Depois de três anos de trabalho, engenheiros da Intel criaram a nova cadeira de rodas conectada
com a qual Hawking poderá comunicar seu gênio. / INTEL
Um sistema desenvolvido pela Intel permite ao cientista transmitir seus pensamentos mais rápido e realizar tarefas cotidianas em um décimo do tempo
Os pesquisadores de patologias motoras terão livre acesso à plataforma
Se não fosse a tecnologia, as ideias do cientista mais brilhante da
atualidade teriam ficado encerradas em sua cabeça. Acometido de uma
doença que o deixou praticamente paralisado, o físico Stephen Hawking
poderá, a partir de hoje, comunicar seus pensamentos e realizar tarefas
cotidianas muito mais rápido graças à nova cadeira que a Intel
desenvolveu para ele. O protótipo servirá de base para uma plataforma
aberta a todos os que pesquisam meios de melhorar a vida dos portadores de tetraplegias e patologias motoras de origem neurológica.
Hawking estreou sua nova cadeira em um ato celebrado na manhã de terça-feira em Londres. O físico britânico, que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA)
desde os tempos de faculdade, poderá agora transmitir seus pensamentos
com maior rapidez e realizar algo tão simples e essencial para ele como
navegar na Internet em um décimo do tempo que levava na cadeira
anterior.
Tanto o equipamento velho, que Hawking usou nas últimas duas décadas
para se movimentar e se comunicar, como o novo são obra de engenheiros
da Intel. Mas em questões de tecnologia, o tempo, esse fenômeno que
tanto interessou ao genial físico, passa depressa demais e sua cadeira
de sempre ficou antiquada e incapaz de aproveitar todos os avanços
alcançados nos últimos anos.
A medicina não foi capaz de me curar, por isso dependo da tecnologia para poder me comunicar e viver”, diz Stephen Hawking
Com a nova cadeira, por exemplo, o sensor que atualmente tem na
bochecha é detectado por um computador infravermelho montado em seus
óculos, o que permite a ele selecionar caracteres em seu computador. A
integração da tecnologia de software linguístico da companhia britânica
SwiftKey, um aplicativo de texto inteligente, melhorou a capacidade do
sistema para aprender com o professor, predizendo seus próximos
caracteres e palavras.
Durante dois anos, engenheiros do Swiftkey trabalharam em um modelo
de linguagem personalizada para Hawking. Em essência o sistema é similar
ao do aplicativo para celulares. Aprende com o que já foi escrito em
e-mails, mensagens ou posts em redes sociais para completar as palavras.
No caso do físico britânico, a aprendizagem foi feita incluindo textos
que o físico não publicou.
Segundo uma nota da Intel, com esse sistema, Hawking precisa escrever
menos de 20% do total de caracteres comunicados. Até agora, por
exemplo, para realizar uma busca na internet, o professor Hawking
precisava seguir processos árduos, como fechar sua janela de
comunicação, mover o cursor para abrir o navegador, movê-lo de novo à
barra de busca e, por último, escrever os termos da busca. O novo
sistema automatiza todos esses passos.
“A medicina não foi capaz de me curar, por isso dependo da tecnologia
para poder me comunicar e para viver”, dizia o professor Hawking em
Londres já instalado em sua nova cadeira.
A plataforma foi batizada pela Intel como ACAT (sigla em inglês de
Ferramentas Auxiliares Conscientes do Contexto). O projeto foi
desenvolvido em três anos por uma equipe multidisciplinar de
pesquisadores da Intel Labs, com a cooperação do próprio Hawking.
“Durante décadas, o professor Hawking se valeu da tecnologia para
poder comunicar-se com o mundo. Entretanto, para estabelecer uma
analogia, seu antigo sistema era como tentar utilizar aplicativos e
sites modernos sem teclado nem mouse”, diz Wen-Hann Wang,
vice-presidente da Intel e diretor executivo da Intel Labs. “Juntos,
criamos uma experiência de comunicação superior em todos os níveis, que
contribui para manter o professor independente em sua vida diária e que
pode chegar a aumentar a independência de outros portadores”,
acrescentou.
Plataforma aberta a todos
O físico britânico é o primeiro a contar com o ACAT, mas a intenção
da Intel é que a plataforma seja aberta em janeiro a todos os
pesquisadores e tecnólogos que trabalham no campo da deficiência.
Mais de 3 milhões de pessoas em todo o planeta sofrem de lesões e doenças motoras de origem neurológica.
Estas patologias afetam as atividades musculares voluntárias, como as
capacidades de falar, andar, deglutir e realizar todo tipo de movimentos
corporais.
A partir do ano que vem, o software ACAT estará disponível para que
os pesquisadores possam criar soluções personalizadas para interações e
comunicação mediante o tato, piscadas, movimentos de sobrancelhas e
outros gestos.
Embora a deficiência nem sempre tenha estado na lista de prioridades
de muitas empresas de tecnologia, durante a apresentação do novo
equipamento, a principal responsável pelo projeto do ACAT na Intel Labs,
Lamba Nachman, recordou que “o âmbito das tecnologias para deficientes
é, com frequência, um campo de testes para as tecnologias do futuro”.
--------------------
Reportagem por
Miguel Ángel Criado
Fonte: El Pais, acesso 02/01/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário