segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O tabu da violência sexual nas universidades brasileiras

Estudantes, da UnB, branquinhos, limpinhos e cheirosos,
achando o estupro superbacana.

Sabem, eu estou de saco cheio da arrogância generalizada quando o assunto é a violência sexual brutal que rola nas universidades brasileiras. Estou de saco cheio de ver a universidade e os corpos docente e discente tratados como imaculados, santos, intocáveis. Saco. Cheio.
Quando falamos em "violência sexual" ou "estupro" em universidades brasileiras, a primeira reivindicação que se faz é "mais segurança nos campi". Reivindicam a iluminação e usam essa bandeira para justificar o controle de entrada em espaços que são, na verdade, públicos; a entrada da polícia militar ou o policiamento extensivo. 
Como se o grande problema da violência sexual nas universidades não fossem os próprios estudantes  e docentes universitários. Como se a grande maioria dos estupros ocorridos acontecesse em lugares ermos, escuros, abandonados, e não em animadas e populosas festas (dentro e fora dos campi), trotes, etc. Como se os estudantes universitários, brancos e embranquecidos*, limpinhos e cheirosos, não cometessem violência sexual. Como se o corpo docente não praticasse violência sexual.
"Violência sexual" é coisa de pobre, de preto, de mendigo, de traficante, de ladrão, de quem não teve acesso à educação formal. Gente que não entra na universidade e que deve mesmo ser barrada para não entrar. Será?
Isso nos leva a pensar o que, então, as pessoas consideram "estupro" ou "violência sexual". Num contexto em que estudantes da UnB acham que "estupro" é uma coisa "bacana", essa reflexão se faz necessária. A nota do Movimento Honestinas explica bem o caso. Pois bem. Entendam de uma vez, companheirxs: "Violência sexual" não é só um ataque de um homem preto e pobre, num lugar ermo, a mão armada.
"Violência sexual" é também aquela forçada de barra no meio de uma pista de dança. É quando passam a mão na sua bunda ou te agarram por trás enquanto você assiste uma banda tocando. É quando você não pode deitar pra descansar, bêbada, durante uma festa, por medo de que alguém te agarre. É quando você precisa trancar a porta do próprio quarto pra dormir, na sua república, se estiver tendo uma festa. É quando você não pode ir sozinha a uma festa. É quando você não pode ir sozinha ao banheiro de uma festa. É quando você tem que insistentemente dizer "não" a um professor que convida pra jantar. É quando você tem que evitar falar sozinha com um professor homem. É quando você não pode ficar sozinha no laboratório. É quando você não está afim, diz que não está afim, e ele dá aquela forçada de barra pra transar. É quando ele não quer colocar camisinha e não te deixa recusar a trepada. É quando se acham no direito de interferir em um beijo entre você e sua namorada. É quando pressionam pra você beijar qualquer pessoa que você não queira. É quando desconhecidos condicionam sua vida social na universidade à simulação de sexo oral. É quando você não pode ficar em paz sozinha, na aula ou pelo campus. É quando assobiam ou passam cantadas, dentro e fora da sala de aula, do laboratório, ou durante festas. É quando um professor insiste em fazer graça com seu corpo, ou dar indiretas privadas ou públicas sobre a roupa que você usa. É quando você não consegue mais se divertir em festas porque não te deixam em paz e insistem que o seu "não" quer dizer "sim". É quando te beijam contra sua vontade.

Preciso mesmo continuar a lista?

O fato é que a questão é urgente. Precisamos ensinar homens e mulheres a reconhecerem a violência sexual. Coibirem essas práticas. Desaprovarem. Criticarem. Seres chatas e chatos de galochas. A violência sexual não pode ser tolerável em nível algum. É importante pararmos de fingir que não vemos, ouvimos, sofremos e vivemos violência sexual em nossas universidades.

Numa busca rápida no Google acadêmico, não encontrei sequer UM artigo com dados sobre violência sexual sofrida nas universidades brasileiras. Nenhunzinho. Isso nos mostra que, além de não reconhecermos essas práticas como violência sexual, considerando que "está tudo bem, já passou", institucionalmente as universidades também estão pouco se lixando para o assunto. Academicamente, não há quem tenha produzido este tipo de pesquisa/levantamento também. Sem a informação, é difícil ou impossível traçar estratégias na luta contra essas práticas no espaço universitário.
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