Dois homens passam diante de uma parede onde está escrito "traidores" e
de cartazes que apelam à greve geral,
em Atenas em novembro de 2012
Nestes anos de crise económica e desmoronamento político, o
fosso entre gerações está a ficar cada vez maior. Mas como será a
revolta da que assistiu ao declínio? É o que se pergunta um dos decanos
da imprensa holandesa.
Atualmente, na Holanda, os desempregados representam 8,9% da força de
trabalho, ou seja, cerca de 675 mil pessoas na força da vida. Não somos
uma exceção. Por toda a Europa Ocidental, cerca de oito milhões de
jovens não têm trabalho nem formação. Há poucos meses, The Economist calculava
que, desde o início da crise, por volta de 2007, o desemprego entre os
jovens, no mundo ocidental, tinha aumentado 30%, atingindo agora 26
milhões de pessoas.
Basta um pouco de bom senso para perceber que isso vai
necessariamente ter consequências. Os dirigentes europeus estão
conscientes disso. A chanceler alemã, Angela Merkel, acredita que o
desemprego entre os jovens é o mais grave problema da Europa e adverte
contra o perigo de uma "geração perdida".
O apelo a uma reação a partir das altas esferas, que se está a tornar
cada vez mais urgente, confirma a gravidade do problema. E leva a
opinião pública a questionar-se sobre as medidas a tomar.
Falta de convicção política
Está previsto um novo programa europeu.
Nos próximos dois anos, a Europa vai desbloquear 8 mil milhões de
euros, para os países mais afetados – Grécia, Espanha e Portugal. O
Banco Europeu de Investimento (BEI) vai ajudar a formar jovens, para
criarem pequenas empresas, etc. Esperemos que estas medidas sejam
eficazes.
No entanto, esta crise não é apenas económica. A Europa Ocidental e
os Estados Unidos sofrem de falta de convicção política. Nenhum partido
nem nenhum dirigente político tem sido capaz de inspirar a maioria do
eleitorado. Obviamente, há muito que a elite política em todo o Ocidente
está a sentir-se desconfortável. As guerras falharam e as populações
apercebem-se, na maioria das vezes, de que a situação económica
continuar a degradar-se. As classes médias estão pessimistas e tornam-se
impacientes. E o cidadão vê as suas opiniões reforçadas a cada dia. O caso de Detroit,
outrora o coração da indústria automóvel mundial, transformada numa
cidade em ruínas e viveiro de criminalidade, é apenas a prova mais
recente.
Esta crise representa, sob todos os aspetos, uma fratura em relação a
um passado próspero e otimista. A questão que se coloca agora é saber
como as novas gerações se vão comportar em tais circunstâncias. Já
conhecemos fossos geracionais. Na história, o mais perturbador foi
realizado pelo Terceiro Reich. Nasceu do revanchismo gerado por uma
guerra mundial perdida, da crise económica dos anos 30, da fraqueza da
República de Weimar e do talento oratório de Hitler.
Sem imaginação
Não é minha intenção fazer avisos anunciando a chegada de um "novo
Hitler". Não é nada disso. Só quero frisar que, na década de 30, também
ele se dirigiu ao povo alemão de uma forma positiva. Veja-se a este
respeito o estudo de Sebastian Haffner, Anmerkungen zu Hitler [Notas sobre Hitler,
sem edição portuguesa]. Hitler relançou a indústria alemã, lutou de
forma eficaz contra o desemprego, independentemente do rearmamento e da
sua política externa. Se teve êxito, foi em parte graças a uma fratura
profunda entre gerações.
Na Holanda, tivemos a experiência recente desse fenómeno. Considero-me uma ilustração disso mesmo.
Na
Holanda, tivemos a experiência recente desse fenómeno. Considero-me uma
ilustração disso mesmo. Era jovem, durante a guerra que terminou com o
Inverno da Fome [durante o último inverno da II Guerra Mundial, a fome
matou mais de 20 mil holandeses]. Após a libertação, vivi o fracasso da
mudança política e o início da guerra com a Indonésia, que se saldou
noutro fracasso e que tinha feito com que enviássemos 150 mil soldados
para o outro lado do mundo.
Depois, o Governo pensou que podia começar a tratar dos assuntos
correntes. Mas não! A primeira prova está no romance de W. F. Hermans, Ik heb altijd gelijk (1951) [Estou sempre certo,
um romance inédito em Portugal, sobre a vida de um soldado holandês que
esteve na Indonésia de 1947 a 1949, quando regressa à Holanda]. Uma
leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em compreender os
mecanismos de um conflito de gerações.
Na literatura, tivemos o grupo Vijftigers [poetas dos anos
50].Seguiu-se o movimento [anarquista e contestatário] Provo, e os
ocupas. Ao longo desses anos, tornou-se claro que a Holanda de antes da
guerra pertencia definitivamente ao passado. Depois, as gerações
cresceram na disciplina da Guerra Fria. E finalmente após 1989, começou
uma nova era.
É impossível prever como se vai apresentar o novo fosso entre as
gerações. Aqueles que tinham dez anos em 1990, como é que vivem a [a
memória da] crescente prosperidade da década de 1990, o declínio
insidioso da década subsequente e, agora, uma crise ainda sem cura? Que
papel desempenha a Comunicação Social para esta geração perdida?
Prepara-se uma nova resistência? Que forma vai assumir? Este tema não é
ideal para uma longa-metragem profética ou um documentário
sociopolítico?
Por vezes, acho que sofremos sobretudo de falta de imaginação. E não estamos sequer conscientes disso.
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Imagem: Bloomberg via Getty Images
Fonte: http://www.presseurop.eu/pt/content/article/4024111-qual-o-destino-da-geracao-perdida 05/08/2013
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