Átila Bezerra*
Nestes tempos tão confusos, em que muitos buscamos a
Verdade em meio à desordem, onde muitos continuam fazendo ciência e construindo
conhecimento, ideais, objetos, coisas, novidades e, ao mesmo tempo – paradoxalmente
- negando a existência do sentido destas mesmas coisas, na falta de
perspectivas no Futuro com a perda da crença na construção de um novo devir
para a realidade, é preciso mergulhar profundamente em si – olhando e
acreditando ao mesmo na riqueza do encontro com o outro, do outro que há em mim
e do si mesmo que há no outro - e reconstituir em nossas almas a Fé. A Energia
essencial, primordial, mística que nos move para o Bom, para o Bem.
A Fé, a etimologia da palavra aponta na Religião, na Filosofia,
na Linguagem, para a ideia de crença, confiança, fidelidade, lealdade. Coisa
que não conseguimos alimentar facilmente, tamanha a desconfiança que a
estranheza do outro diante de nós nos trás.
Numa época em que as certezas que construímos para
nossos dias se baseiam mais no "ter” do que no "Ser”, como dizem e diziam
nossos sábios professores, mestres, pais, onde os valores estão absolutamente
vinculados ao desejo de consumir, à opulência do possuir, à fugacidade do "Nunc
aut nunquam”, do agora ou nunca mais, das relações efêmeras, dos sonhos
fugazes, do "deletar e esquecer”, o acreditar, o confiar, o ter Fé se tornou
uma virtude que parece, sim, "parece” ultrapassada, démodé, old-fashioned...
Acreditar, confiar, ver além das aparências e ter
lealdade a algo se tornou, definitivamente, virtude. Uma virtude deveras
esquecida, mas que certamente é a centelha esquecida da construção de um novo
mundo.
Mas, isto é preciso: mais do que virtude, também, o "sentimento”
capaz de iluminar caminhos e preencher o vazio que as ausências diárias nos
trazem.
Se por um lado, e isto é importante ressaltar, com
tristeza, são tão absurdas as manipulações feitas com a Fé das pessoas, baseadas
no egoísmo cego, nas megalomanias dos dias de hoje, na afirmação de uma "ética
do capital” acima da humanidade, do todo, o dinheiro como fim em si mesmo,
nutrindo a nossa intolerância cotidiana com o Diferente (talvez o mal do século
XXI), por outro lado é neste mesmo Diferente, nestas identidades aparentemente
opostas, mas absolutamente humanas e iguais às nossas em suas substâncias, em
suas sínteses, que podemos resgatar o valor da Fé em nossas vidas. A Fé sem
Amor ao Próximo não é Fé.
É preciso ter Fé em Deus, no Deus, no Universo, no
Cosmos, no Infinito, na Natureza e em cada um, na humanidade e no homem, na
mudança, na melhoria do mundo, numa reforma profunda das grandes e das pequenas
políticas, na tolerância, na convivência diversa, no respeito ao próximo, na
Paz, na Sabedoria, no Conhecimento, nas Ciências, nas Palavras, na Arte. Por
mais que isso esteja longe dos olhos, é justamente aí onde começa esta
construção, este princípio de ordenamento. Reflitamos sobre a parábola do "grão
de mostarda” do qual falam os Evangelhos Cristãos de Mateus, Marcos e Lucas,
necessário para que nunca morra a nossa natureza de acreditar, de crer, sabendo
que de uma pequena semente é possível nascer todo um mundo novo, da cor da
esperança que foi plantada.
Usando das mesmas palavras em uma conversa que tive com
uma amiga muito amada, que mora em outra cidade amada, falávamos justamente que
mais do que a esperança, debaixo dela mas acima, dando-lhe sustentação, talvez
na constituição da Caixa de Pandora da qual fala a mitologia grega, quem sabe,
no material que a constitui, estivesse a Fé! Porque - pensemos juntos - a
esperança precisa da Fé, todos os nossos medos e sonhos crescem ou não de
acordo com nossa Fé. Todos os remédios contra os males do mundo, espalhados pela
abertura mítica da caixa, estão contidos na Fé no amanhã, em nosso Livre
Arbítrio de abrir os males ou os bens cotidianos como rumo de nossos humanos
passos em direção à resolução de nossos problemas, sejam grandes ou pequenos,
diante dos mistérios do viver e do existir.
Por isso, na essência que compartilhamos, em nosso
amálgama diário de encontros e desencontros, nas nossas escolhas pessoas,
morais, éticas, ideológicas, temos a certeza da centelha da Fé viva nos guiando,
nos movendo, esta sim, uma mão invisível de esperança mais rica, mais profunda,
mais certa do que a do cego, triste e vazio Laissez Faires.
A Fé, em nós mesmos, nos outros, no mundo, nas ideais,
em nossos sonhos, que nos mantém unidos como humanidade, apesar de todas e hoje
mais do que nunca explícitas diferenças. Talvez, quem sabe, se cada um de nós
percebesse primeiramente em si, agora ou depois, mas sem demorarmos, dada a
urgência da Vida em nosso planeta, da necessidade de fortalecimento de nossa
Fé, talvez imediatamente, sem esperar, a certeza tão dúbia no Futuro fosse mais
generalizada. Pois, é nela, na Fé, que Ele permanece Vivo!
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*Jornalista profissional formado pela Universidade Federal do Ceará, com especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem. Mestre
em Comunicação e Linguagens, linha de pesquisa em Mídia e Práticas
Socioculturais, UFC.
Fonte: Adital, 12/08/2014
Imagem da Internet
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