Maria Luisa Nabinger*
Debater o futuro aponta quase sempre para a ideia de uma crise
presente. Os substantivos perdem os significados intrínsecos, gerando,
em consequência, a busca por novas explicações que possam demonstrar a
realidade. Penso não ser outra a intenção de um fórum para discutir O
Futuro das Humanidades.
De fato, quando nos deparamos com a
incapacidade de uma realidade atomizada em bilhões de indivíduos
exclusivos, os quais sucumbiram diante do consumismo de bens duráveis em
detrimento, inclusive, do alimento, o pensamento cognitivo deixa de
questionar sobre os “consumidores ou empregados” (Adorno). A indústria
cultural, que nada tem a ver com a cultura de massa, “reduz a
humanidade, em seu conjunto, assim como cada um de seus elementos, às
condições que representam seus interesses” (Adorno).
Neste
sentido, à hegemonia do sujeito iluminista, ambicionando a libertação
das crendices, dos mitos e dos deuses (Kant), o indivíduo viu-se
arrastado, dialética e paradoxalmente, para a “Fé Racional e Religião na
Sociedade Moderna” (E. Heimann, citado por Ralf Dahrendorf). A tão
aspirada emancipação do sujeito deu lugar a um amálgama positivista,
obstando, epistemologicamente, a compreensão da liberdade e da
emancipação pelos próprios indivíduos.
A Humanitas, ou a
Paidéia para os gregos, viu-se sem interlocutores no tempo presente. Se
nos debatíamos outrora com a crise dos paradigmas, vemo-nos hoje em face
da crise dos indivíduos, cuja capacidade crítica voltou-se tão somente
para a “teoria tradicional”, abortando a “teoria crítica”.
Não é
casual convivermos hoje com a tirania generalizada: desde a sociedade
dos iPod, iPad, tablet, smartphone nos metrôs, ônibus, ruas, e demais
áreas públicas, até a tensão entre os indivíduos tal como “homem lobo do
homem” (Hobbes). Vê-se a escalada de violência tanto com relação à
ameaça que cada um mobiliza no outro quanto o mundo alienado das drogas:
“Desta
forma, a razão, sujeito abstrato da história individual e coletiva do
homem em Kant e Hegel, converte-se, na leitura de Horkheimer e Adorno,
em uma razão alienada que se desviou do seu objetivo emancipatório
original, tranformando-se em seu contrário: a razão instrumental, o
controle totalitário da natureza e a dominação incondicional dos
homens.”. (Freitag, p.35).
À capacidade de argumentação e de
intervenção sobreveio, no presente futuro, a existência de idiotas
especializados em prejuízo, portanto, da “teorização crítica da
realidade (da teoria da estética).”
Referência Bibliográfica
DAHRENDORF,
Ralf. “O Futuro da Liberdade” In: Sociedade e Liberdade. Pensamento
Político. Tradução e Apresentação de Vamireh Chacon. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1981, p. 239-271.
FREITAG, Barbara. A Teoria Crítica: Ontem e Hoje, 3ª. Edição, São Paulo: editora brasiliense, 1990, p. 31-104.
HORKHEIMER,
Max, ADORNO, Theodor W.. “Vida e Obra” In: Textos Escolhidos. Tradução
Zeljko Loparié et al., 5ª. Edição, São Paulo: Nova Cultural, 1991,
p.VIII-XV (Pensadores).
WEFFORT, Francisco C.. Organizador.
RIBEIRO, Renato Janine. “Hobbes: o medo e a esperança” In: Os Clássicos
da Política. São Paulo: Editora Ática, 1993, p. 51-77.
Ver também: http://boitempoeditorial.wordpress.com/2011/08/29/crise-estrutural-do-capital-e-precarizacao-do-homem-que-trabalha/
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* Maria
Luisa Nabinger é professora na Escola de Estudos Políticos, no Centro de
Ciências Jurídicas e Políticas da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro/UNIRIO.
Fonte: http://www.unesp.br/portal#!/debate-academico/crise-de-sujeito
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