Pe. John Flynn, L.C.
ROMA, domingo, 18 de julho de 2010 (ZENIT.org) – No Canadá, uma pessoa sortuda acaba de ganhar 50 milhões de dólares na loteria, mas, enquanto alguns ganham, continua havendo preocupação pelo impacto social do jogo.
Um exemplo é o prolongado debate no senado estatal de Massachusetts sobre uma proposta para permitir três cassinos no Estado. Os que apoiam a lei, defendem que os cassinos serão fonte de emprego e evitarão que os habitantes locais se transladem a outros estados para gastar seu dinheiro, informava no dia 23 de junho o Boston Globe.
Os críticos, no entanto, estão preocupados pelos jogadores problemáticos e por outros efeitos secundários, como o crime e o abuso de drogas. Após sete dias de debate sobre a proposta, a presidente do Senado, Therese Murray, declarou que não se permitirão mais atrasos, informou no dia 30 de junho o Boston Herald.
A votação aconteceu no dia 1º de julho e o senado aprovou os três cassinos, informou no dia seguinte o Boston Globe. O que resta agora é reconciliar a versão da lei do senado com a da câmara de representantes que aprovou sua própria legislação de cassinos em abril.
Ainda que os jogadores sejam enganados pela tentação do dinheiro fácil, um artigo publicado antes do prêmio da loteria canadense chamava a atenção dos leitores sobre as improváveis opções de ganhar.
No dia 4 de junho, o prêmio da loteria Lotto Max chegou aos 50 milhões de dólares, depois de não ter ganhador. Novamente ninguém ganhou, mas os canadenses gastaram 60 milhões de dólares em bilhetes de loteria, destacava o jornal National Post em 24 de junho.
Uma semana antes de que o sortudo pegasse o prêmio, foram gastos outros 124 milhões de dólares em bilhetes de loteria, em outras tentativas vãs de ganhar.
O artigo explicava que o possuidor de um bilhete de loteria tem uma oportunidade entre 620 mil de ganhar um segundo prêmio, e uma entre 28 milhões de ganhar o prêmio maior.
Os matemáticos citados no artigo diziam que havia mais probabilidade de ser atingido por um raio três vezes ao longo da vida do que ganhar o prêmio, ou tirar 25 vezes seguidas “cara” ao jogar uma moeda.
Os verdadeiros ganhadores
Os únicos e verdadeiros ganhadores do jogo são os governos e aqueles que gestionam os negócios. Com relação aos governos, o Wall Street Journal comentava, em um artigo de 11 de maio, que a recessão forçou os governos estatais – que enfrentaram déficits de recorde – a voltarem aos vícios que geram entradas.
Em Ohio, após anos de oposição ao jogo, abria-se a porta com um cassino que substituirá um terreno automobilístico. Por outro lado, Oakland, na Califórnia, começou a cobrar impostos sobre a maconha médica e outros Estados estão considerando a possibilidade de legalizar a venda da erva. Alguns suavizaram as leis que restringem a venda de álcool aos domingos. Segundo o Journal, cerca de 12 Estados debateram recentemente ou aprovaram tirar as restrições ao jogo.
Depois, existem os clubes e os cassinos. Um artigo publicado no dia 10 de março pelo jornal Sydney Morning Herald descrevia a situação da Austrália.
Os clubes do Estado mais populoso de Nova Gales do Sul admitiram que quase 800 milhões de dólares das suas entradas anuais – cerca de 40% das suas entradas pelas máquinas de pôquer – poderiam vir de jogadores problemáticos, afirmava o artigo.
A preocupação pelos efeitos do jogo levou a um estudo da Australian Productivity Commission, que foi divulgado pelo governo federal no dia 23 de junho.
Os australianos sempre foram aficionados ao jogo, mas, como explicava o informe, a liberalização das leis nos anos 90 levou a um rápido aumento das oportunidades para apostar.
De fato, o gasto total (perdas) registrado na Austrália alcançou pouco mais de 19 milhões de dólares entre 200802009, isto é, uma média de 1.500 dólares por adulto que jogou.
Segundo o informe, para uma população de pouco mais de 21 milhões de pessoas em todo o país, 5.700 hotéis e clubes proporcionam oportunidades de jogar. Da mesma forma, há 4.500 terminais, nos quais as pessoas podem apostar em corridas e esportes. Além disso, existem 4.700 casas lotéricas e 13 cassinos.
