Hoje, mesmas elites que fomentaram guerras, xenofobias e insanidades
que redundaram na capitalização de jovens nativos europeus com
tendências perversas e destrutivas por parte de facções terroristas tem a
cara-de-pau ao ficar “abraçadinhos” em praça pública em meio a desgraça
acometida com a chacina dos jornalistas e cartunistas da Charlie Hebdo.
Em meio à comoção do atentado à redação da revista francesa Charlie
Hebdo, uma manifestação histórica estimada em quase quatro milhões de
pessoas contra o fantasma criado pelas próprias elites europeias e
estadunidense, a “islamofobia”, ocorreu neste domingo, 11 de janeiro, em
Paris e arredores.
É bom recordarmos que partidos de centro-direita com ares fascistas,
sob a forma de uma onda conservadora reacionária, vem inflamando ódio
nas ruas, no submundo do pseudo-jornalismo e nas redes sociais, nos
últimos anos, contra tudo que seja não-europeu, hostilizaram povos,
religiões e nações em meio a uma gravíssima crise econômica engendrada a
partir do final da primeira década de 2000. Não existe mistério quando
há dilemas entre a fabricação de pão ou canhões e, por sua vez, a
escassez de recursos para ambos. A prática política vem de mãos dadas
com a economia imediata, portanto, com a rarefação da pujança econômica e
nível de desemprego preocupante (uma das raízes imediatistas da
crescente xenofobia dos brancos europeus), os governantes europeus
deixaram de lado os constrangimentos eleitorais e partiram para adoções
de políticas neoliberais diluindo o “welfare state” europeu, a política
de bem-estar social tocada pelo modelo da social-democracia (levando em
conta as pressões dos partidos de esquerda e sindicatos organizados de
diferentes categorias de trabalhadores).
O coro dos abutres ecoou, vicejando o pragmatismo e o sentido
umbilical do auto-interesse que tomou conta do imaginário popular
europeu após a desconstrução dos tempos de sonho do “welfare state”. O
momento foi capitaneado pelos partidos mais extremos do espectro
político, canalizando a insatisfação popular e, do outro lado, as
esquerdas progressistas cada vez mais imóveis e fragmentadas (muitas
vezes, chafurdadas em antros de corrupção e descrédito eleitoral). Neste
sentido, os próprios eleitores franceses conduziram ao poder o partido
de extrema-direita, o famigerado fascista “Frente Nacional”, de
Jean-Marie Le Pen e sua filha Marine, com considerável número de
cadeiras no Parlamento Francês. Como uma espécie de catalizador visceral
de insatisfação imediatista e narcísica, a cada eleição a Frente
Nacional vem se consolidado como grupo político de forte adesão dentro
da sociedade francesa.
Soluções mágicas e imediatistas são especialidades natas de grupos de
extrema-direita e fascistas para ludibriar partes de uma multidão
desconcertada e pontualmente sedenta para achar “culpados” pela própria
derrocada material. Na crise, nada melhor que culpar o “outro”, ou seja,
nada tão simplório e catastrófico. Nada é tão inocente ao ponto de
fazer crer que tudo é obra do acaso e do “Grande Mal” que tais grupos de
irracionalidade fascista tentam personificar na religião do Islamismo
em meio a mais uma crise sistêmica da maquinaria capitalista mundial.
Vale ressaltar que os ataques partiram de dentro
do seio social
francês, cujos membros executores
do atentado a revista foram cooptados
na liturgia insana do terror niilista e a falta de horizonte perceptível
dentro da própria sociedade francesa.
Hoje, mesmas elites que fomentaram guerras, xenofobias e insanidades
que redundaram na capitalização de jovens nativos europeus com
tendências perversas e destrutivas por parte de facções terroristas tem a
cara-de-pau ao ficar “abraçadinhos” em praça pública em meio a desgraça
acometida com a chacina dos jornalistas e cartunistas da Charlie Hebdo.
Vale ressaltar que os ataques partiram de dentro do seio social
francês, cujos membros executores do atentado a revista foram cooptados
na liturgia insana do terror niilista e a falta de horizonte perceptível
dentro da própria sociedade francesa. Depois de Charlie, uma onda de
ataques vem sendo verificadas no solo francês de forma difusa em meio a
um antagonismo plasmado entre “pró” e “anti” muçulmanos colocando o país
em estado de segurança máxima. A midiática dispersão da histeria do
“medo do outro”, no caso, o “temor muçulmano” é a ponta do iceberg de
uma série de fatores que vão desde interesses econômicos dos grandes
grupos capitalistas às políticas sociais fracassadas e medíocres.
Diante da crise, a Europa ficou “pequena” para sustentar todo o custo
social do lamaçal que se meteu adotando, cada vez mais, medidas
desestruturantes neoliberais. A hipocrisia é a rainha da mentira e da
falsidade. O grupo político que sustenta a União Europeia goza de uma
avassaladora hipocrisia que apenas tenderá a aumentar a dispersão dos
ódios e recalques racistas e xenófobos na França, e por extensão, toda a
Europa. Se existem grupos e células terroristas espalhadas pelo mundo, é
necessário ressaltar a responsabilidade das Grandes Potências que foram
(e continuam sendo) direta ou indiretamente responsáveis por suas
criações, manutenções e dispersões pelo globo. De forma circense, hoje
em Paris, estas mesmas lideranças se abraçam perante os holofotes
midiáticos e fingem que não sabem de nada e que nada é de suas
responsabilidades.
A tática do “quanto pior, melhor” e a “judeufobia” foi praticado pelo
grupo liderado por Hitler no seu Partido Nazista entre os anos 1920 e
1930, quando em 1933, assume o poder de fato na Alemanha e,
posteriormente, deflagrou a continuação mais sanguinária da Primeira
Grande Guerra. Apostar no medo e na irracionalidade social é o
passaporte assegurado para a barbárie que tanto a Europa provou seu
trágico odor. Histórias macabras como o atentado a Charlie Hebdo estará
longe de terminar e apenas colocam mais pólvora no barril armado pela
crise estrutural no coração do histórico capitalismo mundial, o Velho
Continente, e cujo mote, atualmente, é a falsa armadilha do apocalipse
hollywoodiano entre Ocidente e Oriente. Neste jogo idealista senil, é a
arma que os fascistas estão ansiosos para recolocarem o mundo em mais
uma insana corrida armamentista e banho de sangue gratuito contra as
populações mais frágeis. A História não é cíclica, mas é recheada de
fatos e circunstâncias similares com resultados catastróficos.
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* WELLINGTON FONTES MENEZES é
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP);
Bacharel e Licenciado em Física pela Universidade de São Paulo (USP);
Professor Universitário e da Rede Pública do Estado de São Paulo.
E-mail: wfmenezes@uol.com.br Blog: www.wfmenezes.blogspot.com.brFonte: https://espacoacademico.wordpress.com/2015/01/14/o-fim-do-welfare-state-e-o-terror-um-show-de-hipocrisia-em-meio-aos-atentados-em-solo-frances/
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