Fabio F. Storino*
Após desafiar os deuses, reza a mitologia grega, Sísifo foi condenado
a carregar eternamente uma pedra até o topo de uma montanha; ao chegar
lá, no entanto, a pedra rolava para baixo, e seu trabalho tinha de
começar novamente do zero. “Trabalho de Sísifo” transformou-se em uma
alegoria ao trabalho sem sentido.
O economista Dan Ariely, frequentemente mencionado nesta coluna,
realizou uma série de experimentos que exploraram a ideia de sentido do
trabalho (ver sua palestra TED).
Em um deles, foram dadas aos participantes peças de Lego para que
montassem um robô, em troca de uma pequena quantia em dinheiro. A tarefa
era repetida, oferecendo-se uma quantia cada vez menor, até que os
participantes não estivessem mais dispostos a fazê-lo – em “economês”,
até quando a receita marginal (o dinheiro) se tornava inferior ao custo
marginal (o esforço).
Inspirada no mito de Sísifo, uma variação do experimento desmontava o
robô recém-montado na frente do participante, enquanto ele ainda
montava o seguinte. Nessa variação, a disposição para montar novos robôs
diminuía significativamente. O propósito do trabalho havia mudado muito
pouco: no experimento original, os pesquisadores informavam que os
robôs seriam posteriormente desmontados e entregues a novos
participantes. Mas quando a desmontagem ocorria diante dos olhos de seu
criador, o impacto deletério sobre sua motivação era nitidamente maior.
Por mais de três anos, o escritor Kevin Roose, autor de Young Money: Inside the Hidden World of Wall Street’s Post-Crash Recruits
(“Dinheiro jovem: Dentro do mundo secreto de recrutas de Wall Street
após a quebra”, em tradução livre) acompanhou a incipiente carreira de
oito jovens funcionários de grandes bancos americanos após o colapso
financeiro de 2008.
Roose observa que Wall Street parece ter perdido seu prestígio entre a
geração Y. Ao final do livro, dos oito jovens, apenas três deles ainda
continuavam no mundo das finanças, e apenas um se mantinha satisfeito
com seu trabalho. Na pesquisa de 2011 que cita no livro, as empresas
mais desejadas por recém-graduados são aquelas do Vale do Silício, onde,
entendem, está se criando algo de valor. O banco mais bem colocado
aparecia apenas na 41ª posição do ranking – na listagem de 2014, entretanto, eles voltam a aparecer já na 5ª e 9ª posições.
O resultado não parece advir da falta de recompensa interna – os
bônus de Wall Street já retornaram aos níveis pré-crise –, mas da
diminuição do reconhecimento social sobre o valor criado por esse
segmento da economia. Isso pode ser uma boa notícia para aqueles que
defendem um desenvolvimento mais sustentável: a noção de atividades que
“destroem” valor mais do que criam pode afastar novos talentos dessas
atividades, dificultando sua continuidade, ainda que a longo prazo.
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*Fabio F. Storino é doutor em Administração Pública e Governo
(Página 22)Fonte: http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/o-sentido-do-trabalho/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje
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