As mudanças que seguiram ao relaxamento da lei deram como resultado que a porcentagem de gastos das máquinas de jogo e dos cassinos subisse de 40%, entre 1986-1987, a 75%, entre 2006-2007. Havia 198.300 máquinas de jogo (EGM) na Austrália em 2009, com 97.065 delas em Nova Gales do Sul.
Fonte de entradas
A importância do jogo como fonte de entradas é claramente evidente pelo dados publicados no informe. Os hotéis recebem 28% das suas entradas através do jogo; os clubes, 61%; e os cassinos, 78%.
As entradas anuais por cada EGM foram de cerca de 59.700 dólares, entre 2008-2009. As perdas anuais por cada jogador destas máquinas foram de uma média de 3.700 dólares em Nova Gales do Sul, 3.100 em Vitoria e 1.800 em Queensland.
O aumento do jogo supôs entradas inesperadas para os governos, que agora já confiam nele como uma grande fonte de entradas. As entradas estatais por impostos sobre os jogos foram de 5 bilhões de dólares entre 2008-2009 – 10% de todas as entradas por impostos no Estado. O Estado de Vitoria tem a dependência mais alta desses impostos, com 13%.
Quando se trata dos problemas causados pelo jogo, o informe mantinha que a maioria das pessoas o utiliza como um agradável lazer e que muitas formas de jogo não apresentam grandes riscos.
No entanto, há uma considerável inquietude com relação às pessoas que jogam de maneira regular nas máquinas de pôquer. As máquinas de jogo somam 62% de todo o gasto em jogo. Segundo o informe, cerca de 600 mil adultos jogam pelo menos uma vez por semana. Os dados variam, mas as entrevistas mostram que cerca de 15% deles – 95 mil pessoas – são jogadores com problemas.
Estima-se que isso alcança uma porcentagem de 0,7% a 1,7% de toda a população adulta. Isso pode parecer algo que não exige preocupação e, de fato, o informe observa que alguns na indústria do jogo utilizam isso como argumento de que é um tema de pouca importância.
Mas não é tão trivial, segundo o informe, quando colocado em seu contexto. Somente cerca de 0,15% da população ingressa em um hospital cada ano por acidentes de trânsito e se estima que cerca de 0,2% da população consumiu heroína no último ano. “As porcentagens pequenas de população não significam problemas pequenos para a sociedade”, recordava a comissão.
Efeitos colaterais
Segundo o informe, os danos causados pelos problemas com o jogo incluem suicídio, depressão, ruptura de relações, menor produtividade no trabalho, perda do emprego, falência e crime.
Os resultados de uma pesquisa de 2008 mostram que o jogo é a motivação mais comum para a fraude e que a média de perdas por delito foi de 1,1 milhão de dólares.
Além disso, está o que o informe denomina de “efeitos onda” do jogo problemático. Por cada jogador com problemas, são afetadas outras pessoas, desde os membros da sua família até seus amigos e colegas.
Um estudo recente levado a cabo no Estado da Tasmânia deu como resultado que a metade dos entrevistados disse que conhecia pessoalmente alguém que havia sofrido problemas com o jogo.
Quando se trata de colocar um valor monetário aos problemas do jogo, é difícil de quantificar, admite o informe. No entanto, estimações conversadoras calculam este custo em vários bilhões de dólares por ano.
O informe reconhecia que na última década, os governos introduziram regulamentações que reduzem o impacto negativo do jogo. Ao mesmo tempo, a comissão pedia uma política mais coerente e eficaz.
Entre as medidas sugeridas pelo documento, estava a de reduzir a velocidade com que operam as máquinas de jogo. Se jogam em alta velocidade, é possível perder até 1.500 dólares em uma hora.
Outros passos que poderiam melhorar este tema são: limitar a quantidade de efetivo que os jogadores podem colocar nas máquinas de cada vez; baixar o limite do que se pode apostar em cada vez.
Tirar máquinas das pistas de jogos e impor um limite diário à retirada de fundos nos lugares de jogo também ajudaria alguns jogadores, acrescentava o informe.
As entradas pelo jogo tentam os governos como uma solução fácil para reduzir o déficit orçamentário, mas com um alto preço para muitas famílias e para a sociedade em seu conjunto.
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Fonte: Zenit.org. 18/07/2010
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