terça-feira, 6 de agosto de 2013

Desejo e despedida em dois poemas de Aleksandr Púchkin

Berthe Morisot 1879 

Corremos o mundo lendo poesia e por todo o lado encontramos, como factor identitário de humanidade, o canto do amor e seus desacertos. Disso mesmo acabo por ir dando conta ao longo dos tempos nas escolhas que faço para o blog. Hoje vamos até à Rússia do século XIX e ao seu poeta literariamente fundador, Aleksandr Púchkin (1799-1837).

Aleksandr Púchkin (1799-1837) num primeiro poema, quando o amor é avassalador, escreve como 

Queima o sangue um fogo de desejo, / De desejo a alma é ferida,

*
Queima o sangue um fogo de desejo,
De desejo a alma é ferida,
Dá-me os teus lábios: o teu beijo
É o meu vinho e minha mirra.
Reclina para mim a cabeça
Ternamente, faz que eu durma
Sereno até que sopre um dia alegre
E se dissipe a névoa noturna.
[1825]
Tradução directa do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra

Quando acaba, e nunca é abruptamente, como se sabe, — Algumas brasas desse amor estão ainda a arder; —, nem sempre existe a grandeza de alma de que este segundo poema, Eu amei-te..., dá mostras:

Tão terna, tão sinceramente te amei, / Que peço a Deus que outro te ame assim.

Eu amei-te...
Eu amei-te; mesmo agora devo confessar,
Algumas brasas desse amor estão ainda a arder;
Mas não deixes que isso te faça sofrer,
Não quero que nada te possa inquietar.
O meu amor por ti era um amor desesperado,
Tímido, por vezes, e ciumento por fim.
Tão terna, tão sinceramente te amei,
Que peço a Deus que outro te ame assim.

Versão portuguesa de Jorge Sousa Braga

Nota iconográfica

A imagem que abre o artigo é de uma pintura de Berthe Morisot (1841-1895), primeiro, modelo de Manet, e depois sua cunhada. Vivendo de perto o movimento impressionista em França, Berthe Morisot consegue uma individualidade na sua pintura em que a paleta e a pincelada são as marcas distintivas, tanto na delicadeza com que pratica o retrato.
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Fonte:  http://viciodapoesia.wordpress.com/2013/08/06/

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