sábado, 3 de janeiro de 2015

A PUBLICIZAÇÃO DA INTIMIDADE

TATIANA BLOCHTEIN*

A intimidade é ingrediente fundamental para qualquer relacionamento afetivo. É base da amizade e do amor. Na relação de duas pessoas, envolve o olhar, o toque, a expressão de sentimentos. É aceitar a solidão e o silêncio do outro, ler seus olhos, lábios e mãos. Envolve afinidade e empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro.

E a publicização? Nas relações virtuais na hipermodernidade que caracterizam o contexto da internet, a publicização oferece a intimidade, através de dados reais ou falsos. Acrescenta uma nova dimensão aos prazeres, através da velocidade, liquidez, imediatismo e anonimato. Houve um afrouxamento na expressão das relações pessoais, no campo social e amoroso.

A satisfação rápida do desejo tornou-se uma imposição! O ter sobrepõe-se ao ser, o que provoca ilusões que podem vir a ser patologizantes. Quando lidamos com o outro na rede, e não ao vivo e a cores, imaginamos subjetivamente este outro, que elegemos como um objeto de desejo. Mas, se não há presença, não podemos falar em amor real.

Até onde vão os benefícios e os malefícios desta ferramenta hipermoderna?

Muitas vezes, a solidão prevalece no contato virtual, e são evitados encontros reais. No filme O Divã, do livro homônimo de Martha Medeiros, há uma cena em que a personagem se apaixona por um homem através de um chat. Porém, quando ela pede que ele abra a webcam, aparece um cartaz com as palavras: “Você é tudo o que eu sonhei! Pena que os sonhos não sejam reais”.

Assim, a pessoa cria um mundo irreal, que, muitas vezes, substitui as relações reais. O uso do virtual, que utiliza a publicização da intimidade na rede, pode ser perigoso. O preço disso é, muitas vezes, altíssimo, já que, quando o real é mostrado, o virtual desaparece completamente.

A internet é uma ferramenta fantástica, que traz até nós informações e notícias sobre atualidades, cultura, cinema, música... pesquisas sobre os mais diversos temas. Permite-nos manter contato a distância via Facebook e Skype, com pessoas com as quais temos intimidade, afinidade, respeito e amor.
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*Psicóloga, membro da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)
Fonte: ZH online, 03/01/2014
Imagem da Internet

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