Paulo Coelho*
Volto aqui a um dos meus personagens favoritos, o filósofo chinês Confúcio. Acredita-se que viveu entre 551-479 a.C. Algumas obras são atribuídas a ele, outras foram compiladas por seus discípulos. Em um destes textos, Conversas Familiares, existe um interessante diálogo a respeito do aprendizado:
Confúcio sentou-se para descansar, e logo os alunos começaram a fazer perguntas. Naquele dia, o Mestre estava bem disposto, resolveu responder.
— O senhor consegue explicar tudo o que sente. Por que não vai até o imperador e fala com ele?
— O imperador também faz belos discursos, disse Confúcio. — E belos discursos são apenas uma questão de técnica: eles não trazem em si a Virtude.
— Então envie o seu livro Poemas.
— Os trezentos poemas ali escritos podem ser resumidos numa só frase: pense corretamente. Este é o segredo.
— O que é pensar corretamente?
— É saber usar a mente e o coração, a disciplina e a emoção. Quando se deseja uma coisa, a vida nos guiará até lá, mas por caminhos que não esperamos. Muitas vezes nos deixamos confundir, porque estes caminhos nos surpreendem — e então achamos que estamos indo na direção errada. Por isso eu disse: deixe-se levar pela emoção, mas tenha a disciplina para seguir adiante.
— O senhor faz isso?
— Aos quinze anos, comecei a aprender. Aos trinta, passei a ter certeza do que desejava. Aos quarenta, as dúvidas voltaram. Aos cinqüenta anos, descobri que o Céu tem um projeto para mim e para cada homem sobre a face da Terra. Aos sessenta, compreendi este projeto e encontrei a tranqüilidade para segui-lo. Agora, aos setenta anos, posso escutar meu coração, sem que ele me faça sair do caminho.
— Então, o que o faz diferente dos outros homens que também aceitam a vontade do Céu?
— Eu procuro dividi-la com vocês. E quem consegue discutir uma verdade antiga com uma geração nova, deve usar sua capacidade de ensinar. Esta é a minha única qualidade: ser um bom professor.
— O que é um bom professor?
— É o que examina tudo o que ensina. As idéias antigas não podem escravizar o homem, porque com o tempo elas têm que se adaptar e ganhar novas formas. Então, tomemos a riqueza filosófica do passado, sem esquecer os desafios que o mundo presente nos propõe.
— E o que é um bom aluno?
— É aquele que escuta o que eu digo, adaptando meus ensinamentos à sua vida, mas nunca os seguindo ao pé da letra. É aquele que não procura um emprego, mas um trabalho que o dignifica. E por fim, é aquele que não busca ser notado, e sim fazer algo notável.
Provérbios de Confúcio
Para conhecer um homem: veja como ele age, descubra o que ele busca, examine o que o faz feliz.
Quem pergunta, é bobo por cinco minutos. Quem não pergunta, é bobo para sempre.
______________________
*Paulo Coelho é escritor.
Fonte: Correio Popular online, 17/07/2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário