeiramente. Acho que os homens são ignorantes em tudo o que diz respeito à intimidade."

Outra revela que tem um amante virtual com quem conversa todas as madrugadas. Ela diz que vive, o que pode parecer um paradoxo, uma intimidade à distância: "Nunca tive conversas tão profundas com meu marido. Sei que pode ser só uma fantasia e que tudo pode acabar se nos encontrarmos no mundo real. Mas prefiro a intimidade que temos no mundo virtual do que a intimidade que jamais tive no mundo real, mesmo que seja apenas uma ilusão de intimidade."

A objetividade, praticidade e racionalidade masculinas, valorizadas em outros contextos, tornam-se impedimentos para um relacionamento íntimo, dizem elas.

Elas se consideram mais sensíveis, maduras e reflexivas. Eles são considerados mais carnais e sexuais. Nos discursos femininos percebe-se a ideia de que a natureza da mulher, em termos de autoconhecimento e exploração da subjetividade, é superior à masculina.

A recorrência da falta de intimidade como principal queixa feminina parece fazer parte de um jogo de dominação entre os gêneros, que legitima o poder das mulheres em tudo o que diz respeito ao mundo privado, às emoções e às relações amorosas.

No domínio da intimidade, os homens se sentem massacrados por uma suposta superioridade feminina.

Um deles, cansado das excessivas reclamações da esposa, pergunta ironicamente: "Será que está na hora de queimar as gravatas em protesto contra a permanente insatisfação das mulheres?".
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*MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Por Que Homens e Mulheres Traem?"(Ed. BestBolso)

Fonte: Folha online, 27/07/2010

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