Entrevista com Nina Hagen
Quase tudo na vida de Nina Hagen (foto)pode ser considerado extraordinário. Nascida em Berlim do Leste há 55 anos, seus avós morreram em campos de concentração, seu pai foi prisioneiro dos nazistas, e sua mãe, uma conhecida atriz da Alemanha comunista.
Ela, dissidente da RDA [República Democrática Alemã] de estética extravagante, se converteu na musa do punk nos anos 70. Quase morreu em uma viagem de LSD e teve experiências com extraterrestres. Além disso, canta o hino para uma equipe de futebol berlinense (Union Berlin) e ama a Deus sobre todas as coisas.
Ela demonstra isso nesta entrevista, a cinco dias de seu único show na Espanha – será na próxima sexta-feira no Festival Veranos de la Villa, de Madri –, onde ela apresenta seu novo disco lançado há dois dias: "Personal Jesus", um surpreendente e agradável trabalho de country, blues e gospel, dedicado, claro, a Deus.
A reportagem é de Lino Portela, publicada no jornal El País, 18-07-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Você cantou punk, pop, rock, ópera, jazz e agora gospel. Em que estilo você se sente mais cômoda?
Definitivamente no gospel, porque abrange tudo.
Cansou do punk?
Nunca fui uma artista punk. Só escrevi várias canções punks.
Mas chamavam você de "a mãe do punk"...
Isso é diferente. Quando chegou em Londres em 1977, eu tinha 23 anos, e os que estavam ao meu redor, 15 e 16 anos. Por isso, eu era como uma mãe para eles. Eu cuidava deles e me assegurava para que pudessem fazer música em paz.
Por que um disco de gospel agora?
Passei dois anos rezando para fazer um bom disco de gospel. Economizei dinheiro, fui a um estúdio de Los Angeles para gravá-lo por minha conta, sem saber se uma gravadora iria gostar ou não. No fim, gostou.
E você canta melhor do que nunca...
"Muchas gracias" [diz em espanhol]. Eu também acho. Sou capaz de usar minha voz muito melhor do que quando eu era jovem.
É verdade que sua mãe lhe disse, quando você era pequena, que você cantava muito mal?
Sim. Aprendi a tocar violão com 11 anos e costumava sentar para imitar as vozes de diferentes cantores. Quando ela entrava no quarto, me dizia: "Filha, você canta muito mal". Isso me fez ser uma cantora melhor.
Seu novo disco é uma homenagem a Jesus e a Deus?
Sem dúvida. Sempre disse: Jesus Cristo é o meu "manager" [empresário]. As pessoas das gravadoras nas quais eu estive nunca queriam que eu falasse de Deus nas entrevistas, nem lhes causava graça que eu dissesse essas coisas, mas é a verdade. Eu pertenço a Jesus. Agora mais do que nunca.
Quando você encontrou a Deus?
Sempre o busquei, mas quando completei 17 anos eu tive uma revelação. Tive uma experiência próxima da morte durante uma viagem de ácido [lisérgico, LSD] e pedi ajuda a Deus. Ele me atendeu e mudou minha vida. Entrei na dimensão de Deus, olhei-o na cara, e Jesus me disse que eu tinha que voltar a viver. Deus é amor. E se vivemos a vida com amor, a vivemos com Deus. A Bíblia me ajudou muito.
Você a lê diariamente?
Claro. Tenho uma preciosa interpretação do Novo Testamento, chamada "Bem-vindo à casa", de um autor alemão, escrita em uma linguagem atual e surpreendente. Tenho muitas Bíblias, mas essa é a minha favorita.
Você se batizou no ano passado. Um pouco tarde, não?
Eu sei. Até encontrar minha comunidade e meu pastor adequados na Alemanha, eu não me decidi. Demorei tanto porque o cristianismo se tornou louco. Quando eu vejo as pessoas que se chamam de cristãs, como George Bush, fico horrorizada.
É verdade que você viu um ovni?
Sim, eu o vi há anos na praia de Malibu. Eu me levantei à meia-noite, e ele estava ali, estacionado no céu, com muitas cores. Fiquei paralisada.
Não teve medo?
Não, foi um espetáculo maravilhoso. Com cores e luzes de discoteca. Depois, cheguei à conclusão de que aquilo não tinha origem divina, porque Deus sempre te dá várias opções, nunca te paralisa. Seria coisa do diabo, que tenta nos enganar com fogos de artifício.
Você ouve cantores atuais?
Ultimamente, busco tesouros na música gospel, como Rosetta Tharpe.
Você disse que não gosta de Lady Gaga...
Não a conheço pessoalmente, mas eu gosto dela, sim. O que me machuca é ler coisas como as que ela diz: que sua música é uma mentira. Ela representa todo o contrário do que eu fiz. Sempre tentei que minha música surgisse da verdade, do autêntico, do real... inclusive fazendo coisas loucas, extravagantes e sexies no palco. Mas nunca foi uma mentira. Lady Gaga é uma mulher maravilhosa, mas rezo por ela, para que trabalhe em sua relação com Deus. Me assusta que ela tenha vendido a sua arte ao serviço das forças obscuras, em vez de abraçar a Deus.
Qual é o próximo passo?
Só Deus sabe, porque Deus e Jesus são meus "managers". E sempre serão.
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Fonte: IHU, 19/07/2010
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