terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Crise de sujeito?

Maria Luisa Nabinger*
 
     Debater o futuro aponta quase sempre para a ideia de uma crise presente. Os substantivos  perdem os significados intrínsecos, gerando, em consequência, a busca por novas explicações que possam demonstrar a realidade.  Penso não ser outra a intenção de um fórum para discutir O Futuro das Humanidades.

    De fato, quando nos deparamos com a incapacidade de uma realidade atomizada em bilhões de indivíduos exclusivos, os quais sucumbiram diante do consumismo de bens duráveis em detrimento, inclusive, do alimento, o pensamento cognitivo deixa de questionar sobre os “consumidores ou empregados” (Adorno). A indústria cultural,  que nada tem a ver com a cultura de massa, “reduz a humanidade, em seu conjunto, assim como cada um de seus elementos, às condições que representam seus interesses” (Adorno).

     Neste sentido, à hegemonia do sujeito iluminista, ambicionando a libertação das crendices, dos mitos e dos deuses (Kant), o indivíduo viu-se arrastado, dialética e paradoxalmente, para a “Fé Racional e Religião na Sociedade Moderna” (E. Heimann, citado por Ralf Dahrendorf). A tão aspirada emancipação do sujeito deu lugar a um amálgama positivista, obstando, epistemologicamente, a compreensão da liberdade e da emancipação pelos próprios indivíduos.

    A Humanitas, ou a Paidéia para os gregos, viu-se sem interlocutores no tempo presente. Se nos debatíamos outrora com a crise dos paradigmas, vemo-nos hoje em face da crise dos indivíduos, cuja capacidade crítica voltou-se tão somente para a “teoria tradicional”, abortando a “teoria crítica”.

   Não é casual convivermos hoje com a tirania generalizada: desde a sociedade dos iPod, iPad, tablet, smartphone nos metrôs, ônibus, ruas, e demais áreas públicas, até a tensão entre os indivíduos tal como “homem lobo do homem” (Hobbes). Vê-se a escalada de violência tanto com relação à ameaça que cada um mobiliza no outro quanto o mundo alienado das drogas:

“Desta forma, a razão, sujeito abstrato da história individual e coletiva do homem em Kant e Hegel, converte-se, na leitura de Horkheimer e Adorno, em uma razão alienada que se desviou do seu objetivo emancipatório original, tranformando-se em seu contrário: a razão instrumental, o controle totalitário da natureza e a dominação incondicional dos homens.”. (Freitag, p.35).

   À capacidade de argumentação e de intervenção sobreveio, no presente futuro, a existência de idiotas especializados em prejuízo, portanto, da “teorização crítica da realidade (da teoria da estética).”

 Referência Bibliográfica

DAHRENDORF, Ralf. “O Futuro da Liberdade” In: Sociedade e Liberdade. Pensamento Político. Tradução e Apresentação de Vamireh Chacon. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981, p. 239-271.   
FREITAG, Barbara. A Teoria Crítica: Ontem e Hoje, 3ª. Edição, São Paulo: editora brasiliense, 1990, p. 31-104.      
HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor W.. “Vida e Obra” In: Textos Escolhidos. Tradução Zeljko Loparié et al., 5ª. Edição, São Paulo: Nova Cultural, 1991, p.VIII-XV (Pensadores).
WEFFORT, Francisco C.. Organizador. RIBEIRO, Renato Janine. “Hobbes: o medo e a esperança” In: Os Clássicos da Política. São Paulo: Editora Ática, 1993, p. 51-77.

Ver também:  http://boitempoeditorial.wordpress.com/2011/08/29/crise-estrutural-do-capital-e-precarizacao-do-homem-que-trabalha/
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* Maria Luisa Nabinger é professora na Escola de Estudos Políticos, no Centro de Ciências Jurídicas e Políticas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO.
Fonte:  http://www.unesp.br/portal#!/debate-academico/crise-de-sujeito
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